
O “SANTO” PERIGOSO
É fácil constatar que os celulares invadiram nossa vida. Em todos os lugares, observamos pessoas usando-os. Muitas vezes naqueles em que os mesmos têm recomendação de não o serem, quando, não, sendo proibidos. Outras tantas, até dirigindo. Todavia, as pessoas, a despeito de conhecerem tais leis, continuam a usá-los para ligações e envio de mensagens de texto. Na realidade, o celular, por sua utilidade e, contemporaneamente, por aplicativos que buscam facilitar nossa vida social e de trabalho, tornaram-se quase indispensáveis. Particularmente, faço dele uma extensão de minha habilidade mnemônica: sempre que preciso relembrar rápida, e precisamente, os números dos telefones de meus amigos e, até, (por que não?), do Amigo do andar de cima, lá estou eu acessando-o.
Entretanto, escrever, ler e enviar mensagens de texto, enquanto dirigindo, tem atraído, consideravelmente, a atenção da mídia e do público. Cotidianamente, a mídia relata episódios de colisões que resultaram em mortes e ferimentos de motoristas que, por estarem enviando mensagens de texto, sofreram tais infortúnios. Um exemplo? A dor, e o sofrimento, de amigos e familiares que se seguiram após uma colisão relacionada ao uso do celular no envio de mensagem de texto são dramatizados no vídeo “One minute to the next”, dirigido por Werner Herzog. Outros relatos citam o estudo, muito conhecido, que mostrou que motoristas são vinte e três vezes mais prováveis de se envolverem em colisões enquanto enviando-as comparado àqueles que não fazem uso de tal tarefa.
A atenção a esta temática é plenamente justificável. Levantamentos têm revelado que nos Estados Unidos, por exemplo, 1% (ou 135.300) de todos os motoristas é observado manipulando um aparelho manual, incluindo discagem, leitura e envio de mensagens de texto. Tal qual um distrator, enviar mensagens de texto, enquanto dirigindo, nos Estados Unidos é uma ação que está aumentando quase que exponencialmente, aumentando o número de acidentes fatais e contribuindo em aproximadamente 10% das fatalidades e 17% dos ferimentos provocados nestas ocasiões.
Uma meta-análise recente investigou os efeitos de enviar mensagens de texto enquanto dirigindo. O propósito tendo sido entender o impacto deste envio sobre o desempenho do motorista e, por sua vez, na segurança do tráfego e na saúde pública. Para isso, a análise foi exaustiva. As tarefas de enviar texto incluíram digitação, leitura e digitação e leitura ao mesmo tempo. Além disso, o tamanho das mensagens, se lidas e digitadas, ou ambas, foram categorizadas em uma palavra, resposta longa e tarefa de copiar. As respostas dos motoristas analisadas foram movimento dos olhos, detecção, tempo de reação, colisões, posicionamento lateral, velocidade, variabilidade da velocidade, manter-se na pista e desvio de pista.
Tal meta-análise forneceu uma compreensão global do padrão de desempenho e dos prejuízos resultantes do uso dos telefones celulares para enviarem mensagens de texto enquanto na direção. Digitar mensagens de texto enquanto dirigindo afetou gravemente o desempenho de dirigir em segurança em quase todos seus aspectos. Especificamente, os motoristas exibiram olhadelas freqüentes e prolongadas para fora da pista. Omitiram-se mais em detectar estímulos importantes do trânsito, tiveram respostas mais lentas a estímulos perigosos, envolveram-se mais em colisões e não controlaram seus veículos ao longo da pista quando comparados com outros motoristas que não fizeram uso de mensagens de texto. Digitar e ler mensagens em combinação produziu efeitos similares, indicando impactos negativos sobre o desempenho de dirigir. Ler mensagens de texto no celular resultou em efeitos levemente menores quando comparados com digitação, ou ler e digitar ao mesmo tempo, mas impactou negativamente o desempenho dos motoristas. Motoristas que leram e digitaram mensagens de texto também tenderam a diminuir sua velocidade e aumentaram a distância em relação ao veículo à sua frente, o que compensou, parcialmente, os prejuízos produzidos por olharem fora da pista.
Esta meta-análise revela claramente que usar o celular para ler, enviar e escrever mensagem de texto reduz a habilidade dos motoristas para dirigir com adequada atenção à rodovia atendendo aos importantes eventos do trânsito, bem como, para controlar o veículo na pista e em relação aos outros veículos. Em outras palavras, escrever e ler mensagens de texto compromete a segurança do motorista e dos passageiros que com ele estão, bem como, de outros usuários que se encontram nas vias de tráfego. Especialmente em jovens motoristas que frequentemente fazem uso dessas tecnologias enquanto dirigindo. Legislação e proibição, alterando normas sociais, assim como, educação e melhoria no treino dos motoristas e mudanças no design automotivo serão requeridas para prevenir mortes e ferimentos provocados pelo uso de celulares e equipamentos similares enquanto dirigindo. O “santo” também é perigoso.