
Neuropsicometria Cognitiva (7): Insônia
Insônia é uma das desordens mais comuns do sono, estimada afetar aproximadamente 9-10% dos adultos na população geral. Um diagnóstico de insônia é feito quando um indivíduo tem problemas para dormir e permanecer dormindo ou quando experienciam despertar no meio da madrugada mais que três vezes por semana, por mais de três meses, ambos os casos acompanhados de pobre qualidade de sono e por disfunção diária.
Pesquisas têm mostrado que as desordens da insônia são frequentemente comórbidas, com desordens psiquiátricas do tipo depressão e ansiedade, doença cardiovascular, diabetes e outras desordens de sono, como apnéia de sono obstrutiva, entre outras. A desordem de insônia também tem sido associada a prejuízos nas funções cognitivas ao longo de vasta amplitude de domínios, mas poucos são os estudos que têm investigado sistematicamente essa associação. Sumariemos alguns que evidenciam esta associação.
Um artigo de Cross e colaboradores, publicado na Sleep Journal (2019; 1-10), examinou, em uma grande amostra canadense, as diferenças nas funções cognitivas entre (1) idosos e adultos de meia idade com desordens de insônia, bem como, (2) daqueles com apenas sintomas de insônia e (3) com os sem insônia, nos contextos de fatores de vida e de saúde. Testagem neuropsicológica foi administrada aos participantes por um entrevistador treinado, que aplicou aos mesmos testes que avaliavam o desempenho em três grandes domínios cognitivos: memória, funções executivas e velocidade psicomotora. Os participantes com provável desordem de insônia exibiram maiores proporções de aspectos médicos adversos e de estilos de vida, tais como, ansiedade, depressão e diabetes do que nos outros grupos e, também, déficits de memória declarativa comparados com pacientes que tinham apenas sintomas de insônia ou com aqueles que não apresentavam sintomas de insônia. Cumpre destacar que adultos com sintomas de insônia indicaram melhores desempenho em tarefas de flexibilidade mental melhor do que nos outros grupos. Tomados juntos, esses resultados sugerem que desordens de insônia em adultos idosos e de meia idade possuem indicadores de saúde mais pobres e um desempenho mnemônico pior do que adultos com problemas de insônia e adultos sem problemas de insônia.
Em outro estudo, realizado na China por Xu e colaboradores, e publicado no J. Neurol Neurosurg Psychiatry (2020, 91 236-244), com 11.155 registros e 15 problemas de sono considerados na análise, revelou que os mesmos foram associados com níveis mais elevados de desordens cognitivas por todas as causas. Nele, os autores alertam que o manejo do sono pode servir como um alvo promissor para a prevenção da demência. Outro estudo, publicado por Dzierzewski e outros na Sleep Med Clin 13, 2018 (93-106), analisou a relação do status da insônia com o desempenho cognitivo normal em indivíduos jovens e de meia idade, utilizando os seguintes parâmetros cognitivos: memória de trabalho, memória operacional, memória episódica e alguns aspectos do funcionamento cognitivo. Globalmente, em contraste com participantes saudáveis, o status da insônia foi associado com um pior desempenho em variados domínios das tarefas cognitivas. Especificamente, participantes com insônia desempenharam significativamente pior nas tarefas de amplitude mnemônica, integração da dimensão semântica e visual e em tarefas de funcionamento executivo, ao passo que, os grupos com insônia desempenharam melhor que os participantes saudáveis em tarefas de atendimento simples.
Um último estudo, realizado em laboratório por McSorley e outros, publicado na Am J Epidemiol, 2019, 188 (6): 1066-1075, encontrou que, a restrição da duração do sono piora a cognição de curto prazo, especialmente a memória. Os autores destacam que mensurar a interrupção do sono é mais importante do que mensurar a duração do sono para predizer o declínio cognitivo, bem como, que a interrupção e a qualidade do sono mensurados objetivamente são dimensões salientes do sono quando considerando a relação entre sono e função cognitiva em idosos, sendo que esta associação pode ser mais forte entre homens do que entre mulheres.
Em conjunto, todos estes estudos revelam que, adultos com insônia, independente de suas diferentes manifestações, parecem demonstrar uma piora no desempenho cognitivo, embora esta piora não seja consistente entre todos os domínios cognitivos ou entre todas as tarefas dentro dos diferentes domínios cognitivos.