
NOSSOS MUSEUS PEDEM SOCORRO
Há duas semanas, visitei rapidamente os museus do Café e Histórico, ambos situados no Câmpus da USP-RP, e as condições deterioradas de ambos me preocuparam. Até o muro que os separa da entrada principal do Câmpus apresenta-se em condições perigosas, colocando em risco os transeuntes que deambulam na calçada adjacente. Importante: o muro, que era para ser um cartão de boas-vindas aos visitantes, antes, os afugenta. Não obstante, o Corpo de Bombeiros, nesta semana, emitiu atestado de avançado grau de deterioração em que ambos os museus se encontram, ao passo que, o Secretário da Cultura de Ribeirão Preto teve de passar pelo constrangimento de ter que afirmar possuir somente vinte mil reais em caixa para reparar os telhados, pra lá de antigos, desses museus, temendo que, em se esperando um pouco mais, os mesmos não resistam e venham abaixo.
A interação entre os museus Histórico e do Café e a USP tem uma longa história. Pertencentes à Universidade de São Paulo, foram doados ao Município em 25 de julho de 1956, há quase sessenta anos, portanto, juntamente com todo o seu acervo. O propósito disso, na ocasião? Comemorava-se o primeiro centenário da cidade e a área de ambos poderia ser usada, exclusivamente, voltada às atividades museológicas, consolidando-se, assim, na antiga casa da Fazenda Monte Alegre, as atividades culturais de ambos, pensando-se, também, que nas áreas adjacentes dos mesmos, poder-se-ia serem instalados outros museus, tais como, o da cana e o dos expedicionários.
Parece-me que esta doação foi, na realidade, o começo de um fim, que já se prenuncia velho, de tais instituições. Estas, sem exagero de minha parte, estão sendo sangradas aos poucos. Ano a ano, uma ripa ali,um tijolo, acolá, os Museus vão se tornando, de fato, dois prédios abandonados pelo poder público. Poder público que, talvez, entenda que, tal qual ocorre com nossa Orquestra Sinfônica, que está esvaindo-se,a os poucos, que cabe à população angariar recursos para recuperá-los. É óbvio que a Prefeitura Municipal de Ribeirão, atuando com falta de gestão inteligente, e a Câmara de Vereadores, com sua falha Comissão de Análise das condições dos Museus, cujos integrantes sentem mais vontade de falar sobre os problemas, do que ouvir o que especialistas têm a dizer sobre o assunto, nada farão para resolver este problema que já se prolonga por seis décadas. Por quê? Explico: quando Prefeito do Campus da USP-RP, ciente dessas dificuldades financeira e de gestão organizacional que os acometiam, e prevendo sua deterioração futura, elaborei um projeto intitulado “Proposta de gestão universitária para os museus Histórico e do Café”, no qual a PCARP-USP, na ocasião, tinha interesse em reaver o título dominial da área onde estão instalados esses museus. Visávamos, então, dois propósitos.
O primeiro era contribuir com o município na preservação de seu patrimônio histórico, artístico e cultural, considerando que, a USP, como um todo, já gerenciava, e ainda gerencia, cinco centros museológicos, a saber, MAC (Museu de Arte Contemporânea), IEB (Instituto de Estudos Brasileiros),MP ( Museu Paulista), MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia) e MZ (Museu de Zoologia), que, em conjunto, envolviam, aproximadamente, 60 docentes, 400 funcionários e 37 mil m² de área construída e orçamentos de cada um deles variando de 6 a 8 milhões de reais anualmente. O segundo, instalar um Instituto de Artes de Ribeirão Preto, englobando a antiga Casa do Administrador e da Tulha, esta última utilizada atualmente pelo Curso de Música do Câmpus, formando um complexo histórico e arquitetônico de grande relevância, cuja preservação histórico-patrimonial requeria uma concepção gestora adequada como conjunto unitário.
Na ocasião, entregamos, animados, este Projeto ao então Secretário da Cultura de Ribeirão Preto, Vicente Seixas, no Governo Gasparini, ouvindo do Secretário a promessa de análise de tal proposta. Nada ocorreu, infelizmente, exceto a deterioração, cada vez mais evidente, dos mesmos. Iniciando-se, então, o primeiro mandato da prefeita Dárcy Vera, atualizei o projeto e, numa visita agendada à sua Secretária da Cultura, Adriana Silva, tornei a entregá-lo em mãos, reafirmando que tínhamos recursos imediatos para aplicar na recuperação da infraestrutura básica dos mesmos. Na ocasião, a PCARP-USP estava em intensa negociação com os bancos para a construção das novas áreas bancária, moradia e restaurante do Câmpus, área, está, já em pleno funcionamento. Porém, tal qual ocorreu no primeiro caso, também neste nunca recebemos uma resposta oficial. Ambos, cada qual em sua respectiva ocasião, apenas afirmaram, como de praxe, que iriam recuperar a área, já tendo verba garantida para tal.
O tempo passou, tais recuperações foram para a UTI (do SUS, porque o tal aclamado dinheiro, posteriormente, sempre foi dito não existir) e os Museus do Café e Histórico só estão no aguardo de uma bruta ventania ou temporal para desabarem. Por adição, há menos de 4 meses, a Comissão composta para analisar as condições desses museus, convidou-me para explanar sobre a Proposta feita há tanto tempo. Deixei claro que, atualmente, já não falo como dirigente universitário, mas, sim, como docente titular na mesma, uma vez que meu mandato já terminara. Mas, a despeito disso, minha fala trazia tanto meu interesse quanto minha preocupação com as condições de infra-estrutura dos mesmos, os quais entendia que, se mais dois anos nessas condições, ficariam, praticamente, irrecuperáveis. Na ocasião, também destaquei que o cenário econômico-financeiro da USP, atualmente, é muito diferente do cenário daquela época, bem como, que é preciso esclarecer a todos que um museu não é um mero depósito de coisas velhas, como muitos, erroneamente, acreditam. Os poucos vereadores que me ouviram prometeram analisar a proposta. Até onde sei, nada disso foi feito ainda.
Assim, faço um apelo: que os vereadores de Ribeirão Preto, inteligentes que são, entendam que é das universidades públicas que vêm os melhores projetos museológicos do país, pois elas possuem meios, mecanismos, formação e vocação para gestão de museus, além de estas propostas serem tendência consolidada nos centros culturais mais avançados do mundo. Em outras palavras: a universidade tem a Inteligentsia para gerir organismos desta natureza; urge que os vereadores façam um projeto que envolva a USP e a Prefeitura Municipal para que estas analisem, sem delongas, as possibilidades de incorporação dos museus aos próprios da USP. Uma Fudação Museu do Café, por exemplo, capacitada a gerir os museus, seria uma bom ganho cultural para a cidade. Antes que não existam mais nem possibilidades de negociação, nem museus a serem preservados. Caso consigam, o ganho cultural será para todos.