
O que todo professor deve saber sobre habilidades humanas?
Ao longo dessa semana, navegando pelos sites de algumas das mais qualificadas universidades do país, constatei, desgostosamente, que, em nenhum dos cursos de formação de professores, tem sido ensinado disciplinas relacionadas às habilidades cognitivas humanas ou à inteligência. Mesmo em cursos de aprimoramento, existentes em universidades de elite, não há cursos de treinamento voltados aos professores. Ou seja, aos professores, absolutamente nada é ensinado sobre inteligência humana, suas origens e implicações. Logo, professores graduados em cursos de formação para as licenciaturas existentes no país não têm a mínima idéia de que as crianças diferem em inteligência geral, bem como, que inteligência tende a ser relativamente estável ao longo da vida, que ela é substancialmente influenciada pelo patrimônio genético, que provavelmente influencia o desempenho nas escolas, que atender às escolas também influencia a inteligência, que há uma clara conexão entre função e estrutura cerebrais e assim por diante.
Por outro lado, para dar exemplos da minha própria Instituição, verifico, igualmente, que seus professores estão plenamente conscientes do emaranhado de leis e legislações que cerceiam a Educação, bem como, do quanto esses emaranhado não dá conta de atender as habilidades humanas, e da total ausência de métodos de pesquisa, nestes incluindo o método experimental, o método correlacional e o método observacional. Ademais, chamo a atenção, também, para o fato de, para estes profissionais, ser fundamental o conhecimento estatístico, e não perda de tempo, como muitos assim o entendem. Na minha visão, nada lhes é ensinado sobre avaliação e mensuração das habilidades cognitivas, e nem me parece que tais graduandos saibam o que é, e a importância que tem, o QI (Quociente Intelectual), e que este, mesmo isoladamente, influencia o desempenho escolástico. Os professores, tanto os que ensinam quanto aqueles que estão sendo formados, estão completamente no escuro sobre a estrutura das habilidades humanas e as conexões entre cognição e função cerebral.
O porquê de os professores serem mantidos na ignorância sobre uma das maiores influências nos resultados educacionais dos estudantes normais é um mistério. Alguém poderia pensar que seria útil a um professor conhecer o que é o QI e como ele afeta o desempenho escolar, bem como, de maneira geral, que crianças sem o diagnóstico de dislexia, e afins, provavelmente desempenharão num nível similar em tarefas requerendo diferentes habilidades cognitivas, a despeito dos fervorosos apelos de Gardner, pai das Inteligências Múltiplas, pela afirmação do contrário. Aos professores, deveria ser ensinado que, tanto o patrimônio genético, quanto o ambiente familiar, são influências importantes na aquisição educacional, e que o ambiente familiar tem menos influência sobre o QI do que tem sido esperado, desde que crianças sejam expostas a um ambiente normal, que lhes permita aprender, desenvolver habilidades de linguagem e assim por diante.
Os professores poderão ficar surpresos ao aprender que os genes que influenciam as habilidades verbais e as habilidades numéricas são os mesmos que influenciam o desempenho escolar, o que é conhecido como Genes Generalistas. Algo mais positivo? Os professores poderiam estar conscientes de que, variação genética significa que pais, com baixo QI, que pouco estimulam educacionalmente suas crianças nos lares, algumas vezes poderão produzir uma criança altamente inteligente que irá desempenhar muito bem na escola. Ao invés disso, parece que nossos educadores são expostos a cursos e disciplinas as quais, em sua totalidade, desculpem se há exceções, parecem sugerir que todos os conceitos, incluindo os de inteligência e habilidades humanas, são relativistas / culturalmente determinados, bem como, que apenas um ambiente familiar saudável e estimulador garante sucesso educacional, omitindo a verdade inconveniente de que pensamento e aprendizagem envolvem o cérebro, e que cérebros diferem em estrutura e função.
Detalhes? Veja “A fraude educacional brasileira”, editado pela Funpec Editora. A todos, um Feliz Ano Novo, com muita saúde, paz, trabalho e prosperidade a todos.