O medo da inteligência

O medo da inteligência

   As pessoas possuem uma idéia bastante clara sobre o que se quer dizer quando se afirma que alguém é inteligente. Existiriam poucas diferenças sobre qual seria a resposta se questionássemos diferentes pessoas se consideram José Saramago, Bill Gates e Mandela indivíduos inteligentes. Ser inteligente é algo muito claro e embora não saibamos exatamente explicar o porquê, entendemos que estas pessoas são inteligentes.

     Quando início uma palestra sobre inteligência, costumo fazer a seguinte questão: “O que vocês preferem? Serem felizes ou inteligentes?” A resposta, rápida e invariável é: “felizes.” Logo replico: “E se tivessem que escolher, qual seria sua preferência: que os chamássemos de infelizes ou de ignorantes?” A resposta já não soa tão rápida.

     Há tempos, as escolas estimulam o desenvolvimento intelectual das crianças. Assistir às aulas é intelectualmente benéfico. Mas, todas as crianças conseguem extrair o mesmo benefício ao freqüentar a escola? Muitos pais e educadores concordam que algumas delas se beneficiam mais e outras bem menos ao freqüentarem a escola.  Apesar disso, muitos acreditam que a educação sozinha pode eliminar as diferenças causadas por outros fatores sociais, tais como as desigualdades socioeconômicas com que as crianças chegam à escola.

     Há vasta literatura indicando que a escola não produz um nivelamento dos alunos. As diferenças que separam os alunos não são eliminadas à medida que se avança no processo educacional; ao contrário, freqüentemente, estas diferenças aumentam. Contrariamente ao que a maioria das pessoas acredita a educação sozinha não equipara os alunos. Assim, é importante considerar em que direção essas diferenças aumentam e o que significa a educação não tornar os alunos iguais.  

     São as diferenças de escolaridade responsáveis pelas diferenças intelectuais? A maioria dos professores acredita que sim. Todavia, pesquisas contínuas neste domínio sustentam que: (1) a freqüência regular em cursos pré-escolares não reduz as diferenças de inteligência observadas em idades posteriores; (2) assistir ou não as aulas de educação básica se associa às diferenças de desempenho nos testes de inteligência; as crianças que não podem assistir durante um período de tempo a essas aulas obtêm os piores resultados nesses testes; (3) o período de ensino médio e de graduação contribui menos que o período de ensino básico para explicar as diferenças nos escores de inteligência; (4) as diferenças entre a qualidade das escolas possuem um pequeno, ou nulo, efeito sobre o desenvolvimento intelectual, e (5) a diferença média de QI entre os segmentos mais altos e mais baixos na distribuição dos escores de inteligência é de 12 pontos. Se pudéssemos eliminar todas as desigualdades de natureza educacional, essa diferença média ainda seria de 10,7 pontos. A redução seria de apenas 1,3 pontos.

   Portanto, as diferenças de inteligência não são resultantes das diferenças de escolaridade. Ao contrário, as diferenças escolares resultam das diferenças de inteligência.

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