Os desafios de estudar o Amor (6): A perspectiva do Apego

Os desafios de estudar o Amor (6): A perspectiva do Apego

               Segundo Karin Sternberg, em Psychology of Love (2014), uma abordagem biológica explicativa do Amor tem suas raízes na Teoria do Apego, desenvolvida por John Bowlby no período de 1969 a 1980. Bowlby observou que os bebês buscam proximidade de seus cuidadores e, por conta disso, arguiu que os bebês são pré-programados para estabelecer apego com os mesmos, pois isso os ajudaria a sobreviverem. Na ocasião, notou, também, que nem todos os pais e cuidadores reagem da mesma maneira aos esforços dos bebês para comunicarem suas necessidades, bem como, para estabelecerem sua zona de proximidade com os mesmos. Neste contexto, a maneira como reagem podendo afetar o tipo de apego que a criança estabelece com os pais ou cuidadores. Assim considerando, o apego de uma criança aos pais pode tomar diferentes formas. Cada forma dependerá do feedback que cada criança recebe, da velocidade com que este é dado e se o pai e os cuidadores podem oferecer conforto e alimento. Baseando-se nessas ideias, Bowlby propôs a existência de três estilos diferentes de apego: (1) o apego seguro, (2) o apego evitante e, (3) o apego ansioso e ambivalente.

            O apego seguro leva as crianças a se sentirem confortáveis com seus cuidadores, sendo tolerantes quando estes se ausentam temporariamente. As crianças usam os cuidadores como bases seguras a partir das quais exploram o mundo. O apego evitante não mostra preferência acentuada para o cuidador em relação a um estranho. Ademais, uma criança evitante não reage fortemente quando o cuidador fica ausente ou retorna. O apego ansioso e ambivalente leva a criança a reagir muito fortemente quando o cuidador se ausenta e ela fica sozinha. Neste caso, a criança é muito reativa e tenta intensamente ficar próxima do cuidador. A criança ansiosa também mostra uma certa ambivalência ao cuidador, o que faz com que ela se sinta inseguramente apegada.

            Baseando-se nessas concepções de Bowlby, estudiosos transferiram tais concepções para definirem o apego adulto. Neste caso, sugeriram que os mesmos princípios aplicados às crianças também se aplicam aos relacionamentos românticos adultos. Num relacionamento íntimo adulto é possível manter contato, carinho, olhares e sorriso; além disso, para ser um relacionamento seguro, o parceiro deve estar disponível e responsivo às necessidades do outro. Pessoas que acham a si próprias seguramente apegadas a alguém, descrevem seus relacionamentos como afetuosos e suportivos, acreditando que estes possam ser mantidos por um longo período de tempo. Essas pessoas, quando se relatam ansiosamente apegadas, experienciam uma intensa paixão, e até obsessão, por seus parceiros. Mas, mostram tendência para serem desconfiadas e para sentir seus parceiros infiéis. Por adição, as pessoas com apego evitante concebem que as relações com seus parceiros nem sempre são amigáveis, com baixo envolvimento emocional. Acreditam que o amor não pode ser mantido por longo período de tempo.

            Estudo recente, avaliando como os jovens adultos eram apegados a seus parceiros, mostrou que um estilo de apego seguro correlaciona-se positivamente com o Amor Compassivo, envolvendo respeito mútuo, confiança e afeição para seus parceiros, enquanto um estilo ansioso-desdenhoso correlaciona-se negativamente com o Amor Compassivo. Por sua vez, um estilo de apego essencialmente ansioso não foi nem positiva nem negativamente correlacionado com o Amor Compassivo. Ainda segundo Bowlby, postula-se a existência de três diferentes sistemas comportamentais, a saber: um sistema de apego, um sistema de cuidar e um sistema sexual. O sistema de apego serve para proteger uma pessoa do perigo mantendo-a próxima a outras que cuidam dela. O sistema de cuidar é o que fornece proteção aos outros. O sistema sexual é designado para assegurar que uma pessoa possa transmitir seus genes para a geração seguinte. Mecanismos cognitivos comportamentais monitoram nosso progresso para alcançar os objetivos de cada sistema.

            Ao longo do tempo, nossas ações ajustam-se ao nosso ambiente social e para nossos parceiros serem eficientes ao máximo. Isto é como nós adquirimos estilo particular de apego. As diferentes estratégias que as pessoas empregam para alcançar os objetivos nos sistemas de cuidar, de apego e sexual são, também, ferramentas úteis para enfrentar os relacionamentos disfuncionais, ou seja, que não dão certo. A existência desses três sistemas em separado nos torna possível vivenciar um apego profundo a uma dada pessoa enquanto somos romanticamente atraídos por outra. Do mesmo modo, nós também podemos nos sentir sexualmente atraídos por alguém a quem não nos sentimos apegados nem romanticamente atraídos. O problema, então, é localizar onde está o Amor no cérebro.

 

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