Jacinto: o médico das letras

Jacinto: o médico das letras

            É fácil constatar que estudar medicina é privilégio de alguns poucos. Isto por várias razões. Primeira, a profissão é quase um sacerdócio, requerendo abnegação de quase 24 horas ou ocupando dia e noite. Segunda, entrar numa Faculdade de Medicina requer um conhecimento profundo de Ciências Básicas, em Física, em Química, em Biologia e, também, uma alta habilidade cognitiva na escrita e na leitura. Corrobora isso o fato de, nos vestibulares mais concorridos, nos últimos anos, estarem havendo de 40 a 100 candidatos por vaga, além de uma nota de corte extremamente elevada. Chego a brincar com meus alunos que, se um teste tem 100 questões a serem acertadas para admissão numa escola médica, os alunos precisam acertar 102. Terceira, de um estudante em Medicina requer-se alta inteligência e níveis elevados de habilidades específicas em matemática, ciências, leitura e escrita. Como a razão de seleção em Medicina é elevada, níveis baixos nessas atividades levam certamente ao fracasso na escolha da carreira médica. Portanto, estudos têm mostrado que há uma íntima correlação entre sucesso nesta profissão e inteligência.

            Nelson Jacinto, da terra forte de Barretos, não foge à regra. Formando-se em Medicina pela excelente Universidade de São Paulo, no Campus de Ribeirão Preto, nela também especializando-se em Ortopedia e Traumatologia, dele é o recente livro “Postura é fundamental” (Usina de Letras, 2011), no qual o autor destaca a importância da boa postura e de exercícios para mantê-la. Além disso, humanista que é, não restringe sua consulta ao relato do paciente e aos exames que este venha a fazer: é um processo de ensino-aprendizagem, no qual, com informações simples, e desenhos explicativos, ele ensina a postura apropriada para o paciente, mostrando como podemos corrigi-la para angariar uma vida mais saudável no presente e no futuro. Só por isso Jacinto já seria especial. Mas ele foi além: tornou-se o médico das letras.

            Dentre suas inúmeras especializações, chama-me a atenção sua dedicação à escrita. Sua habilidade para escrever vem do tempo de ginasiano, atual ensino fundamental, e, fomentada e aprimorada ao longo do tempo, reflete seus divertimentos, relações, humores, reflexões e história pessoal. No outono dos seus dias, tem 10 livros publicados, incluindo, poesias, romances, contos para adultos e infantis, além de participação em mais de 40 antologias.

            Em “As histórias do Dr. Euzélio”, páginas que narram acontecimentos do século passado e do século XX, o autor reflete talvez sua própria vida na época áurea do café, onde tudo era escasso, menos sua vontade de servir e dar assistência médica. Jacinto é assim: um médico de corpo e alma. Das palavras e para as palavras

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