
Os ganhos de QI podem matar?
Dados de mais de 20 nações têm revelado ganhos em QI variando de 5 a 25 pontos numa só geração, bem como, que este ganho é muito mais elevado nos testes de inteligência fluída (soluções de problemas, raciocínio abstrato) do que nos testes de inteligência cristalizada (conhecimento acumulado, tal como, vocabulário, aritmética e informação geral). Entretanto, ao longo do tempo, este ganho tem implicações clínicas e práticas porque, ao expor erros no processo de mensuração do QI, colocam algumas pessoas onde elas não deveriam estar e outras a sofrer penalidades desmerecidamente. Qual a causa fundamental de todas estas infelizes conseqüências? O uso de “normas obsoletas”.
Considerando o quão importante é o QI para diagnóstico do retardo mental (DM), e para as dificuldades de aprendizagens (DA), escores de QI que se elevam e diminuem ao longo do tempo têm implicações importantes para indivíduos sendo diagnosticados pelos mesmos. Um critério para classificar pessoas mentalmente incapazes é o uso de escores de QI entre 70-75, em conjunto com uma análise detalhada de seus comportamentos adaptativos Se os escores de QI são significativos porque sinalizam comportamentos mal adaptativos, então ganhos de QI, ao longo do tempo, trazem um grande paradoxo: houve, de fato, ganhos de inteligência ou os ganhos foram meros artefatos do teste?
Na realidade, este ganho é provocado pelo uso de normas obsoletas. Se as normas estiverem 30 anos obsoletas, por exemplo, a criança obterá um bônus de 9 pontos e, portanto, uma criança com escore real de 67, mentalmente incapaz, será creditada com um escore de 76, mentalmente capaz. Como os testes de QI demoram, via de regra, quase 25 anos para serem re-normalizados, e alguns clínicos usam os velhos testes, mesmo após um novo aparecer, a porcentagem de crianças que podem ser classificadas como intelectualmente incapazes flutua de acordo com a validade destas normas, o que gera grande impacto nas políticas públicas educacionais e sociais para as mesmas.
Outra grave conseqüência de normas obsoletas é a condenação de pessoas à pena de morte. Nos EUA pessoas classificadas como DM não são consideradas responsáveis por seus atos. Necessitando ter um QI 70 ou inferior para serem classificadas como tais, se pontuadas em função de normas obsoletas teriam seus escores inflacionados e, portanto, estariam em risco. No Brasil, por não existir pena de morte, estas pessoas oscilariam entre imputáveis e inimputáveis criminalmente. Logo, devido ao fato de escores de QI poderem se tornar decisivos, estes devem sempre ser tomados como significativos, principalmente porque pessoas são comparadas a uma amostra representativa equivalente ao seu grupo etário. Quando as pessoas estão sendo comparadas com um grupo etário errado (uma amostra antiga), temos que re-interpretar seus escores, ajustando-os. Em casos criminais, ganhos de QI, se errôneos, podem “matar”, bem como, levar ao cumprimento de longa pena de reclusão.