
A Neurociência do Treinamento Cerebral (2)
Considerando o conceito de enriquecimento cognitivo (EC), e sendo o mesmo realmente eficaz, torna-se altamente desejável que, na maturidade, ou no envelhecimento, melhorias do processamento cognitivo possam ser efetivadas. Todavia, conseguir enriquecer a cognição nestes períodos ainda é algo em estudo. Na contemporaneidade, entretanto, os avanços tecnológicos têm assomado conhecimentos mais profundos da estrutura e do funcionamento do cérebro. Ao lado disso, inúmeros são os profissionais de saúde oferecendo orientações sobre práticas nutricionais, e físicas, que objetivam alcançar uma boa saúde mental e cerebral. De modo análogo, psicólogos cognitivistas têm escrito livros sobre como manter a memória, conhecida, esta, como uma das facetas mais vulneráveis do envelhecimento.
Neste contexto, divulgações do assunto têm surgido na mídia oferecendo softwares voltados à manutenção da boa forma cerebral, que utilizam exercícios mentais para tal. Virtualmente, milhares de exemplos desse tipo podem ser encontrados. A história também é repleta de pessoas oferecendo curas para o envelhecimento ou, no mínimo, medicamentos para retardar as conseqüências deste. Um destes remédios é o Gerovital, contendo procaína, anestésico tópico, totalmente propagado como droga antienvelhecimento, a despeito de ter sido desacreditado por longos anos como não tendo qualquer efeito no retardo do processo de envelhecimento. De modo similar, são inúmeras as propagandas que prometem mágicas cerebrais que retardam o envelhecimento, enriquecendo a cognição.
Revisão da literatura, entretanto, mostra que, exercitando a maquinaria cognitiva de um indivíduo por meio de atividades cognitivamente demandantes, estimula-se a mente, preservando o funcionamento cognitivo. Importa, então, que se considere os efeitos diretos do exercício cognitivo, se ou não usando mecanismos cognitivos específicos, realistas na manutenção de suas atividades, sem que se esqueça dos efeitos genéricos da estimulação cognitiva e de um estilo de vida intelectualmente variado como sendo efeitos mediados através de diferentes mecanismos, como, por exemplo, atitudes, crenças e aspirações individuais.
Por adição, deve-se considerar a ampla variedade de intervenções comportamentais que podem, realmente, enriquecer o funcionamento cognitivo. Assim, mais do que falar de exercício cognitivo, ou uso cognitivo, devemos nos referir, de modo genérico, a todos os comportamentos que potencialmente enriquecem a cognição. A idéia de enriquecimento cognitivo afirma que os comportamentos de um indivíduo, incluindo atividade cognitiva, engajamento social e similares, têm significativo impacto positivo sobre o nível de funcionamento cognitivo em todas as idades.
Logo, concluir de forma equilibrada, que a evidência disponível favorece a hipótese de que manter um estilo de vida fisicamente ativo, e intelectualmente engajado, promove um envelhecimento cognitivo bem sucedido é razoável. Além disso, é elevado o número de estudos que sustentam que a robustez do poder cerebral previne declínios cognitivos associados à idade, eliminando comorbidades, do tipo ansiedade, depressão e dores associadas a envelhecimento.