
Luminares da ciência (5)
Um administrador de sucessos
Alberto Borges Matias
Durante sua juventude, Alberto Borges Matias trabalhou com o
pai como leiteiro a domicílio em São Paulo, capital, e aquele
ambiente de negócios, envolvendo compra, venda e
administração do comércio de leite com os clientes, alguns
muito importantes como, por exemplo, Delfim Neto, fez com
que nascesse em seu íntimo a curiosidade por conceitos na arte de gestão
de negócios, notadamente quando via alguns "quebrarem". Assim motivado,
prestou os vestibulares da época, conhecidos como CESCEM, CESCEA e
MAPOFEI, mais "por brincadeira" e para teste, atendendo a uma forte
solicitação de seu pai, porém, com tanta certeza de que não passaria que
nem procurou saber o resultado. Assim, com grande surpresa, foi informado
e parabenizado pelo pai, enquanto entregavam leite, que constava como aluno
no curso de Administração da FEA/USP.
Durante o curso de graduação muitos problemas administrativos, de
conhecimento público, começaram a lhe preocupar e Matias, motivado, posse
a levantar informações sobre eles, de tal forma que fosse capaz de
fundamentar uma opinião e buscar alternativas para os mesmos. Um destes
problemas se relacionava à previsão de insolvência de empresas, uma vez
que naquela época muitas empresas fechavam, deixando inúmeros
funcionários desempregados e em difícil situação de sobrevivência. Concluída
a graduação, seu trabalho de formatura versou sobre uma temática de previsão
de insolvência com a utilização de modelagem estatística, de importância
internacional, constituindo-se em pesquisa relevante sobre o segmento de
tal conhecimento. Posteriormente, procurando emprego, até porque estava
com o casamento marcado para o mês de maio do ano seguinte, Matias
escolheu empresas nas quais gostaria de trabalhar e, procedendo à análise
financeira das mesmas, enviou estas para os respectivos diretores financeiros,
juntamente com um currículo seu. O resultado? Foi chamado praticamente
em todas para nelas trabalhar.
Simultaneamente, também "por brincadeira", fez os exames para o
mestrado da FEA/USP junto com outros colegas - por brincadeira porque
nele não se entrava sem experiência profissional e acadêmica. Porém, mais
uma vez o Destino lhe foi favorável: foi aprovado e, para cursá-lo, precisaria
de duas manhãs ou duas tardes por semana. Entretanto, as empresas nas
quais estava participando dos processos seletivos não acatavam tal
possibilidade. Isto levou Matias à Serasa, empresa na qual estagiara durante
o curso, e a fazer a proposta de retorno nas condições que precisava. Foi
aceito e, trabalhando com pesquisa e desenvolvimento, começou a cursar o
mestrado na FEA/SP. O sucesso chegou em passos rápidos: Matias
conseguiu fundar a FEA-RP/USP, sendo que os discentes da graduação em
Administração da mesma são os que têm obtido as maiores notas médias
em todas as edições do Provão aplicadas no país.
De suas viagens ao exterior, ocasionadas devido às suas pesquisas,
Matias se recorda do Centro de Estudos em Gestão Bancária da Harvard
Business School, com um estudo, à época financiado por cerca de 40 bancos
internacionais, sobre o futuro da atividade bancária no mundo. A percepção
do processo de entendimento global era evidente na academia americana.
No MIT, a visão da criatividade, impregnada inclusive no prédio - mais
especificamente em seu telhado - era evidente. Na Inglaterra, o choque da
cultura emanava por todos e, principalmente, pela história do momento.
Acreditando que o futuro é o homem quem desenha e constrói, sua
visão é sempre positiva. Para ele, o Brasil, com sua gente, sua infraestrutura
e seu potencial é um país espetacular e, no tocante à sua área específica,
Finanças, apresenta necessidade de esclarecimentos e de adaptações
setoriais, bem como de maior adequação de ensino dos alunos, tanto de
graduação quanto de pós-graduação. Já enquanto cidadão, Matias acredita
que o Brasil precisa de aperfeiçoamento institucional no executivo, legislativo
e judiciário federal, estadual e municipal, e de empresas públicas e privadas
que assumam uma postura ética junto às organizações. O sistema
universitário atua isolado da realidade brasileira, quer social quer organizacional, havendo clara necessidade de integração. O exemplo da baixa quantidade de patentes é gritante.
