
Medidas da qualidade da educação
Em
adição às avaliações das habilidades cognitivas, programas de avaliação
comparada do desempenho estudantil, tais como, PISA e similares, capturam vasta
informação contextual sobre escolas, tipos de gestão, sistemas de instrução,
bem como, dados socioeconômicos de cada estudante, individualmente. A motivação
para isso é tornar possível uma análise global dos determinantes do desempenho
educacional dentro de cada país e, extensivamente, entre nações. Em outras
palavras, ao nível do aluno, fatores capturados e analisados, incluem
características dos estudantes, tais como, idade, gênero, freqüência estudantil
à educação básica inicial e medidas do status socioeconômico familiar, ocupação
dos pais e o número de livros domésticos. Ao nível escolar, as análises incluem
medidas como tamanho da classe, disponibilidade de material didático, tempo de
instrução, nível de formação dos professores, localização da comunidade e
fatores institucionais, tais como, supervisão por parte do professor e
avaliação dos estudantes, diferentes dimensões da autonomia escolar e sua
interação com medidas de gestão. Ao nível do país, os parâmetros incluídos são
o produto doméstico bruto (PIB) per capita, dispêndio educacional por estudante
e fatores institucionais como exames finais externos, se pública ou privada e
apoio governamental médio por escola.
Análises multivariadas, envolvendo
pontuações nos testes internacionais de habilidades cognitivas de leitura,
escrita e matemática e alguns dos parâmetros listados acima têm revelado
resultados surpreendentes. Sumariemos alguns. Primeiramente, dados revelam que
o desempenho dos estudantes depende fortemente do nível socioeconômico da
família que, por sua vez, fornece indicação da mobilidade entre gerações de uma
sociedade, o que parece ocorrer para a maioria dos países estudados. O número
de livros domésticos que pode ser usado como indicador do nível socioeconômico
da família é bom preditor do desempenho dos estudantes na oitava série,
especialmente, nos escores ou pontuações de matemática e ciência. E isto parece
não variar muito entre países.
Por outro lado, medidas dos
dispêndios por estudante não têm qualquer associação positiva com o desempenho
médio educacional destes, independente do país analisado. Em outras palavras,
no nível básico, países com alto dispêndio educacional parecem desempenhar de
modo similar aos países com baixo dispêndio do mesmo. Dado interessante sobre
dispêndio é observar que o mesmo tem aumentado substancialmente, em termos
reais, em diferentes nações, entre os anos 1970 a 1990, mas, comparando os
testes de desempenho, neste mesmo intervalo, não se constata qualquer
melhoramento substancial no desempenho estudantil em qualquer um dos países
analisados. Do mesmo modo, o tamanho da classe, e o tempo de permanência em
sala de aula, não são variáveis que afetam, significativamente, o desempenho
educacional. Todavia, a qualidade do material instrucional, bem como, dos
professores e a possibilidade de as escolas terem exames finais externos são
variáveis que parecem afetar o desempenho escolar. Curiosamente, as análises
internacionais sugerem que os efeitos dos tamanhos da classe estão presentes
apenas em sistemas com baixa qualidade docente. Fato este que acena com um
problema de custo-benefício, ou seja, se o desempenho escolar é melhor servido
reduzindo o número de alunos em sala ou elevando a qualidade do professor,
mesmo em países onde os efeitos dos tamanhos da classe estão presentes.
Na realidade, a despeito de
variações culturais na dinâmica da gestão escolar, e nos dispêndios
financeiros, comparações internacionais no desempenho estudantil servem para
mostrar, categoricamente, que, dentre nossos educadores, grande é o número de
crenças apoiadas, exclusivamente, no bom senso. Portanto, torna-se necessário
que nossos dirigentes educacionais atentem para os reais determinantes do
desempenho educacional, considerando que escores de desempenho são excelentes
medidas do capital humano.