
Inventário breve de dor
A avaliação da dor é essencial para o estudo de seus mecanismos, bem como, para análise de quais intervenções modelam a sensação dolorosa, Várias medidas consideram a dor como composta apenas por sua dimensão sensorial, ou seja, variando em intensidade. Todavia, considerar somente a dimensão sensorial da dor e ignorar seus componentes afetivos, cognitivos e motivacionais é olhar uma parte do problema.
A percepção de dor é determinada pelas experiências de cada pessoa, bem como, pela capacidade dela entender suas causas e compreender tais experiências. Ademais, a cultura em que a pessoa está inserida tem papel importante em como ela sente e responde à dor. Por isso, a avaliação da dor continuamente desafia pesquisadores e clínicos.
Na tentativa de se fazer uma avaliação mais ampla da experiência dolorosa, vários indicadores são utilizados em contextos clínicos, incluindo medidas comportamentais, dados observacionais, descritores ou palavras referentes à dor e, também, como a dor interfere nas atividades cotidianas. Portanto, o sucesso de um tratamento da dor requer uma avaliação global, com instrumentos que sejam práticos, culturalmente sensíveis e psicometricamente válidos e fidedignos.
Nesse contexto, o Inventário Breve de Dor criado, em 1983, com o propósito de facilitar o diagnóstico, é um instrumento de fácil aplicação e compreensão por parte dos pacientes. Ele consiste numa série de questões que capturam aspectos da dor vivenciada ao longo das últimas 24 horas (por exemplo, localização, intensidade, impacto sobre a vida do paciente, tipo e eficácia de qualquer tratamento). Ele requer no máximo 4 minutos para ser completado, é útil para uma variedade de populações e pacientes, envolve respostas dicotômicas, questões abertas e uma escala de 11 categorias apropriadas para avaliar a intensidade e grau de interferência causado pela dor. Na escala de intensidade de dor de 0 a 10, zero indica “nenhuma dor” e dez “a pior dor imaginável”. Na escala para referente à interferência, zero é ”sem qualquer interferência” e dez indica “interferência total”.
Embora recente, o instrumento foi adaptado para populações de diferentes países, tais como, Inglaterra, Vietnã, França, Filipinas, China, Líbano, México, Itália, Japão, Alemanha, Tailândia, Índia, Grécia, Noruega, Espanha, Coréia, Rússia, Taiwan e Austrália. No Brasil, recentemente, numa tese de doutorado apresentada ao Programa de pós-graduação em Psicobiologia, este instrumento foi adaptado para uma grande amostra de pacientes com câncer. Os resultados mostraram que a versão brasileira do instrumento é válida e fidedigna e, portanto, pode ser usada para avaliar, mensurar e controlar, de forma prática e confiável, a dor nesta população.