Pedestres, veículos e telefones celulares

Pedestres, veículos e telefones celulares

           Inúmeras pesquisas, incluindo as que examinaram efeitos da atenção dividida no atendimento da “memória”, “busca visual” e “tempo de reação”, sugerem que dividir a atenção entre múltiplos estímulos, ou tarefas concorrentes, geralmente compromete o desempenho como um todo, limitando nossa capacidade atentiva. Atualmente, isto é relevante devido a grande complexidade do nosso ambiente, onde as pessoas lidam não apenas com qualidades detratoras dos estímulos, mas também com demandas atentivas impostas por novas tecnologias.

            Atualmente, quando caminhamos numa área urbana, tornou-se comum observar pedestres conversando ao celular, e ouvindo aparelhos musicais portáteis, enquanto cruzam ruas congestionadas de pessoas e veículos. Também, em vias e rodovias pessoas, mesmo no volante, conversam ao celular, inconscientes de que atenção dividida pode provocar acidentes fatais. Preocupados com o elevado número de acidentes provocados por isto, governos, instituições e corporações têm restringido o uso do celular-manual enquanto dirigindo. Ademais, vários legislativos estão impondo restrições ao uso dos celulares nestas situações. Todavia, há base empírica para a legislação limitar telefones celulares enquanto dirigindo? Sim, vejamos as razões.

            Uma meta-análise dos efeitos dos celulares no trânsito considerou o tempo de reação (TR), controle lateral do veículo, distância, velocidade e tipo de telefone, bem como, o ambiente de trânsito (laboratório, simulador ou na rodovia), alvo da conversação (passageiro ou alguém no telefone), tipo de conversação (tarefa cognitiva ou naturalística) e idade dos motoristas (jovens ou idosos). O TR para eventos e estímulos, enquanto conversando, produziu as maiores quedas no desempenho de dirigir, sendo similares para o uso manual do celular ou viva-voz. No geral, um aumento médio de 0,25s foi encontrado para todos os tipos de tarefa, indicando tempo de reação mais lento para atender aos eventos e aos estímulos enquanto falando ao telefone celular e dirigindo, concomitantemente.

            Jovens foram menos afetados pelo uso dos celulares que os mais idosos. O manual e o viva-voz aumentaram o TR. O uso de uma tarefa cognitiva equivalente a uma conversação no celular teve um TR mais elevado que uma conversação naturalística. Tarefas de fazer uma ligação ou teclar tiveram TR mais elevados. Com exceção de frear para evitar colisão, outras condições produziram o mesmo aumento no TR. Os motoristas não compensam a lentidão em responder mantendo distância ou reduzindo a velocidade e, além disso, o tipo de ambiente não afetou diferencialmente a TR e a velocidade. Estes resultados têm importantes implicações, tanto para as restrições legislativas quanto para as montadoras de sistemas viva-voz nos veículos. Por quê? Porque a vida não tem replay.

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