Neurociência da Inteligência

Neurociência da Inteligência

              Os genes relacionados ao QI têm, naturalmente, seus efeitos no cérebro. As pessoas, de modo geral, diferem tanto na quantidade quanto na qualidade de seus tecidos cerebrais. Nas últimas décadas, pesquisadores têm sido hábeis em mensurar esses aspectos usando técnicas como imageamento por ressonância magnética. A clareza do que tem sido observado com estas técnicas advém da neurociência da inteligência. Evolutivamente, um lento aumento no tamanho do cérebro tem sido constatado. Como aprendemos isso? Quando o tamanho do cérebro de nossas espécies aumentou, também nossa capacidade para pensamento complexo aumentou. Analogamente, isso aplica-se quando comparamos pessoas modernas também: aquelas com cérebros maiores têm QIs mais elevados. Este resultado tem sido altamente controverso, mas, agora, é bem estabelecido e replicado, sendo quase impossível negá-lo. Novamente, faz sentido que ter mais neurônios para pensar é mais vantajoso. Entretanto, não há razão nenhuma para pensar que mensurar um cérebro humano muito amplo poderia explicar tudo sobre qualquer traço psicológico.

                Assim considerando, pesquisas atuais moveram-se exclusivamente de olhar o tamanho bruto do cérebro para olhar áreas específicas deste que possam dar-nos indícios mais precisos acerca da localização da inteligência no cérebro. Frequentemente estudado são os lóbulos frontais, ou seja, partes do cérebro logo acima dos olhos e diretamente frontais. Pacientes com lesões nos lóbulos frontais causadas por lesões na cabeça, AVC ou infecções têm problemas particulares com os testes de inteligência fluída que envolvem pensamento abstrato. Fato, este, que tem levado neurocientistas a hipotetizarem que os lóbulos frontais são responsáveis por tarefas particularmente relevantes para a inteligência, tais como, planejar, organizar e raciocinar.

              Os lóbulos frontais são de interesse particular desde o começo da vida. O espessamento do córtex (substância cinzenta externa do cérebro) desenvolve-se mais diferentemente em crianças com alto QI do que naquelas com habilidade mais modesta, especialmente nos lóbulos frontais. Um elemento-chave observado é o fato de o córtex manter-se mais espesso por mais tempo nas crianças com alto QI, supondo-se que este período extra de espessamento pode permitir mais tempo para redes cerebrais úteis e complexas serem edificadas, levando seus portadores a obterem melhores resultados nos testes.

                Os lóbulos frontais são conectados a outras partes do cérebro, também essenciais ao pensamento complexo. Neste contexto, o modelo chamado Teoria da Integração Parieto-Frontal (P-Fit) sugere que inteligência é particularmente dependente de uma rede cerebral que conecta os lóbulos frontais aos lóbulos parietais. Esta última parte do cérebro sendo concebida como responsável por coletar e organizar informação perceptual, a qual é processada em outras áreas do cérebro para, então, ser enviada aos lóbulos frontais, nos quais, por sua vez, o raciocínio é iniciado. Essa teoria enfatiza que as áreas frontais e parietais necessitam enviar informação umas para as outras. Para tal, repousando em outro tipo de tecido cerebral, a substância branca. Essas células de substâncias brancas sendo agrupadas em milhões, formando tractos, que as conectam e transmitem sinais entre importantes áreas do córtex.

                As pessoas variam na eficiência dessas conexões e os neurocientistas têm usado criativas maneiras de mensurar essa variação, chamada tensor de difusão por imageamento de ressonância magnética. Nestes imageamentos, os neurocientistas monitoram a difusão de água nas moléculas que estão movendo-se nas células. Muitos estudos têm mostrado que esta medida da eficiência das conexões da substância branca é correlacionada com o desempenho nos testes de QI, especialmente aqueles que envolvem raciocínio e velocidade. Melhores conexões tendem a indicar habilidades cognitivas mais rápidas e eficientes. Importa destacar que, quando envelhecemos, os traços da substância branca se deterioram, perdendo sua mielina, reduzindo-se em tamanho e desenvolvendo placas que podem parcialmente bloquear seus sinais. Como implicação, essa degeneração da substância branca está entre as causas da perda das habilidades de pensamento que ocorrem em estágios posteriores da vida.

                Evidência adicional para esta teoria vem dos estudos de neuroimageamento funcional, os quais analisam as conexões cerebrais quando os participantes fazem testes de QI enquanto encontram-se no scanner. Desse modo, fazendo-se ressonância magnética funcional, pode-se estudar quais áreas cerebrais em particular tornam-se mais ativas, requerem mais energia e têm mais fluxo sanguíneo para provê-las. Esses estudos têm revelado que as áreas cerebrais que ficam melhor imageadas são as regiões frontais e parietais. Outro importante resultado relaciona-se à eficiência cerebral. Comparado com aqueles com baixa habilidade, os cérebros de pessoas de alto QI tendem a mostrar menos atividade quando completando tarefas complicadas, o que sugere que seus cérebros possam trabalhar mais eficientemente através da resolução de problemas.

                Em resumo, as áreas cerebrais frontal e parietal compreendem os principais circuitos que subjazem às nossas habilidades intelectuais. A eficiência com que as mensagens podem ser transmitidas entre eles podem ser os fundamentos das diferenças de inteligência.

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