
As múltiplas inteligências
A teoria das múltiplas inteligências é baseada em duas premissas. A primeira é a de que não há um traço geral de competência mental, isto é, não há uma inteligência geral. Na concepção de Gardner, a inteligência geral é um artefato estatístico, que surge porque as escolas tradicionais enfatizam, apenas, uma amplitude limitada de habilidades, tais como, linguagem, raciocínio abstrato e responder rapidamente, bem como, porque, virtualmente, todos os testes são apresentados utilizando-se da linguagem. Assim considerando, os estudos psicométricos olham a inteligência através de uma lente verbal. A segunda premissa é que há, de fato, uma variedade de diferentes inteligências, incorporando de inteligência linguística a inteligência corporal-cinestésica.
Essas duas premissas conduzem à identificação de quatro critérios para se determinar uma dada inteligência. Estes são: 1º) biológico, o qual supõe que um traço em questão deve ser o produto de um sistema biológico e, portanto, ser isolado por lesão cerebral, devendo exibir um desenvolvimento ao longo da história evolutiva; 2º) psicológico, no qual o traço deve ser melhorado por meio de treinamento específico. Indicadores do traço devem ser correlacionados com outros indicadores do mesmo traço, mas deve ter, apenas, uma baixa correlação com indicadores de outros traços; 3º) evolutivo, que reza que o traço deve ter uma distinta história evolutiva. Além disso, deve haver populações especiais que apresentam desenvolvimento não usual do traço, tal como, os idiot savants, os quais têm um único talento excepcional, mas são, de outro modo, ou mesmo, profundamente, abaixo da norma, ou os prodígios; e 4º) lógico, que entende que cada inteligência deveria ter um conjunto definido de operações que possa ser expresso num sistema simbólico. Um exemplo típico deste é a linguagem, que é um sistema simbólico cuja estrutura e uso são determinados pelas regras da sintaxe, semântica e pragmatismo apropriados à linguagem e cultura envolvidos. Música e coreografia podendo, também, qualificar-se por estes critérios.
Levando em conta esses critérios, de forma isolada ou agregada, torna-se possível identificar as seguintes inteligências: linguística, que refere-se à habilidade com a linguagem e escrita; lógico-matemática, habilidade envolvendo matemática e raciocínio numérico e lógico abstrato; espacial, que permite perceber e manipular imagens visuais e espaciais; corporal-cinestésica, que lida com controle de movimentos corporais; naturalística, que envolve habilidade para lidar com elementos no ambiente natural; interpessoal, que requer habilidades para lidar com pessoas e intrapessoal, que é a habilidade para entender e regular as próprias emoções, potencialidades e desejos.
Esta teoria espelha as ideias populares sobre inteligência. A ideia de que há múltiplos talentos e que as pessoas podem ser altas em um, como, por exemplo, em habilidade artística, como baixas em outras, como, por exemplo, em habilidades analíticas, de acordo com as concepções populares da distribuição do talento. Talvez, por isso, o modelo das múltiplas inteligências tem sido facilmente vendido para os educadores.