
O odor da idade
A complexidade química do odor corporal exterioriza um conjunto de informações sociais e biológicas. Nos seres humanos e nos animais, sinais ocultos, e o odor diferente é um deles, têm sido sugeridos como elementos que ajudam a aproximação, o acasalamento, o reconhecimento individual, a detecção de parentesco e a diferenciação sexual, entre outros. Além disso, evidências de que odores corporais carregam informação relacionada à idade e de que os animais são hábeis para detectar esta informação têm sido estudadas. Já para vários animais, a composição química dos odores corporais muda de acordo com a idade. Como exemplo, podemos citar os ratos, os macacos e os coelhos.
Baseado nessas diferenças, ou seja, de que o odor se modifica de acordo com a idade, tanto em humanos como em animais, pesquisadores investigaram, em amostras de odores corporais, se humanos são hábeis para extrair e processar sinais dependentes da idade. Para tal fim foram coletados odores corporais de doadores representando três categorias etárias distintamente separadas: jovens (20-30 anos), adultos (45-55 anos) e idosos (75-95 anos). Os participantes, jovens adultos, tentaram discriminar, entre as categorias etárias, numa comparação lado-a-lado, para agrupá-las de acordo com a idade, bem como, estimar suas propriedades perceptuais. Duas hipóteses específicas foram testadas: 1º) os participantes, baseando-se na idade dos doadores, poderiam discriminar entre odores corporais e 2º) os participantes poderiam rotular os odores corporais de acordo com a idade.
O estudo revelou dados muito interessantes. Houve diferenças significativas nas estimativas tanto da idade quanto do prazer, nos quais odores corporais do grupo de idosos foram avaliados como menos intensos e menos desprazerosos do que os odores corporais originados dos doadores jovens e adultos. Os participantes foram hábeis em discriminar entre categorias etárias, com o odor corporal dos doadores idosos mediando o efeito mesmo após a variabilidade explicada pelas diferenças de intensidade ser removida. De modo similar, os participantes foram hábeis a designar corretamente rótulos etários aos odores corporais originados de doadores idosos, mas não para odores corporais originados dos dois outros grupos etários.
Este estudo sugere que, de modo similar aos animais, humanos são hábeis a discriminar a idade baseando-se, somente, no odor corporal e que este efeito é mediado, principalmente, pelos odores corporais emitidos por indivíduos na maturidade. O mecanismo por trás desse efeito não é conhecido atualmente, mesmo quando ocorre em animais. Não obstante, tem sido sugerido que níveis elevados de certos componentes químicos são biomarcadores potenciais do envelhecimento.
Envelhecer, além de nos tornar sábios, nos faz ter um odor muito especial: o prazeroso odor do tempo.