Inteligência política

Inteligência política

      Ao longo das últimas eleições, nossos candidatos a prefeito, quando hábeis, expuseram suas propostas de governo. Houve generalidades, propostas utópicas e elementares. Filtrados os candidatos, os dois que restaram tentaram, o mais habilmente possível, debater suas propostas para os próximos quatro anos. De um lado, a candidata, manipulando as emoções dos eleitores, tentou revelar que Ribeirão precisa dar continuidade e fluxo às políticas públicas que vêm sendo ultimamente realizadas. Em essência alegou que qualquer mudança poderia ser, virtualmente, prejudicial. O novo seria ineficaz. Por outro lado, o candidato fez uso da importância e do papel da competência da governança para se alcançar um desenvolvimento mais rápido e pleno do município. Em essência, advogou que Ribeirão Preto precisa ser administrado com a cognição e não com a emoção, visando realizar mais com menos recursos financeiros e pessoais.

            Interessante essa dicotomia entre razão e emoção. A mesma fez com que eu me lembrasse, imediatamente, do livro de António Damásio acerca do erro de Descartes, bem como, dos debates atuais acerca das teorias da inteligência, divididas na ênfase do componente cognitivo-emocional. Daí a idéia de inteligência geral e inteligência emocional.

            Sinceramente, não vi no debate, e acredito que os meus fiéis leitores também não, uma apresentação harmônica e bem elaborada de uma matriz de políticas públicas, a qual deve, no meu entender, envolver quatro dimensões: complexidade, rapidez de execução, alcance social e durabilidade, mediadas pelo tipo e quantidade de orçamento e pela natureza dos recursos financeiros e humanos. Explico. Os ditos problemas de Ribeirão Preto, nas esferas da saúde, educação, segurança, transporte e estruturais (água, esgoto etc), podendo ser classificados em três tipos de complexidade: baixa, alta e moderada. Para ilustrar, saúde e educação podem ser considerados de elevada complexidade por envolverem soluções estruturais e humanas. Quero com isso afirmar que, pelas propostas apresentadas pelos dois brilhantes adversários, tais complexidades não serão solucionadas nem nas próximas gerações. Por que? Porque ambos esqueceram que o ator principal no processo de cuidar da saúde é o próprio paciente, ou seja, quanto mais preventivamente inteligente o paciente, menos problemas de saúde. Logo, a solução é...

            A segunda dimensão, rapidez de execução, considera que algumas políticas, ou soluções, de nossos problemas podem ser executadas em curto, médio e longo prazos. Por exemplo, problemas que envolvem o homem usualmente demandam soluções longas, haja vista que, mudanças de atitude demandam tempo para ocorrer, pois além da atitude, o comportamento deve ser mudado. Atitude é uma coisa. Comportamento é totalmente outra. A terceira dimensão é o alcance social das propostas, o que significa que algumas propostas visam a segmentos mais desfavorecidos e outras aos mais afluentes da sociedade. Supostamente, todos pagam impostos e têm necessidades diferenciadas. Importa que a política pública acionada deve alcançar o maior número possível de cidadãos. Ou seja, deve ser uma política pública que otimize alcance social e recursos financeiros. Um exemplo são as propostas educacionais. Uma reforma educacional qualquer deve necessariamente ter alcance social em todas as camadas sociais que dela usufrui, bem como, impactar toda a sociedade municipal.

            Finalmente, a última dimensão é a durabilidade. Nesse vetor, qualquer política pública deve ser duradoura e principalmente persistir mesmo quando a política pública deixar de ser aplicada. Entende-se por isso que a política pública deve ser duradoura e generalizada para uns e domínios que não ela própria para outros. Por exemplo, quanto maior o tempo de escolaridade, maiores devem ser as aplicações do uso inteligente do conhecimento para os cuidados da saúde e bem-estar subjetivo da população como um todo. Assim considerando, a partir desta matriz de política públicas, pode-se estabelecer um conjunto de ações prioritárias, as quais poderão ser desencadeadas considerando-se o tipo de orçamento (municipal, estadual e federal), bem como, a natureza dos recursos humanos efetivamente existentes no município. A essência é simples: governar é otimizar recursos financeiros e humanos, com ambos mediados pela inteligência do governante.

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