
O impacto do governo sobre a felicidade
A Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, recentemente, uma resolução reconhecendo que a busca pela felicidade deve ser tratada como um objetivo humano fundamental e requereu que seus países membros devam promover políticas públicas que incluam a promoção da felicidade e do bem-estar subjetivo em seus indicadores de desenvolvimento. A resolução foi intitulada “A felicidade: para um enfoque holístico do desenvolvimento”, de modo que a felicidade seja um objetivo e uma aspiração universal. Na realidade, a ONU está, apenas, ressuscitando a premissa fundamental do utilitarismo promulgada por Stuart Mill, que reza “a maior felicidade para o maior número”.
Mas, cabe perguntar, governos e seus modos de governança têm, de fato, impacto sobre a felicidade? Usualmente, as pessoas tendem a acreditar que o impacto do governo sobre sua felicidade é baixo, estimando que os governos contribuem menos para a felicidade do que para quaisquer outros indicadores. Isto é facilmente entendido porque as pessoas estão primariamente interessadas nas diferenças individuais em felicidade, dentro de suas respectivas nações e, raramente, consideram que tais diferenças estejam relacionadas às condições coletivas ou comuns. Em outras palavras, elas estão preocupadas com as diferenças individuais em termos de emprego, renda, personalidade, inteligência, educação, gênero, relações sociais e idade, entre outros, nunca, ou raramente, focalizando sobre diferenças na felicidade média e desigualdades na felicidade entre nações.
Definindo felicidade como “o grau em que um indivíduo julga a qualidade global de sua vida como um todo favoravelmente”, é possível entender tal definição como “o quão alguém gosta muito da vida que vive”. Dados recentes têm investigado a média e a desigualdade da felicidade entre nações. Globalmente, observou-se que a felicidade média variou de 3,24 para Togo a 8 para a Dinamarca, numa escala de 0-10 e a desigualdade, como mensurada pelo desvio padrão, variou de 0,85 para Laos a 3,02 para a República Dominicana. Para os curiosos, a felicidade média dos brasileiros foi 6,51 e a desigualdade foi 2,62, sendo esta última uma das mais altas entre 130 nações. Todavia, o mais interessante destes dados é que eles revelaram uma correlação positiva entre a qualidade técnica do governo e a felicidade média das nações. A correlação entre felicidade média e qualidade técnica é 0,75 e é um valor robusto e, particularmente, significativo porque as variáveis são relativamente estáveis ao longo dos anos.
Do mesmo modo, a felicidade média está, também, conectada com a qualidade democrática do governo, com uma correlação positiva de 0,60. Por outro lado, a desigualdade também depende da boa governança. Há uma correlação negativa (-0,18) entre a qualidade técnica do governo e a desigualdade na felicidade. Nações com baixo nível de qualidade técnica possuem alta desigualdade, enquanto nações com alta qualidade técnica apresentam baixa desigualdade na felicidade. Em relação à democracia, os dados revelam, também, uma correlação negativa entre a qualidade democrática do governo e a desigualdade. As correlações são +0,21 para nações com baixo nível de qualidade democrática e -0,24 para nações com alta qualidade democrática.
Portanto, há uma relação positiva entre a qualidade do governo, a qualidade técnica em particular e a felicidade média das nações. Esses resultados sugerem que melhoria na qualidade técnica, usualmente, conduz a uma maior felicidade média e a uma menor desigualdade nos indicadores de felicidade das nações. Deste modo, para promover a felicidade, e reduzir a desigualdade, os governos devem, primeiramente, melhorar sua qualidade técnica, pois, qualidade técnica na governança é sinônimo de alta felicidade.