O dialogismo entre inteligência e felicidade (1)

O dialogismo entre inteligência e felicidade (1)

               Inteligência, de modo geral, tem sempre sido relacionada com características positivas. Um indivíduo de alta inteligência é considerado estar num pedestal quando comparado com aqueles que, supostamente, tem inteligência mais baixa. Ter inteligência elevada confere, portanto, ao indivíduo uma superioridade que se torna útil em muitas atividades da vida. O quanto estas características positivas influem para a felicidade individual é alguma coisa que desperta curiosidade. A resposta para isso pode parecer óbvia para alguns. Mas nem sempre tão simples quanto esperado.

                É comumente aceito que as pessoas mais brilhantes lidam melhor com a vida e, por isso, são mais felizes, em especial numa sociedade meritocrática. Esta crença é uma das razões que justificam o fato de muitos pais forçarem suas crianças a despenderem mais tempo na aprendizagem do que os pequenos gostariam. Esperam, tais pais, com isso, que mais educação fará de suas crianças seres mais inteligentes, bem como, mais felizes ao longo da vida. Mas são as pessoas mais inteligentes as mais felizes?

                Em outra perspectiva, acredita-se, também, que uma população inteligente conduz a uma sociedade mais justa e com melhor nível de felicidade pública. Esta é uma das razões que fazem políticos pregarem a necessidade de mais educação para as sociedades contemporâneas. Por adição, há noções intuitivas de que a sociedade tem se tornado muito racional e que fatores não cognitivos, a saber, habilidades emocionais e sociais, estão subdesenvolvidos neste contexto. Qual seria, então, a relação entre inteligência e felicidade? Dentre inúmeras razões teóricas que poderiam responder tal questão, pontuaremos algumas.

                A crença de que inteligência conecta-se à felicidade tem muitas raízes, uma das quais afirma que ambas são manifestações de uma mente saudável. Outra, que inteligência e felicidade são conceitualmente diferentes mas causalmente relacionadas, com inteligência sendo instrumental para a felicidade e, possivelmente, que felicidade facilita o desenvolvimento intelectual. Na visão ceticista, inteligência e felicidade são, também, conceitualmente diferentes e relações causais podem ser não-existentes ou negativas.

                Sendo inteligência reconhecida, costumeiramente, como sabedoria, em áreas como a Filosofia e a Religião, sob esta visão, sabedoria é englobada pela felicidade, quando esta última é entendida como eudaimonia, aristotelicamente associada à atividade intelectual. A visão de que inteligência conduz para a felicidade tem sido proclamada por muitos estudiosos. Nesta concepção, inteligência significa conhecimento adquirido através da educação, do mesmo modo que outros estudos, investigando os efeitos em longo prazo da inteligência, também sugerem que ela tem efeitos positivos sobre a felicidade, uma vez que revelam que altos escores nos testes de inteligência em idade escolar são preditivos de melhor desempenho educacional e ocupacional.

                Ainda dentro dessa concepção, críticos da testagem do QI argumentam que inteligência afeta apenas superficialmente a felicidade. Outros, criticam não haver tal coisa como inteligência geral, sendo melhor conceber a ideia de que inteligências múltiplas é que podem ser requeridas diferencialmente para o desempenho em numerosas tarefas. A ideia de inteligência emocional tem sido avançada para suportar críticas que entendem ser o QI algo limitado aos processos cognitivos do poder mental humano. Portanto, nessa visão, felicidade muito provavelmente depende das habilidades situacionais relevantes do que sobre um conjunto padrão de habilidades escolares.

                Visão intrigante do assunto entende que inteligência pode diminuir felicidade. Neste caso, admite-se que o entendimento seja algo que pode machucar, em particular pelo fato de o mesmo congregar imperfeições da vida à consciência individual. Estereótipo comum é encontrável na afirmação de que pessoas talentosas são aptas a viver vidas trágicas. Outra linha de raciocínio já mantem que o cultivo da inteligência escolástica surge em detrimento de outras habilidades mais requeridas à condução de uma vida feliz, a ponto de um proponente dessa visão advogar a ideia da “descolarização” da sociedade.

                Finalmente, amplia-se a visão acerca das consequências da felicidade, na qual há sugestão de que felicidade tem um efeito positivo no desempenho cognitivo. Um exemplo? Pessoas que têm sido induzidas a se sentirem felizes, desempenham melhor em tarefas mentais complexas, ou seja, pessoas com sentimentos positivos são mais prováveis de fazerem associações mais ricas dentro das estruturas de conhecimento existentes, bem como, de usarem de modo mais frequente e heurístico a flexibilidade e a criatividade.

                Neste contexto, estudiosos sugerem que, experenciar emoções positivas expande os repertórios momentâneos de pensamento e ação do indivíduo, fomentando recursos pessoais, com destaque aos recursos intelectuais. Concluindo, o dialogismo entre inteligência e felicidade, a despeito de um conjunto de incertezas que congrega, primeiramente examina as correlações individuais e nacionais sobre o binômio antes de se posicionar sobre o mesmo. Mas sobre isso, falaremos na sequência.

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