
A mensuração da inteligência
A pontuação de uma pessoa no escore de inteligência é produto de duas coisas: da decisão social de construir um teste de inteligência de uma maneira particular e a habilidade do examinando para lidar com o teste uma vez que este tenha sido construído. Diferentes sociedades podem construir diferentes testes, dependendo das capacidades mentais que cada sociedade valoriza. Isto não significa que os testes sejam delimitados pela cultura, pois algumas habilidades mentais são vistas como vitais em todas as sociedades. Por exemplo, todas as sociedades demandam que seus membros aprendam sua linguagem nativa. Por outro lado, as sociedades podem diferir na ênfase que eles colocam em outros aspectos da cognição.
Para ilustrar isso, podemos pegar um relato interessante sobre concepções de inteligência, mantidas pelos Fang, sociedade primitiva da Guiné Equatorial. Quando você solicita, na sociedade ocidental, para alguém listar os atributos de uma pessoa inteligente, você, geralmente, obterá informações sobre a habilidade para solucionar problemas e a habilidade para compreender e usar a linguagem. A orientação espacial, habilidade para localizar-se no ambiente físico, raramente é mencionada, e, quando o é, situa-se abaixo na lista. Quando a mesma é chamada à atenção, as pessoas concordam que é inteligente ser hábil em encontrar seu caminho na vizinhança. Em nossa sociedade, todavia, esta não é uma habilidade muito importante. Nossos testes de inteligência incluem, apenas, poucas avaliações da orientação espacial.
Entretanto, os Fang citam as qualidades de uma pessoa inteligente quando dizem “as pessoas inteligentes não se perdem na floresta. Isto não significa que eles desvalorizam os tipos de habilidades verbais que os ocidentais mencionam. De fato, eles afirmam as habilidades verbais do mesmo modo que os ocidentais fazem. Mas, se os Fang tivessem de construir testes de inteligência, eles poderiam incluir testes de habilidades verbais como nós fazemos. Certamente, eles dariam uma atenção, e detalhes, muito maiores à habilidade de orientação espacial do que nós o fazemos.
Testes de QI, e testes relacionados aos testes de QI, são artefatos das culturas nas quais eles surgem. Eles testam alguns aspectos da inteligência, mas não outros. Todavia, os testes não são arbitrários. Os testes de QI não teriam sobrevivido como artefatos a menos que seus escores pudessem ser usados como preditores, ainda que imperfeitos, do que nossa sociedade vê como comportamentos socialmente importantes, tais como, desempenho social e acadêmico. Visto que, os escores dos testes alcançam este critério, os mesmos devem avaliar habilidades mentais que são usadas pelas sociedades ou devem avaliar habilidades mentais que não são usadas por si próprias, mas cuja posse é altamente correlacionada com a posse de habilidades que podem ser usadas. Isto é, os testes devem ser iguais a um exame físico, como o efetudado no exército, no qual o candidato é requerido a fazer uma atividade de puxar-empurrar. É óbvio que os soldados não vão realizar essa tarefa de puxar-empurrar em combate, mas a habilidade para puxar-empurrar é correlacionada com a habilidade para mover objetos pesados, isto é, carregar uma coluna de artilharia para uma posição de tiro, a qual os soldados podem ter de fazer. O mesmo argumento pode aplicar-se às ginásticas mentais requeridas para desempenhar bem nos testes de inteligência.
Enquanto todas as sociedades humanas não são idênticas, há um núcleo central de habilidades cognitivas em que todas as sociedades se baseiam. Todas as sociedades demandam que seus membros aprendam a falar a linguagem nativa, sejam hábeis de controlar a atenção, relembrar os eventos muito bem. Portanto, um teste de inteligência, que seja válido em uma cultura, é improvável de ser totalmente inválido em outra, embora sua validade possa ser reduzida. Assim considerando, as diferenças individuais nas habilidades cognitivas são, em princípio, devido a posse de um grande número de mecanismos cerebrais com propósitos específicos ou devido à posse de capacidades de processamento de informação muito gerais, que possam ser aplicadas a todos os desafios mentais. Na medida que a evolução de nossa espécie tem produzido um cérebro geral para solução de problemas, não importa, precisamente, como o cérebro é avaliado, pois o comportamento de uma pessoa, numa situação cognitivamente desafiadora, predirá quão bem ela lidará com outras situações.
Os testes de inteligência não medem tudo, mas eles medem, certamente, alguma coisa.