O que é importante dentro da educação: oportunidades ou mérito?
De modo geral, todos falam que Educação é
importante. Mas o que é importante dentro da Educação? Certamente, muitas
variáveis são importantes nesse contexto, tais como, a qualidade da estrutura
física da escola, o salário dos professores, o despêndio por aluno, a
qualificação docente, o nível socioeconômico dos que a frequentam, a qualidade
e atualidade da biblioteca que a integra, o número de alunos por turma, etc. O
estudante, portanto, pertence a uma “turma”, que, por sua vez, integra uma
série, a qual, consequentemente, está numa escola, que, finalmente, localiza-se
num município. Logo, qualquer análise que se faça, envolvendo uma, ou mais,
dessas variáveis, é complexa. Entretanto, uma questão que necessita ser
respondida é “O que, nas escolas, pode conduzir às diferenças no comportamento
acadêmico?”. Por exemplo, se as escolas forem drasticamente diferentes em sua
eficiência, muito da variação no desempenho acadêmico dos diferentes estudantes
poderia ser explicada pela escola que o estudante frequenta. A importante
decisão a ser considerada por um pai, então, seria indicar qual escola sua
criança poderia atender.
Por outro lado, se a maior parte da
variança no desempenho de um estudante pudesse ser explicada pelas classes nas
quais os estudantes estão matriculados, então, a classe seria a variável mais
importante. Cada classe pode ser associada com um único professor, de maneira
que, o que, de fato, está produzindo a diferença no desempenho, é a qualidade
do professor. Estamos discorrendo sobre isso para destacar que usando métodos
estatísticos apropriados é possível avaliar a porção da variança associada com
cada uma dessas variáveis. Em assim, sistematicamente, fazendo, podemos olhar
para as variáveis que, de fato, afetam a educação.
Esse estudo foi realizado, ficando,
na época, conhecido como “O Relatório Coleman”, originalmente intitulado
“Igualdade de oportunidades educacionais”. Apresenta, o mesmo, os resultados de
um dos maiores, e mais complexos, estudos empreendidos para compreender “de
onde” surgem as diferenças na Educação, isto é, seu objetivo foi avaliar como
ocorria a desigualdade em tal contexto. Envolvendo dados de quatro mil escolas
públicas das 1ª, 3ª, 6ª, 9ª e 12ª séries, os dados obtidos incluíram
levantamentos sóciodemográficos e escores dos testes de desempenho e
habilidade, bem como, levantamentos relacionados à qualidade do ensino.
Os resultados do estudo foram
divulgados em 4 de julho, feriado em que se celebra a Independência Norte-Americana,
exatamente porque os investigadores, ou o Congresso Norte-Americano, queriam
evitar publicidade pelo fato de os resultados não terem ido na direção por eles
pretendida. O que eles esperavam era mostrar diferenças no desempenho acadêmico
devido à diferenças na qualidade das escolas. Mas, o que eles encontraram, de
fato, foi que 80-90% da variança total no desempenho acadêmico foi devido às
características associadas com o estudante individual sendo, apenas, 10-20%
podendo ser atribuído às diferenças entre escolas. Houve, também, diferenças
substanciais entre escolas quando estas foram avaliadas por diferentes
variáveis, mas, estas diferenças pareceram ter um efeito relativamente pequeno
no desempenho acadêmico dos estudantes das mesmas. A variável importante em
determinar o desempenho dentro de uma escola foi, portanto, as características
dos estudantes atendendo a escola.
Não apenas foi relativamente pequena
a porção da variança no desempenho acadêmico atribuível às escolas, como a
mesma diminuiu nas séries mais elevadas. Os pesquisadores, então, examinaram
variáveis específicas dentro das escolas que poderiam explicar o porquê das
diferenças encontradas a afetarem o desempenho acadêmico. Em geral, encontrando
que, variáveis como investimento, qualidade do professor, características do
corpo estudantil como um todo e outras tiveram, inesperadamente, pequenos efeitos,
tais como, a qualidade do professor explicando 1% da variança do desempenho
acadêmico quando características demográficas do corpo discente, por sua vez,
explicaram apenas 5% dessas mesmas diferenças.
Forte e inequivocamente, os dados
revelaram que, quando comparado às características individuais dos estudantes,
o efeito das diferenças nas escolas sobre o desempenho acadêmico é
relativamente pequeno. Em outras palavras, o ponto inequívoco é que a maior
diferença no desempenho acadêmico está dentro das diferenças internas da
escola. Qual a maior fonte de diferenças dentro da escola? As características
dos estudantes. Alfred Binet já tinha concluído isso quando delineou o teste de
QI, ou seja, os resultados de desempenho acadêmico estão mais intimamente
relacionados às características cognitivas dos estudantes do que a qualquer
outra variável do ambiente educacional. Logo, fomentar inteligência é o caminho
a ser procurado.