Mandela Madiba: O homem que fez o mundo ficar de luto

Mandela Madiba: O homem que fez o mundo ficar de luto

            Provavelmente, todos nós nos preocupamos com as diferenças de liderança ao redor do mundo. E, não raro, nos perguntamos, “Por que alguns países gravitam em torno de uma liderança caracterizada por uma democracia, enquanto outros parecem se contentar com uma liderança hierárquica, caracterizada pela monarquia ditatorial”? Certamente, se você tivesse tido a oportunidade de vivenciar, como vivenciei, diferentes formas de liderança, ao redor do mundo, você não duvidaria de encontrar diferentes concepções de liderança, específicas àquelas culturas políticas. Mas, por que algumas pessoas são líderes e outras não? O que faz pessoas se tornarem líderes? O significado de liderança é complexo, incluindo muitas dimensões. Para alguns, liderança é um traço ou habilidade. Para outros, é uma capacidade e comportamento. E, ainda para outros, liderança é um relacionamento. Na realidade, liderança, provavelmente, inclui componentes de todas estas dimensões, com cada dimensão explicando uma de suas facetas.

            Definir liderança como um traço significa que cada indivíduo possui determinadas qualidades inerentes que influenciam seu modo de liderar. Dizer que liderança é um traço é enfatizar o líder e seus talentos especiais, vindo daí o velho ditado, “líderes não se fazem, já nascem prontos”. Alguns argumentam que focalizar os traços da liderança é uma concepção elitista, pois, implica que, poucas pessoas, com talentos especiais, podem liderar. Por sua vez, liderança é uma habilidade quando a pessoa é hábil para liderar, podendo adquirir habilidades de liderança através da prática e trabalho árduo. Mas, liderança também é uma capacidade, ou seja, uma competência desenvolvida para desempenhar, efetivamente, uma tarefa. Líderes capazes são pessoas competentes, que conhecem meios e métodos para desempenhar suas responsabilidades. Eles conhecem “o quê” necessitam fazer, e “o como” o devem fazer. Neste caso, se você é capaz de aprender da experiência, você pode adquirir liderança. Por adição, liderança é, também, comportamento. Neste caso, o que os líderes fazem, quando estão na liderança, é o que é importante.

            A dimensão comportamental envolve como os líderes atuam, em relação aos outros, em várias situações. Porém, diferentes de traços, habilidades e capacidades, os comportamentos de liderança são observáveis. Finalmente, uma outra, e, talvez, não usual forma de pensar sobre liderança é entendê-la como uma relação. Deste ponto de vista, liderança é centrada na comunicação entre líderes e seguidores, mais do que nas qualidades únicas do líder. Um líder afeta, e é afetado, pelos seguidores. E, por sua vez, líderes, e liderados, são afetados pela situação que lhes rodeia. Este processo de relação sugere que líderes devem incluir seguidores, e seus interesses, no processo de liderança, bem como, valorizar as idéias destes, bem como, suas posições e atitudes.

            Ao longo da história, inúmeros são os líderes, cada qual tendo liderado com talentos diferenciados e em circunstâncias muito diferentes. Destes, muitos foram reconhecidos como sendo notáveis, com cada qual tendo ocasionado impacto na vida de muitas pessoas, bem como, realizado grandes feitos. Um desses líderes, e preferido por muitos, inclusive por mim, é Nelson Mandela, o Madiba. Madiba é o nome do clã do qual Nelson Mandela é membro. Um nome de clã, para seus integrantes, é muito mais importante que um sobrenome. Remetendo para bem mais que o simples antepassado do qual a pessoa é descendente. Madiba era o nome de um chefe Thembu, que governou no Transkei, no séc. 18, e o clã Madiba ainda é muito importante na região, sendo considerado muito educado usar o nome de alguém do clã. Mas, o que Madiba tem de especial para ser considerado, por jovens e idosos, homens e mulheres, artistas, políticos e cidadãos comuns, o maior líder da atualidade?

            O nome de Mandela ao nascer era “Rolihlahla”, que significa “criador de caso”. Entrou na escola sabendo escrever e, por seu brilhantismo, acabou convivendo com filhos de famílias nobres, das quais aprendeu as regras do bom comportamento (admirava especialmente os ingleses neste quesito). No ritual de circuncisão, com 16 anos, já se destacava e foi batizado de “Dalibunga” ou “fazedor de parlamentos” (se o leitor me permite a tradução literal de “maker of parliaments”). O que o mostrava diferente? A maioria dos políticos faz o contrário: nasce como “construtor de democracia”, sai da escola sem saber ler, faz escárnio das famílias nobres e acaba como encrenqueiro. Nelson nasceu sob o nome “criador de caso”, mas, ao invés de escarnecer a nobreza, aprendeu-lhe os modos educados, bem como, a ler, tornando-se um construtor da democracia. Na realidade, seu estilo de liderança agregando a tradição africana com o civilismo britânico transformou-o num dos maiores, mais ético, mais humilde, mais integro, mais carismático e mais transformador líderes do século 20.  Foi símbolo global de paz e reconciliação.

            Como líder, Mandela tem muitas características admiráveis, algumas traços, outras por ele construídas ao longo da vida. Homem de consciência, auto-reflexivo e de princípios altamente morais, centrou-se na disciplina, nunca se mostrando vingativo e raivoso. Mesmo em situações de conflito, sempre se pautou pela busca do consenso, revelando-se corajoso, paciente, apaixonado, modesto e, principalmente, íntegro. Mandela é um líder virtuoso, que acredita no que é certo, bom e justo. Líder carismático ao extremo, Mandela espelha cinco grandes características: (1ª) faz-se de modelo para os valores que ele deseja que os outros adotem, (2ª) mostra competência em cada aspecto da liderança, visando que os outros confiem em sua decisão, (3ª) sempre articulou objetivos claros e fortes, (4ª) sempre comunicou altas expectativas para seus seguidores, mostrando confiança em suas habilidades para alcançar estas expectativas e (5ª) sempre serviu de inspiração para outros. Ele sempre foi capaz de motivar os outros a se envolverem em mudanças reais. Gostaria de conhecê-lo, e comprovar todas estas características? Assista ao filme “Invictus”.

            Diferente de muitos políticos brasileiros, é o tipo de líder que se apoiaria em um poste muito mais para iluminação do que para suporte. Bono, cantor da banda irlandesa U2 e ativista pela África, afirmou nesta sexta-feira que o líder sul-africano Nelson Mandela nasceu "para dar uma lição de humildade".

 

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