Os mistérios da correlação

Os mistérios da correlação

          Embora inteligência e desempenho acadêmico sejam construtos distintos e fatores cognitivos específicos sejam importantes para explicar aspectos específicos do desempenho, e não apenas a inteligência geral, é inquestionável que medidas de compreensão de leitura e de desempenho matemático ofereçam boas aproximações dos níveis de inteligência individuais. De fato, processos lingüísticos, raciocínio, memória funcional e atentiva, que subjazem às operações de matemática e de leitura, também subjazem ao funcionamento intelectual e à inteligência. Esta relação é, também, suportada por evidência empírica, pois há uma boa correlação entre testes de desempenho educacional (PISA, TIMSS) e QIs, e esses resultados são consistentes porque as correlações são altas, tipicamente entre 0,6 e 0,7. Portanto, usar medidas de desempenho educacional para derivar estimativas de QI é apropriado. Como conseqüência, alguns pesquisadores têm estudado diferenças nacionais e regionais no QI, considerando as vantagens dos resultados das provas ou avaliações nacionais ou internacionais que têm sido administradas com uniformidade, em diferentes países ou estados. Exemplo típico no Brasil é o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), aplicado, nacionalmente, para um grande número de escolas.

            Recentemente foi divulgado o índice de proficiência em Inglês da Education First (EF), rede mundial de intercâmbio que aplicou, entre 2009-11, exames em 1,67 milhão de adultos interessados em aperfeiçoar seu inglês em 54 países, nos quais o idioma não é nativo. O Brasil ficou em 46º lugar, atrás de países como Argentina, Uruguai, Irã, Peru, China, Venezuela e Síria. A nota média obtida pelos brasileiros, 46,86, colocou o país no pior nível, o de “proficiência muito baixa”.

            Intrigados, novamente, com tal baixa pontuação, resolvemos capturar os escores médios disponíveis para cada nação, bem como, os escores médios de cada estado brasileiro. Correlacionamos, então, os escores de proficiência em inglês internacionais com os correspondentes QIs médios de cada nação. Surpreendentemente, encontramos correlação altamente significativa por volta de 0,65 (Lembramos que a correlação máxima é 1). Isto indica que o QI médio nacional explica uma grande parcela (quase 40%) da variação dos escores de proficiência em inglês. Ainda curiosos, tomamos os escores médios de proficiência em inglês de cada um de nossos estados e os correlacionamos com os escores médios do ENEM de 2009, 2010 e 2011, este último recentemente publicado, de cada estado brasileiro. Novamente as correlações foram surpreendentemente altas, variando de 0,56 (2011), 0,64 (2010) e 0, 70 (2009). Globalmente, o ENEM explica de 30 a quase 50% a variância das pontuações dos exames em inglês..

         Assim, como esperávamos, QI nacional, ou ENEM nacional, são positiva e originalmente correlacionados com as pontuações do exame de proficiência em inglês. Portanto, estes resultados suportam nosso argumento de que o QI, ou, simplesmente, a inteligência é o principal fator causal de tais indicadores educacionais e, talvez, de muitos outros que no futuro apontaremos.

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