
Luminares da Ciência (4)
Sérgio Mascarenhas: o Gênio
Certo dia, nos corredores da Academia, encontrei-me com o já falecido Clodovaldo Pavan, grande geneticista de nossa terra, e, neste encontro, perguntei-lhe para qual cientista ele “tiraria o chapéu”. Pavan não titubeou e, de imediato, respondeu: Sérgio Mascarenhas. Ao que eu lhe questionei: “Por quê?”. E Pavan, “É a pessoa mais criativa e inteligente que já conheci”. Os anos passaram e, em 2008, a USP-São Carlos rendeu uma justa homenagem aos 80 anos de Sérgio, nesta reconhecendo-lhe sua genialidade e sabedoria, ambas de mãos dadas à sua habilidade de fazer amigos. Sérgio não é menos que um Nobel, estando à altura de qualquer um que, merecidamente, receberam esta grande láurea.
Possuidor de alta inteligência fluída, caracterizada por suas habilidades em resolver problemas, alguns extremamente complexos, também se destaca por sua profunda capacidade de inovação. Tal inteligência fluída encontra-se alicerçada numa profunda e vasta inteligência cristalizada. Seu conhecimento é tão diverso e profundo que se torna difícil enquadrá-lo numa única área do saber científico. Tal como Janus, também seu olhar aquilino tem alcance tanto para a ciência e tecnologia como para as artes e a literatura, além de ser um apaixonado pela obra de Portinari.
Com rara felicidade, este homem une sua alta inteligência fluída e vasta inteligência cristalizada num processo contínuo de criatividade para resolução de problemas. Como se não bastasse, também é um sábio, entendendo que a nação precisa, mais do que nunca, da solidez e divulgação do conhecimento científico para reduzir suas desigualdades sociais, econômicas e educacionais. É um homem reconhecido em seu tempo, assim como o será para muito além deste. Gerações futuras de cientistas sempre destacarão seu legado e poder de criação.
Por ocasião de seus oitenta anos, ministrou a palestra “Sonhos de um cientista octagenário”. Humilde, disse apenas um sonho, pois a modéstia não lhe deixou dizer que vários outros foram os sonhos que ele tornou realidade com sua mão de Midas da Ciência: Ministério da ciência & Tecnologia, Embrapa, UFSCar, Engenharia de Materiais e Instituto de Estudos Avançados da USP-São Carlos, para só ficarmos em alguns. Algumas das mentes mais brilhantes da ciência brasileira aprenderam a engatinhar com este magnífico e genial cientista.
Caprichoso, quis o senhor destino acometer-lhe de um mal de difícil diagnóstico, para o qual a medicina mundial ainda não tinha avançado um equipamento não invasivo capaz de medir a pressão interna do cérebro. Mas, a genialidade de Sérgio provou ser mais caprichosa, ainda, que o destino: Sérgio criou um equipamento de baixo custo, capaz de medir tanto a pressão interna do cérebro como a que acomete os traumatismos cranianos. Caprichosa genialidade! Não obstante, Sérgio tem um grande e único defeito: ser um só.
Osmar Sinelli: Um “Scholar” da Hidrogeologia
Quem encontra o Prof. Osmar Sinelli, pela primeira vez, tem a vívida impressão de se deparar com um homem que emana natural sabedoria e serenidade. Voz calma, pausada, e sempre acompanhada por gestos gentis, há tempos cativa leigos e especialistas em geologia. Seu profundo conhecimento, carinho e respeito, no trato das questões da terra e da água fazem-no raro exemplo de cientista que ama de forma especial os recursos naturais que nutrem a vida. Cidadão e cientista, valoriza, defende, dignifica, tal qual Euclides da Cunha, muito faz pela terra e pela água, duas das essências da vida.
Sinelli graduou-se em Geologia e doutorou-se em Geociências, com ênfase em Hidrogeologia, ambas, na Universidade de São Paulo. Posteriormente, como bolsista da FAPESP, realizou estudos de pós-doutorado na University of Georgia, Athens, nos Estados Unidos. Lá ficou um bom tempo, mas jamais esqueceu os escritos de Pero Vaz de Caminha à D. Manuel I, rei de Portugal, no dia primeiro de Maio de 1500: “Águas são muitas: infindas". Sua preocupação com a Hidrogeologia expande-se para a análise do potencial agrícola das águas subterrâneas na Região de Ribeirão Preto, a Bacia Hidrográfica do Rio Pardo e a preservação do Aquífero Guarani. Foi Prefeito do Campus da USP-RP e aplicou seus vastos conhecimentos em educação e em ciências exatas e da terra enquanto Secretário da Educação do Município de Ribeirão Preto. A Geologia é parte dele, e ele é parte da Geologia, de corpo e alma.
Ao longo de sua longa e brilhante carreira sempre cultivou e espelhou alguns traços muito especiais. Aqueles que tiveram a dádiva de conviver com ele, dizem-no ser um homem modesto, de grande caráter moral, que demonstra integridade, virtuosidade e sabedoria em seu estilo de liderança. Sempre discute as diferenças entre as pessoas em termos humanos, sendo hábil de discordar de outros sem feri-las ou magoá-las por defenderem ideias diferentes das suas. É um homem tolerante, corajoso que enfrenta qualquer problema com atitude positiva, colocando a preservação da vida e da natureza acima de tudo. É um homem apaixonado pela água e pela terra. É um cidadão que acredita no que é certo e bom. Tem as habilidades dos grandes líderes: separa as pessoas do problema, foca nos interesses e não nas posições, inventa opções para ganhos coletivos e insiste em usar critérios objetivos. E, o mais importante, faz tudo isso com sabedoria, serenidade e inteligência. É um exemplo de cidadão ribeirão-pretano e um modelo de líder e educador.
Tenho dito aos meus amigos, colegas, discípulos e alunos que a minha trajetória acadêmica me propiciou muitas alegrias e dádivas, e uma das maiores delas foi ter convido com homens sábios como o Professor Osmar Sinelli.