INTELIGÊNCIA SOCIAL E EMOCIONAL

INTELIGÊNCIA SOCIAL E EMOCIONAL

A Inteligência humana tem sido definida e estudada de diferentes formas. Em sua forma mais familiar, inteligência denota as habilidades individuais para aprender e raciocinar, indicando que diferentes indivíduos têm diferentes aptidões, capacidades e habilidades cognitivas. Subjacentes a esta definição estão as noções psicométricas de testes de inteligência, quociente intelectual, inteligência geral (fator g), mensuração da inteligência e outras similares. Neste caso, a inteligência é unitária, essencialmente hereditária e não pode ser alterada por processos de aprendizagem. De outro lado, há também a concepção de que existem múltiplas formas de inteligência. Neste sentido, a inteligência, definida num sentido bastante amplo, consiste na habilidade ou na capacidade para solucionar problemas ou confeccionar produtos valorizados dentro de diferentes culturas. Exemplos destas formas variadas de inteligências são: verbal/linguística, lógico/matemática, corporal/cinestésica, espaço/temporal, naturalística, musical, interpessoal e intrapessoal.

 Definição de inteligência emocional

Recentemente uma outra dimensão da inteligência tem emergido tanto na literatura popular quanto na literatura científica: a Inteligência Emocional ou Quociente Emocional (QE). De fato, o conceito de inteligência emocional é um produto de dois mundos. Um é o mundo da cultura popular refletida nos livros best-sellers, revistas populares e jornais diários. O outro é o mundo das revistas científicas, capítulos de livros e comentários especializados. A maioria das pessoas tornou-se familiar com o termo inteligência emocional através do livro, agora bastante popular, escrito por Daniel Goleman, em 1995, ou mesmo por meio de cursos de  (in) formação geral, artigos em jornais diários e programas de televisão que se tornaram comuns após o lançamento deste best-seller.  Para a Time Magazine, a inteligência emocional pode ser o melhor preditor do sucesso na vida. De fato, quando esta revista colocou em sua capa a seguinte questão: Qual é o seu QE?, e afirmou: ele não é o seu QI e nem é um número, mas é o melhor preditor do sucesso na vida, ela na realidade questionou o que significa ser inteligente.

De acordo com o livro "Inteligência Emocional",  as evidências sugerem  que esta forma de inteligência é tão poderosa e muitas vezes mais poderosa que o QI, e fornece vantagens em qualquer domínio da vida.  Tais chavões populares e o entusiasmo que eles carregam , podem induzir as pessoas a esquecerem o que a literatura científica tem a dizer sobre o conceito de inteligência emocional. Vamos analisar este conceito dentro do quadro geral das teorias da inteligência e quando possível comparar com o entendimento científico com o popular.

Os estudos acerca da inteligência emocional  começaram a aparecer em artigos acadêmicos no início da década de 90. No meio daquela década, o conceito atraiu considerável atenção popular e diversas afirmações foram feitas a respeito de sua importância em predizer o sucesso profissional. A inteligência emocional é diferente da inteligência acadêmica-inteligência analítica ou seja, aquela forma de inteligência composta por habilidades cognitivas que podem ser avaliadas por testes de inteligência que apresentam problemas bem-definidos e que têm uma única resposta certa. A inteligência emocional foi inicialmente entendida como inteligência social e definida como a habilidade de compreender situações sociais e de se conduzir com sucesso. Posteriormente, ela foi mais bem definida como a capacidade para lidar com emoções em quatro áreas: perceber e expressar emoções, assimilar e integrar emoções no pensamento, compreender e raciocinar com emoções, e regular e manipular as suas próprias emoções bem como aquelas de outras pessoas, em diferentes contextos.

Em resumo, a inteligência emocional envolve a habilidade para monitorar as suas próprias emoções e as emoções de outros, para discriminar entre os diferentes tipos de emoções e também, a capacidade para usar as informações sobre as diferentes emoções com o objetivo de controlar e orientar o seu próprio pensamento e as suas ações. A inteligência emocional  inclui as inteligências interpessoal e intrapessoal propostas na Teoria das Inteligências Múltiplas, de Gardner, e incorporam habilidades que podem ser categorizadas em cinco domínios: auto-consciência (capacidade de observar a si próprio e reconhecer um sentimento tal como ele ocorre), regular emoções e sentimentos (manipular sentimentos de modo que eles sejam apropriados; compreender as razões de um sentimento; encontrar meios de manipular o medo, a ansiedade, a raiva e a tristeza), auto-motivação ou auto-controle (canalizar as emoções em direção a um objetivo, auto-controle emocional, capacidade de adiar a gratificação na busca de grandes recompensas em vez de se deixarem dominar por seus impulsos), empatia (sensibilidade frente aos sentimentos dos outros, habilidade em administrar bem os seus conflitos e em apreciar os diversos sentimentos que as pessoas têm em relação às diferentes coisas, objetos ou eventos) e manipulação de relações interpessoais (manipulação de emoções de outros, competência social e habilidades sociais).

