
Os desafios de mensurar a dor (8)
Todos nós vivenciamos que quando realizamos tarefas prazerosas o tempo parece voar, encurtado. Ao contrário, quando realizamos tarefas monótonas, vazias, o tempo parece aumentar, alongar-se. De fato, inúmeros estudos manipulando estímulos externos têm mostrado que nossa percepção de tempo depende muito das condições ambientais nas quais estamos inseridos e, também, que o tempo percebido é afetado pelas emoções, atenção, ansiedade e mesmo por condições clínicas, tais como depressão, esquizofrenia e outras alterações de personalidade. Em geral, sabemos que se as tarefas são prazerosas subestimamos o tempo percebido e se as estas são monótonas, superestimamos a duração temporal. Entretanto, nenhum estudo tem mensurado a percepção subjetiva de tempo quando os indivíduos vivenciam uma situação desconfortável, irritante, que emana do próprio corpo, como no caso, de uma pessoa sentido dor aguda ou crônica.
Um conjunto de evidências sugere que a experiência de dor é também conectada ao tempo. Por exemplo, aumentando a duração de um estímulo nociceptivo também aumenta a dor, um mecanismo bem conhecido denominado de "somação temporal". Reciprocamente, a intensidade subjetiva da dor experimental pode ser reduzida quando sua duração percebida é artificialmente encurtada, enquanto a duração real é mantida constante. Não obstante, poucos estudos têm investigado o oposto, ou seja, se a duração da dor pode, por si própria, gerar distorções no tempo percebido, mais especificamente, dilatar o tempo.
Num estudo recentemente publicado na Scientific Reports, Rey e colaboradores (2017) instruíram 40 participantes para determinar se um estímulo visual "muito curto" ou "muito longo" quando comparados com durações padrões curta ou longa previamente aprendidas, enquanto inseriam uma de suas mãos num vazo com água de temperatura neutra (condição controle) ou num condição dolorosa, vaso com água quente. A intensidade da dor foi avaliada usando-se uma escala visual analógica variando de 0 a 10, onde zero era sem dor e 10 a dor mais intensa.
Os resultados mostraram que a proporção de respostas estimadas como sendo de "longa duração" foi estatisticamente mais elevada na condição dolorosa do que na condição controle (neutra). Também, o ponto indicando a metade subjetiva da durações físicas apresentadas foi diferente entre as condições dolorosa e controle, consistente com um alongamento da duração percebida quando os participantes estavam em dor. Na média, o tempo necessário para um estímulo ser considerado "longo" foi 20 ms menos durante dor do que na ausência dela.
Assim considerando, dor significativamente dilata a duração subjetiva de estímulos visuais apresentados concomitantemente. Ademais, um maior aumento na percepção da intensidade de dor em relação à situação sem dor, leva à distorções mais salientes nas estimativas de tempo. Em outras palavras, estando em dor nos dá a impressão, vívida, de que o "tempo está parado". Por um Brasil sem dor.