
Manejo da dor pós-operatória
O alívio apropriado da dor insere-se em relevante área de atenção à saúde em geral, revelando-se motivo de preocupação tanto de cirurgiões quanto de pacientes antes e no pós-operatório. Evento clínico comumente provocado pela ativação de nociceptores, com resposta inflamatória usualmente localizada em lesão cirúrgica, quando não tratada ou tratada inadequadamente, a dor pós-operatória produz no organismo efeitos colaterais que podem (e)levar à causa mortis. A adequação de seu manejo envolve, portanto, uso de medicamentos e procedimentos analgésicos que visem à redução tanto da intensidade e/ou da gravidade da dor quanto de efeitos adversos como diminuição da capacidade vital e da ventilação alveolar, pneumonia, taquicardia, hipertensão, isquemia e/ou infarto do miocárdio, dor crônica, má cicatrização de feridas e insônia, entre outros.
A dor também constitui uma das três causas médicas mais comuns de atraso de alta médica pós-cirurgia ambulatorial, sendo as demais sonolência e náusea/vômito. Apesar da premência e da grande prioridade do controle eficaz e eficiente da dor pós-operatória, a realidade clínica é insatisfatória. Vários estudos mostram que 80% dos pacientes relatam vivenciar aguda dor pós-cirúrgica, fato que nos leva a concluir que, apesar do crescente foco nos programas de manejo da dor pós-operatória e do desenvolvimento de novos padrões do manejo da dor, muitos pacientes continuam a relatar dor intensa após cirurgia.
O manejo da dor pós-operatória alivia o sofrimento, antecipando o tempo de imobilização e reduzindo a estadia hospitalar, além de otimizar custos hospitalares para satisfação dos pacientes. Embora os programas de manejo da dor não necessitem de padronização, devem, entretanto, ser personalizados, bem como considerar as condições médicas, psicológicas e físicas dos pacientes, tais como idade, níveis de medo e ansiedade, procedimento cirúrgico, preferências pessoais e principalmente respostas a agentes manipulados.
A identificação da dor no pós-operatório é o passo inicial da adequação de um plano de intervenção terapêutica seguido do conhecimento de avanços recentes na sensibilização central, considerado seu relevante papel na dor pós-cirúrgica e pós-traumática. Identificada a dor, deve-se buscar a origem, a intensidade e a influência dos fatores psicossociais que atuam sobre ela, visando estabelecer o método, a técnica ou o procedimento mais adequado para seu manejo. Especificamente em casos de dor aguda, a eficácia do tratamento requer planejamento pós-operatório, conhecimento dos fatores de risco perioperatório, grau de manipulação cirúrgica no intraoperatório, avaliação da intensidade da dor e analgesia no pós-operatório, conhecimento de farmacologia e correlatos dos agentes analgésicos, suas indicações e manejo de efeitos adversos passíveis de manifestar-se ao longo do tratamento.
O controle da dor aguda deve considerar aspectos ligados à eficácia da analgesia. É importante ter amplo, variado e sólido conhecimento científico das drogas apropriadas para tal, das doses recomendadas, dos procedimentos e das vias de administração, do sistema de infusão apropriado e dos possíveis efeitos adversos de cada uma, bem como da forma de educar o paciente sobre o uso de intervenções físicas e cognitivo-comportamentais a elas relacionadas. Dentre as classes de medicamentos usados na dor pós-operatória estão os analgésicos, os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e os opioides, acrescidos de produtos adjuvantes, complementares aos analgésicos, que visam ao aumento da eficácia no alívio de dor e, ao mesmo tempo, à melhora do apetite e do humor, ou seja, do estado emocional geral. São eles: antieméticos, laxativos, antidepressivos, neurolépticos, corticosteróides e, em situações especiais, anticonvulsivantes, miorrelaxantes e outros tranqüilizantes
Entretanto, a classe médica se preocupa com os efeitos adversos provocados por seu uso. Cumpre destacar, nesse contexto, o aumento progressivo de uma variedade de técnicas anestésicas regionais, periféricas e neuroaxiais como formas de tratamento da dor pós-operatória, ainda que existam profissionais que argumentem sejam elas promotoras de analgesia superior, minimizadora de efeitos colaterais. Outros estudos, por sua vez, sustentam que a terapia multimodal se constitui na abordagem mais promissora do manejo da dor pós-operatória, consistindo na utilização de mais de uma classe de agentes e técnicas analgésicos. Essa abordagem tem se mostrado mais eficaz que a terapia monomodal devido ao efeito sinérgico, e/ou aditivo, de diferentes drogas e técnicas combinadas, além da redução da intensidade dos auto-registro de dor e de efeitos adversos relacionados ao uso de opioídes, o que a torna mais tolerável que qualquer outro medicamento ministrado isoladamente.