
Jorge Pires: um exemplo de cidadania
Conheci
Jorge Pires por meio dos livros. Invariavelmente, em todo lançamento de livros
que participei, bem como, nos lançamentos dos livros científicos que escrevi, lá
estava um professor de cabelos brancos, sorriso aberto, olhos brilhantes,
interessado e gentil, sempre acompanhado de uma bela senhora, cabelos
grisalhos, também de sorriso suave e carismático: sua esposa Aracy. Ambos
sempre compravam dois livros, um para o casal, outro para Rubens, seu irmão
recentemente falecido. As letras entrelaçaram nossos destinos. Mais tarde, já “amigo
de casa”, fui apresentado aos seus livros. Jorge, amigo da arte e de móveis
coloniais, tem como hóspedes Voltaire, Tólstoi, Lispector, Machado, Fernando
Henrique, sem falar nas revistas Realidade, Manchete e de obras ligadas ao seu
interesse primeiro, espaço urbano, irmanadas, estas, às de arquitetura,
meio-ambiente, transporte e outros.
Jorge, nos seus longevos anos, além
de espelhar sabedoria, é um erudito interessado na história do solo em que
pisa, bem como, consciencioso dos problemas deste, sempre atento às soluções
inteligentes e visionárias que poderiam solucioná-los. Participativo, sempre
presente em reuniões que discutem a cidade e a região, suas múltiplas facetas cidadãs
tornam-no um mundo cultural de portas abertas a todos que se interessam pela
beleza do conhecimento e da crítica social. Suas idéias e sugestões visam
sempre ao bem-estar coletivo e, alinhavando-as, o princípio utilitarista, que
entende ser a felicidade possível, e necessária, ao maior número de habitantes possível.
Em nossas reuniões, sempre
“abençoadas” pelo delicioso café fumegante preparado por Araci, e nunca
solitário de seus bolinhos de fubá, falava-lhe eu que escritos isolados sempre
ficam perdidos e desconhecidos da maioria, sendo necessário a reunião de todos
em um só volume, o qual, aos amantes da História de Ribeirão Preto, é certo que
iria interessar. Chega agora em minhas mãos o livro de Jorge. “Pensando
Ribeirão”: passado, presente e futuro”, que será lançado hoje na cidade.
Conta-nos, esta obra, de um ontem
ribeirãopretano que, admiravelmente, tem a face do hoje, ou seja, problemas que
o município enfrentou, em anos passados, e continua enfrentando, nos anos
atuais, sobre transporte, urbanização, meio ambiente, mobiliário urbano, saúde,
educação e tantos outros são o cerne do seu livro. Entretanto, Jorge não
compilou, apenas, estes problemas. Pensou-os, refletiu-os, amadureceu-os em
seus pensamentos para, só então, sugerir soluções. Não podemos garantir que, se
acatadas, quando pensadas, tais sugestões teriam gerado milagrosas soluções ao
município. Mas, é certo que, se ouvidas, e ponderadas, pelos responsáveis de
outrora, e de agora, é certo que Ribeirão Preto seria muito mais funcional do
que hoje o é. Seu livro é, portanto, muito mais que a concretização de um
sonho: é exemplo de uma cidadania sábia, inteligente e visionária. Exemplo,
portanto, à altura de seu autor: um homem participativo e presente, que traz
gravado em seu peito, e memória, uma só expressão – Ribeirão Preto.
Junho, prenúncio do inverno, mês da
lua cheia. Seu homônimo, São Jorge, dela o observa. Sorrindo, dele está
orgulhoso. E parece, a todos, nos dizer: Parabéns, Jorge. Ribeirão Preto
orgulha-se de você!