O que todo educador deve saber (4)

O que todo educador deve saber (4)

      Quis o destino que houvesse um rei a receber um mensageiro de terras muito distantes. O mensageiro trazia notícias de que a filha favorita do monarca estava prestes a se casar com o filho de um de seus mais antigos, e odiados, inimigos. O rei ficou tão furioso que matou o mensageiro num golpe só. Quando a guarda real foi remover o corpo, descobriu, para surpresa de todos, que o mensageiro era a própria filha do rei, totalmente disfarçada. Tardiamente, o rei entendeu que ela tinha se disfarçado na esperança de prepará-lo e minimizar suas reações agressivas, de modo que eles pudessem, eventualmente, reconciliar-se abençoadamente, pois ambos se amavam profundamente.

          De modo similar ao mensageiro, exames e testes educacionais não podem ser silenciados por cumprirem seus objetivos. Os benefícios da testagem acadêmica são inúmeros, podendo, por brevidade e clareza, serem divididos em 3 grupos: 1º) os que têm o benefício da informação usada para diagnóstico, 2º) os que têm exames padronizados para fornecer informações a serem usadas em seleção de pessoal e 3º) os que têm benefícios que ajudam a mudança de comportamentos induzidos pela presença de um teste ou exame, em especial, os que têm conseqüências acadêmicas.

          No primeiro grupo, tomando como exemplo, o progresso ou problemas de um professor ou estudante. Os testes padronizados podem revelar fraquezas ou potenciais que corroboram, ou suplementam, as análises previamente obtidas pelos professores ou dirigentes educacionais. Informação para diagnóstico pode, entretanto, ser obtida de testes padronizados que, não necessariamente, têm consequências acadêmicas. Por esta e outras razões ninguém questiona ou disputa este benefício dos testes. Por exemplo, os dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes) revelam como os escores médios de desempenho em leitura, escrita, matemática e ciência obtidos de cada nação participante, estão correlacionados com dispêndios educacionais, número de alunos por classe, qualificação dos professores e outros indicadores escolásticos. Também, tais escores podem ser correlacionados com renda per capita, PIB (Produto Interno Bruto) e com outros indicadores sociais e de saúde. O ENEM também permite tais comparações com se considera como unidade de estudo os escores médios obtidos dos diferentes estados brasileiros, análises separadas para escolas públicas e privadas, bem como, diferenças de gênero.

          No segundo grupo, os testes podem ser úteis aos empregadores e nos exames de admissão nas universidades que buscam, ambos, os melhores examinandos (pessoas que se submetem aos testes), embora estes benefícios para seleção de pessoal sejam questionados por alguns educadores que se opõem à seleção de pessoal e às admissões nas universidades, através de testes, existe uma substancia evidência empírica sustentando a existência, e significância, desses benefícios. Por exemplo, os exames vestibulares permitem, via de regra, selecionar os melhores alunos para cada carreira profissional considerando que há uma íntima correlação entre a complexidade das tarefas de cada ocupação, ou profissão, os escores médios obtidos pelos participantes que optam pelas mesmas.

          No terceiro grupo, há estudos revelando que vários comportamentos mudam com a presença de exames educacionais continuamente aplicados para aferir o desempenho acadêmico. Os comportamentos que tipicamente mudam incluem aumento na motivação, por parte de estudantes, professores, administradores ou outros, assim como, a incorporação de feedback a partir dos testes, a atenção focada na tarefa em mãos e aumento da eficiência organizacional, clareza ou alinhamento de padrões, currículos e instruções. Nesse contexto, há dados revelando que escolas que fazem avaliações padronizadas regularmente são aquelas que apresentam melhor desempenho no PISA e em outras provas internacionais. É possível também verificar que o ensino das principais habilidades, aquelas do núcleo PISA: leitura, escrita, matemática e ciências, estão correlacionadas de forma elevada entre si e, também, com os escores de QI (Quociente Intelectual), um indicador de inteligência geral. Desta forma, educadores, em geral, podem depreender que ensinando-se técnicas ou estratégias educacionais que permitam elevar as habilidades cognitivas, tais como, processamento de informação, raciocínio abstrato, pensamento indutivo e dedutivo, pode-se também elevar os escores destas habilidades acadêmicas ou o desempenho acadêmico aferido pelo PISA. Logo, aumentando os escores do PISA possibilita-se aumentar as taxas de crescimento econômico e os indicadores sociais e de saúde de uma nação.

          Considerando juntos todos estes benefícios e/ou vantagens, inúmeros estudos indicam ganhos no desempenho acadêmico obtidos a partir da testagem padronizada regular e contínua. Logo, em lugar de matar o mensageiro, dever-se-ia, primeiramente, aferir quais benefícios e ganhos que ele traz para o processo educacional, incluindo aqueles para o estudante, o professor, a instituição e para o progresso da nação.

 

 

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