A mensuração da inteligência (2): o QI – quociente intelectual

A mensuração da inteligência (2): o QI – quociente intelectual

     O QI, Quociente Intelectual, é um termo cujo significado atual não guarda qualquer relação com o seu sentido original. A idéia original de Alfred Binet, em 1905, era que o nível de desempenho de uma criança, num teste, pudesse ser expresso em relação à idade na qual uma criança média, tomada como parâmetro, poderia ser hábil em realizar aquele nível de desempenho. Assim surgiu o conceito de Idade Mental (IM), ou seja, nível de habilidade de uma criança média em qualquer idade cronológica (IC). Para ter uma idade mental de sete anos, a criança deveria desempenhar similarmente a uma criança típica (média) de sete anos de idade. Comparando a idade mental com a idade cronológica era, então, possível dizer se a criança era avançada ou retardada e o quão o era. Atualmente, no entanto, o QI é designado como uma inteligência geral (g) que, aliada às habilidades específicas, e sem desconsiderar a genética, responde pelo desempenho humano.

            Portanto, o QI, em suas origens, foi designado para ser usado com crianças. Mas, uma vez que, como tal, era insatisfatório para adultos, pois, a habilidade mental, embora aumente durante os anos da adolescência, usualmente se estabiliza entre as idades de 14 e 18 anos de idade, se fosse calculado dessa maneira, um ponto fixo seria alcançado quando a idade mental cessasse de aumentar, enquanto que a idade cronológica continuaria aumentando.

            Por sua vez, supondo-se que fosse aplicada uma bateria de itens de um teste a crianças de nove anos de idade e, em seguida, calculado o escore médio de seus escores individuais, a média obtida é interpretada como aquela que define, na escala, o ponto em que uma criança de nove anos de idade está localizada. Qualquer criança, de qualquer idade, que obtiver este escore é dita ter uma idade mental de nove anos. Desta forma, a IM de uma dada criança é obtida verificando simplesmente onde seu escore individual se situa em relação àqueles escores tomados como referência. Por isso afirmamos alhures que o QI é um escore relativo, ou seja, obtido em relação a algo, e não absoluto, de aquisição de habilidades e de conhecimento.

            Mas, como melhor medir a diferença entre estes dois escores? Uma possibilidade é tomar a simples diferença e dizer, por exemplo, que a criança está dois anos adiante ou atrás da criança típica da mesma idade. O problema com esta medida é que ela muda quando a criança torna-se mais velha. Logo, se o propósito for mensurar um atributo constante do indivíduo, o qual não se espera que mude com a idade, nós precisamos procurar alguma medida que não dependa da idade, ou melhor, que seja invariante. A solução foi dividir a idade mental pela idade cronológica. Como o resultado obtido ao se dividir uma quantidade por uma outra é chamado de quociente, tornou-se apropriado denominar o resultado de dividir a IM pela IC de Quociente Intelectual (QI). Por conveniência, o resultado da divisão acima foi multiplicado por 100. Assim, por exemplo, se uma criança de cinco anos (IC) desempenha de forma similar a uma criança típica de seis anos de idade (IM), então o seu QI é (6/5) x 100 = 120. Quando uma criança alcança a idade de dez poder-se-ia esperar que os eu QI fosse o mesmo, o que implicaria ter uma idade mental de 12 (= 120 x 10/100).

            Entretanto, ao longo dos anos, testes de inteligência se tornaram fundamentais para os adultos, de modo que a definição original teve de ser reconsiderada para a elaboração de outra, a qual requer dividir o escore total individual obtido num teste, pelo escore médio obtido por diferentes pessoas de mesma idade. Esta medida, por parecer ser razoavelmente constante ao longo da vida, pode, portanto, ser usada ao longo de toda a amplitude vital. Concluindo, na contemporaneidade, uma vez que a origem, a escala e distribuição dos escores são arbitrárias, o QI foi arranjado de forma que sua média fosse 100, e o desvio padrão, quinze. Mas, os QI(s) obtidos dos testes de inteligência são, quase que inteiramente, medidas de inteligência geral, ou seja, do fator “g”, o qual veremos no próximo artigo.

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