Os Desafios de Estudar a Percepção de Tempo (11): Envelhecimento

Os Desafios de Estudar a Percepção de Tempo (11): Envelhecimento

Certamente, independente de sua faixa etária, você já se perguntou se o tempo realmente parece passar mais rapidamente para as pessoas mais idosas. Esta é uma questão muito importante porque constitui uma intuição fundamental que, em algum momento de nossa vida, emerge ao longo da nossa trajetória, especialmente se temos uma vida intelectual e cognitivamente saudável. A resposta depende de qual é a ideia da passagem de tempo que estamos nos referindo. Se perguntarmos a uma pessoa idosa se, em algum momento ao longo do dia, ela sente o tempo passar mais rapidamente, certamente sua resposta será sim; mas a resposta também poderá ser não caso ela nada tenha a considerar quando a pergunta lhe é feita. Segundo Simon Grondin, no livro “The perception of time: your questions answered” (2020), há muitas diferenças entre as passagens imediatas do tempo e as impressões deixadas pelas experiências do passado, mais ou menos distante, relativas ao fluxo da extensão temporal, isto é meses ou anos. Em outras palavras, é possível receber, para uma questão, duas respostas opostas: o tempo passa lentamente hoje (o tempo parece longo) mas a vida passa rapidamente (o tempo passa rapidamente).

            Assim considerando, é razoável supor que o fenômeno de o tempo parecer ir mais rapidamente quando envelhecemos seja verdadeiro haja vista que a impressão de aceleração temporal é real. Ou seja, é correta a impressão de que o tempo parece passar mais rapidamente quando envelhecemos. Mas, por que isso ocorre? Há algumas interpretações sobre o fato. Talvez, a mais clássica possa ser descrita como a teoria da razão. Segundo ela, cada segmento do tempo – dia, mês ou ano – representa uma pequena porção de nossa vida quando nós envelhecemos. Por exemplo, um ano, em dez anos de vida, representa 10% da vida de alguém. Mas, na idade de 50 anos, um ano representa apenas 2% da vida desse mesmo alguém. Esta mudança na razão, ao longo dos anos, pode estar no coração da impressão de que o tempo parece passar mais rapidamente quando envelhecemos. Dito de outro modo, não é o próprio período que conta, mas, sim, este período em contraste ao resto de nossa vida. Parafraseando um estudioso da temática, “a duração subjetiva de um intervalo de tempo real varia inversamente com a raiz quadrada do tempo real total (idade)”. Uma pequena proporção do tempo poderia, então, ser interpretada como uma passagem mais rápida do tempo.

            Outra explicação, acerca da impressão da aceleração temporal, é o número de eventos memoráveis que ocorrem em diferentes momentos da vida. Mais especificamente, este número diminui ao logo dos anos. Durante a infância, muitos novos eventos ocorrem quase que diariamente, enriquecendo o repertório na memória. Quando envelhecemos, mais e mais eventos são armazenados, tornando-se cada vez menos provável que sejamos expostos a novidades. Também, há uma proporção muito maior de coisas que são feitas em nosso cotidiano. Ademais, conhecemos que o tempo é percebido como mais curto quando ele é preenchido com mais atividades rotineiras. A hipótese subjacente a esta explicação, baseada na memória, é que a impressão temporal depende do número de eventos que podem ser relembrados para um dado período de tempo, e que a possibilidade de relembrar depende da importância e significância dos eventos ocorrendo.

            Outra hipótese explicativa faz uso de outra função cognitiva que se modifica com a idade, a saber: a atenção. Esta, incidentalmente, determina a duração percebida sob condições de julgamentos prospectivos sobre o tempo: o tempo é percebido com muito maior quando nós alocamos mais atenção ao tempo. Nós também sabemos que o envelhecimento é acompanhado por um declínio nas fontes atentivas. Portanto, nessa perspectiva, com o envelhecimento, um dado intervalo de tempo é percebido como mais curto devido à falta de recursos atentivos. Finalmente, talvez não seja a acumulação do tempo passado que se mostre crítica, mas, sim, a consciência da diminuição da expectativa de vida de uma pessoa.

Compartilhar: