
Maconha afeta a inteligência?
Maconha, droga ilícita mais amplamente usada no mundo, tem sido reconhecida tanto por suas propriedades tóxicas quanto terapêuticas. No Brasil e no mundo, pesquisas sobre seus efeitos benéficos e maléficos têm ocorrido, especialmente, devido ao fato destas endossarem decisões considerando seu uso medicinal e sua legalização. Os resultados destas poderão ter grandes consequências para a saúde pública.
Pesquisa recente, revelando que usuários persistentes da maconha mostram substancial declínio neuropsicológico, da adolescência à maturidade, alcançou a mídia mundial, ocasionando muitos comentários. De fato, pesquisadores investigaram a associação entre o uso persistente da maconha, prospectivamente avaliado ao longo de 20 anos, e o funcionamento neuropsicológico de uma mostra consistindo de 1037 indivíduos. Os participantes do estudo submeteram-se a uma testagem neuropsicológica em 1985 e 1986, antes do uso inicial de maconha e, novamente, em 2010 e 2012, após alguns dos mesmos terem desenvolvido um padrão persistente do uso da mesma.
O uso da maconha foi avaliado em entrevistas nas idades de 18, 21, 26, 32 e 38 anos de idade. Por sua vez, a testagem neuropsicológica foi conduzida na idade 13 anos, antes destes iniciarem-se no uso deste entorpecente e, novamente, na idade de 38 anos, após persistente uso.
A inteligência dos participantes foi avaliada nas idades de 7, 9, 11 e 13 anos, antes, portanto, do início do uso da maconha e, novamente, na fase adulta, aos 38 anos. Nesta última idade, testes neuropsicológicos adicionais foram administrados, neles incluindo-se escala mnemônica, teste de acompanhamento, teste de aprendizagem verbal-auditiva e outras funções cognitivas de interesse, importantes para comparações.
Os resultados mostraram que o uso persistente da maconha foi associado com declínio neuropsicológico, em vários domínios de funcionamento, mesmo após controlar a variável “anos de educação”. Participantes do estudo com dependência mais persistente da maconha mostraram maior declínio no QI. Em alguns casos, o declínio do QI foi de aproximadamente 6 pontos. Contrastando, participantes que não usaram maconha até chegarem à idade adulta e, portanto, tendo o cérebro completamente formado, não apresentaram declínio mental semelhante.
Os pesquisadores hipotetizaram que a variável que fez a diferença foi o ponto de início do uso da maconha. Ademais, a interrupção do uso da maconha não restaura completamente o funcionamento neuropsicológico entre os usuários desta, iniciados na adolescência. Como tenho destacado, ao longo de vários artigos publicados neste espaço, que QI (s) mais elevados estão substancialmente associados a maior renda, a maior longevidade, ao maior desempenho acadêmico e menores índices de criminalidade, entre outros, as implicações desse estudo nos parecem óbvias.