
O paradoxo da religião
Inúmeros estudos têm demonstrado que pessoas
religiosas registram, em média, um maior grau de bem-estar subjetivo, bem como,
poucas patologias sociais como, por exemplo, abusos domésticos. Por exemplo, levantamentos
realizados entre 1972 a 2008, nos Estados Unidos, revelaram que a porcentagem
de pessoas indicando que são muito felizes variou de 26%, entre aqueles que
nunca atendem aos serviços religiosos, a 48%, entre aqueles atendem mais que
semanalmente. Não obstante, as pessoas que vivem em nações mais ricas tendem a
deixar a religião organizada ou não têm qualquer afiliação religiosa
específica. Esta fuga da religião organizada é mais substancial em nações do
norte da Europa e em muitas outras nações economicamente mais afluentes.
A
título de exemplo, o Estado de São Paulo (24/08/2011, A19) relata que a
proporção de católicos tem baixa recorde. A reportagem mostra que o novo mapa
das religiões informa que a proporção de católicos em 2009 foi à menor registrada
em quase 140 anos de pesquisas estatísticas no país. Em outras palavras, embora
continue maioria, a população católica chegou a 68% do total de brasileiros, o
equivalente a 130 milhões de pessoas. Mas, pela primeira vez, a proporção foi
menor que 70%. Dados também revelaram uma estagnação de evangélicos
pentecostais que teve grande crescimento nos anos 90. Ademais, cresceram também
os que se dizem sem religião específica.
Por
que as pessoas estão deixando a religião organizada em nações onde a liberdade
religiosa é alta, se ela é associada a benefícios como, por exemplo, bem-estar
subjetivo mais elevado? Há teóricos supondo que o declínio na religiosidade é
associado com o crescimento econômico. Assim considerando, supõe-se que a
religião ajude as pessoas a lidarem com circunstâncias difíceis e, portanto, é
mais benéfica quando a contexto de vida das pessoas é mais difícil. Nações
economicamente desenvolvidas, em média, são superiores em alcançarem as
necessidades básicas, educação, segurança e longevidade. Elas têm também melhor
infraestrutura que as protegem contra desastres naturais e doenças epidêmicas.
Assim, em nações economicamente desenvolvidas, supostamente as pessoas são mais
hábeis em alcançar indicador de bem-estar subjetivo mais elevado sem a ajuda da
religião organizada. Contrastando, quando as pessoas se deparam mais
freqüentemente com a fome, doença, crime e pobre educação, as quais são
relativamente mais descontroladas, e prevalentes, em sociedades pobres, a
religião pode, talvez, fazer uma contribuição maior para o bem-estar. Nestas
nações, religiosidade, usualmente, é associada com maior suporte social,
respeito, propósito ou significado na vida.
Considerando
especificamente a relação entre religiosidade e bem-estar subjetivo das diferentes
nações, religião correlaciona-se em -0,48 com avaliações da vida, a qual varia
de 3,0 no Togo, onde 88% disseram que religião é importante em sua vida diária,
a 7,9 na Dinamarca, onde 19% afirmaram que religião é importante. No nível individual, após controlar
circunstâncias negativas, as pessoas religiosas tendem a ter indicadores de
bem-estar subjetivos mais elevados, mas os efeitos benéficos são maiores em
nações mais difíceis.
Em
conclusão, a associação da religiosidade com bem-estar subjetivo pode depender de
duas condições, a saber: se uma sociedade enfrenta condições de vida mais
difíceis ou se é altamente religiosa. Em sociedades menos religiosas, com
circunstâncias relativamente favoráveis, bem-estar subjetivo médio elevado é
atingido pela maioria das pessoas, independente da religiosidade. Nestas
sociedades, os benefícios da religiosidade para o bem-estar subjetivo são
atenuados porque mesmo os indivíduos não religiosos têm níveis elevados de
suporte sociais e respeito, bem como, bem-estar-subjetivo. Parece que em muitas
circunstâncias sociais desafiadoras, a religiosidade agrega respeito, suporte
social e propósito e significado na vida, os quais, por sua vez, são associados
com níveis mais elevados de bem-estar subjetivo.