 Dimensões da inteligência emcional

Baseados em pesquisa de campo ou em pesquisas realizadas em ambiente natural (mundo real), pesquisadores têm extraído outras dimensões ou componentes importantes   do constructo psicológico de inteligência emocional e muitos deles têm sido usados para defender a idéia de que a inteligência emocional explica por quê algumas pessoas parecer ser mais emocionalmente competentes do que outras. Alguns destas dimensões são: autoconsciência (observar-se e reconhecer os próprios sentimentos; formar um vocabulário para os sentimentos; saber a relação entre pensamentos, sentimentos e reações); tomada de decisão pessoal (examinar suas ações e conhecer as conseqüências delas; saber se uma decisão está sendo governada por pensamento ou sentimento), lidar com sentimentos (monitorar a conversa consigo mesmo para surpreender mensagens negativas como repreensões internas; compreender o que está por trás de um sentimento; encontrar meios de lidar com medos e ansiedades, ira e tristeza), lidar com tensão (aprender o valor de exercícios e métodos de relaxamento), empatia (compreender os sentimentos e preocupações dos outros e adotar a perspectiva deles; reconhecer as diferenças no modo como as pessoas se sentem em relação a fatos e comportamentos)., comunicações (falar efetivamente de sentimentos; tornar-se um bom ouvinte e perguntador; distinguir entre o que alguém faz ou diz e suas próprias reações ou julgamento a respeito; enviar mensagens do "eu" em vez de culpar), auto-revelação (valorizar a franqueza e construir confiança num relacionamento; saber quanto é seguro arriscar-se a falar de seus sentimentos), intuição (identificar padrões em sua vida e reações emocionais; reconhecer padrões semelhantes nos outros), auto-aceitação (sentir orgulho e ver-se numa luz positiva; reconhecer suas forças e fraquezas; ser capaz de rir de si mesmo), responsabilidade pessoal (assumir responsabilidade, reconhecer as conseqüências de suas decisões e ações; aceitar seus sentimentos e estados de espírito; ir até o fim nos compromissos), assertividade (declarar suas preocupações e sentimentos sem ira nem passividade), dinâmica de grupo (cooperação; saber quando e como conduzir e ser conduzido) e solução de conflitos (saber lutar limpo com outras pessoas; adotar o modelo vencer/vencer para negociar acordos).

 A mensuração da inteligência emocional

A inteligência emocional tem sido investigada a partir da mensuração isolada de cada uma destas dimensões ou domínios que a compõem. Algumas tarefas envolvem a habilidade das pessoas para identificar diferentes emoções em expressões faciais e também para identificarem um conjunto de simples emoções as quais, quando combinadas, assemelham-se a um sentimento mais complexo. Todavia, até o momento, e ao contrário dos testes conhecidos que medem o QI, não há ainda escalas completamente validadas para mensurar a inteligência emocional, de forma que problemas psicométricos acerca da validade e da fidedignidade (precisão/confiabilidade) relativos a estas escalas freqüentemente dificultam a interpretação dos resultados neste campo de pesquisa. Infelizmente, muitos pesquisadores ou usuários do conceito de inteligência emocional estão utilizando estas escalas ou mesmo questionários sem antes conhecer se elas são boas ou não (válidas ou fidedignas do ponto de vista psicométrico) e, portanto, freqüentemente fazem significantes conclusões acerca dos graus de inteligência emocional sem se basearem em instrumentos de medidas robustos.  Recentes achados, publicados na revista “Intelligence”,  têm, entretanto, sugerido que a Inteligência Emocional pode ser confiavelmente mensurada , existe como uma habilidade unitária e é relacionada, mas é independente, da inteligência psicométrica (fator g).

 A importância da inteligência emocional

A inteligência emocional tem se constituído num constructo psicológico importante porque os cientistas sociais têm exatamente começado a descobrir a estreita relação existente entre ela e outros fenômenos psicológicos, tais como: a liderança, o desempenho grupal,  o desempenho individual, as relações interpessoais e sociais, a manipulação de mudanças de atitudes e as avaliações de desempenho pessoal, profissional e institucional. Inteligência emocional é, portanto, uma habilidade (simples ou composta) que ajuda as pessoas a se harmonizarem e que se tornará num futuro próximo extremamente valorizada no contexto da psicologia social das organizações do trabalho.

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