Já quando não está pesquisando, Matias gosta de estar com a família,
principalmente agora, com a chegada de sua primeira neta. Gosta, também,
de empreender ações de desenvolvimento, como, por exemplo, através da
instalação de institutos de ensino e apoio sociais. Creators, Corporate Finance, Projeto de Brasil, Contos de Andersen; E o vento levou, Casablanca e O Gladiador, estão dentre suas preferências lúdicas, assim como as músicas Woman, Alegria-Alegria e We are the World. Citando os livros Administração Financeira nas Empresas de Pequeno Porte, Insucesso dos Grandes Bancos Privados de Varejo e Administração Financeira de Curto Prazo, este último no prelo; e os artigos Um Novo Currículo de Finanças para os cursos de Administração, Fusões e Incorporações de Empresas e Crédito e Planos Econômicos como seus trabalhos mais relevantes, seu é o seguinte incentivo para os futuros pesquisadores: Nós fazemos o futuro. E a pesquisa é extremamente importante para a construção desse futuro.
Para uma ciência interdisciplinar
Antônio Ruffino-Netto
Foi a curiosidade em conhecer melhor a interdisciplinaridade entre
Física, Química, Biologia e Psicologia, conhecidas como ciências naturais e Economia, Psicologia Social, Demografia, Sociologia e Política, entre outras, conhecidas como ciências culturais, o que motivou Antônio Ruffino-Netto a optar pela graduação em Medicina. Graduando, a convivência com os
colegas potencializou esta curiosidade de tal forma que, até nos dias atuais,
já aposentado, a mesma continua presente, segundo ele, em todas as suas
atividades. Livre de compromissos administrativos Ruffino-Netto continua, no
entanto, a ministrar aulas e observa que, atualmente, tem publicado
aproximadamente três vezes mais que anteriormente à aposentadoria. O
ensino, por ele considerado um segundo polarizador de suas atividades,
permitindo-lhe a fundação do curso pré-vestibular Oswaldo Cruz, auxiliado
por outros companheiros de trabalho, o qual evoluiu, posteriormente, para a
potência educacional que, a seu ver, é o COC atualmente.
Sua estadia na Harvard School of Public Health, Boston Mass,
permitindo-lhe graduar-se no curso Master of Science in Epidemiology e nele
desenvolver um projeto de pesquisa sobre modelos epidemiométricos em
tuberculose, bem como, sua atuação enquanto instrutor de Bioestatística,
nesta mesma instituição, foram, segundo ele, fundamentais para sua formação
acadêmica. Além disso, cursar Técnicas Avançadas no Controle da Tuberculose, em Oslo, Noruega, com conceituados pesquisadores da Organização Mundial da Saúde e viajar como Consultor para a Índia, país por
ele identificado, na época, como o centro mundial de estudos de quimioterapia
em tuberculose, assim como Coordenador Nacional de Pneumologia Sanitária
do Ministério da Saúde, concedeu-lhe a oportunidade de participar de várias
reuniões no Egito, Tailândia, México, Marrocos, Holanda, Suíça e Argentina.
Acompanhando o andamento das pesquisas no Brasil e no mundo,
Ruffino-Netto espera que estas caminhem cada vez mais em busca de uma
transdisciplinaridade, oferecendo uma visão mais holística do homem e do
seu meio. Em sua opinião, a ciência pós-moderna está se aprofundando a
passos largos e sobre bases cada vez mais estreitas. Se isto se transformar
em benefícios para o homem, certamente, será ótimo. Caso contrário, entende
que o Homem estará caminhando para um abismo. Acreditando que a principal
dificuldade brasileira é a ausência de planejamento global e de bom-senso,
acha que refletir sobre a necessidade de os Ministérios e as Secretarias
aprenderem a planejar em conjunto poderia ser um bom caminho a seguir.
Gostando de ler, ouvir música, nadar e estar em contato com a natureza, Ruffino-Netto menciona s obras de Guimarães Rosa, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e Érico Veríssimo como um cânone fundamental a quem almeja ter um mínimo de cultura. Já Bach, Mozart, Beethoven, Mendelsson, Brahms e compositores nacionais, como Chico Buarque, Cartola e o ribeirão-pretano Horvildes Simões só vem a
complementá-lo. Citando Modelos epidemiométricos em tubercuose - definição de "Estados" e risco de infecção, Mortalidade por tuberculose e condições de
vida: o caso do Rio de Janeiro, Tuberculose: a calamidade negligenciada,
Controle da tuberculose no Brasil: dificuldades na implantação do programa
e Tuberculose- implantação do DOTS em algumas regiões do Brasil- histórico
e peculiaridades regionais como seus trabalhos mais significativos, devido à
aplicabilidade na Saúde Pública, em geral, e como fonte de orientação para
inúmeros trabalhos na Academia, sua é a seguinte mensagem à futura geração
de pesquisadores: Aprofunde-se na pesquisa, buscando sempre a interdisciplinaridade no fazer ciência e permaneça, com isso, distante do cientificismo.