Os desafios de estudar personalidade (8)

Os desafios de estudar personalidade (8)

Em conversação com amigos fora da academia, sobre nossa pesquisa e os métodos que usamos para avaliar personalidade, não é incomum sermos confrontados com um olhar desconsertado e até surpreso. E, de modo similar, mesmo que alguns não manifestem, de imediato, tal reação, parece haver, comum a todos, uma questão de interrogação sobre a maneira com que isto é feito, ou sobre a acurácia ou validade dessa pesquisa.

Para muitos parece impossível mensural algo tão subjetivo quanto a personalidade. Outros, não resistem e perguntam. Em conjunto, o que fica é: pessoas são seres complexos, diferentes uns dos outros, com diferentes modos de ser e de problemas, em diferentes idades, sexo, dinamismo e, muitas vezes, organização ou desorganização (caóticas). Muitas são difíceis de “ler”, entender, ou predizer, não dizendo, necessariamente, sobre a verdade acerca de sua personalidade e suas características, traços, atributos. Outras, preocupam-se sobre como os outros irão percebê-las, tendo dificuldade de manejar suas impressões, percepções, emoções, e sentimentos, ou seja, sua própria personalidade.

Neste mesmo contexto, há, ainda, outras, simplesmente enganosas. O que faz com que todas estas complexidades, e natureza dinâmica e caótica, gerem sempre um senso de ceticismo sobre as tentativas de quantificar, mensurar e avaliar a personalidade, exatamente como se faz com outras coisas, tais como, com amor, criatividade, arte, liderança, dor, felicidade, inteligência emocional, e assim por diante.

Constructos que permeiam a natureza da natureza humana, levam, geralmente, a comentários do tipo “amor não é alguma coisa que você possa descrever e/ou assinalar com números; sendo, apenas, alguma coisa que você pode apenas sentir”. O mesmo parecendo ocorrer quando se busca aplicar tal focalização à mensuração da personalidade; pelo menos na mente das pessoas leigas e de muitos outros profissionais. Em outras palavras, um desejo ilusório.

Por sua vez, diferente dos leigos, estudiosos da personalidade, particularmente os psicometristas da personalidade, acreditam poderem mensurá-la usando ferramentas científicas. Afinal, se alguma coisa existe, ela existe em certa quantidade e pode ser mensurada. Neste caso, se personalidade varia de maneira detectável, ela poderá ser quantificável. Portanto, a única coisa necessária é encontrar uma maneira válida (ou maneiras) de fazer isso. Isto não é um comentário de fé, mas, sim, derivado do nosso entendimento do método científico.

Um exemplo? Você poderia concordar que nem todas têm a mesma personalidade (escolha um tipo de personalidade, sinta-se livre). Isto é, elas diferem na maneira que elas percebem, sentem, sofrem e comportam-se em relação aos outros e em relação aos em ambiente de trabalhos, social, etc. Quando comparamos as pessoas, nós frequentemente dizemos que elas têm mais ou menos de um dado atributo, intensidade de um traço, ou atributo, de personalidade, pois estas diferenças variam em grau. Portanto, se reconhecermos que algumas pessoas diferem em certos aspectos psicológicos, em termos de grau, não há qualquer razão porque estes aspectos não poderiam ser quantificáveis. Tudo o que necessitamos é assinalar números a estes graus ou variações.

Estritamente falando, o ceticismo acerca do prospecto de mensuração da personalidade não é justificado. A rigor, o campo todo da psicometria (literalmente significando mensuração da mente) é dedicado à mensuração das diferenças entre as pessoas em vários conceitos psicológicos (ou constructos), incluindo a personalidade. Assim considerado, a questão na realidade não é se personalidade pode ser mensurada, mas, ao contrário, se ela pode ser feita com acurácia. Bem como, se os estudiosos da personalidade seriam, ou não, hábeis em mensurar com sucesso a personalidade e de, realmente, capturar a personalidade de uma pessoa.

           

A resposta a esta questão é sim. Mas, precisamos clarificar alguns pontos. Não há nenhuma mágica na avaliação da personalidade. Estudiosos da mesma não são telepatas nem leitores da mente. Também não podem ler a palma de uma mão e dizer quem alguém é. Avaliação da personalidade não é algo padrão ou simples. Nem similar a mensurar altura com fita métrica. A avaliação da personalidade combina, sim, uma variedade de teorias e métodos, neles incluindo o senso comum, teoria da probabilidade e testagem estatística. Logo, personalidade é algo multifacetado.

 

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