Percebendo espaço com uma bengala

Percebendo espaço com uma bengala

       Indivíduos que se movem em seu ambiente devem, muitas vezes, decidir se transpõem, ou circulam ao redor de objetos. Para tanto, julgam a distância em que estão de objetos e destes em relação a outros, bem como, buscam perceber altura e largura de desníveis diversos. Entretanto, embora a localização de objetos no ambiente seja feita, geralmente, pela visão, aqueles que com esta não contam devem apreender o espaço fazendo uso de outros sentidos, especialmente do sistema háptico, ou seja, através do tato e da cinestesia. Para estes, ao tato é, às vezes, acoplado algum suporte, como, por exemplo, a bengala e, em assim fazendo, tais indivíduos podem usá-la para integrar as funções tátil e auditiva para melhor se movimentar. Mas, se a função da bengala é agregar informação dos indícios espaciais, quão acurada é a percepção do espaço dos que se utilizam desta? O comprimento da bengala teria algum efeito nesta situação?

            Para responder tais questões, experimento dividiu participantes em três grupos, de acordo com sua acuidade visual: baixa-visão, míopes severos e visão normal. As variáveis manipuladas foram o comprimento, o diâmetro da bengala e o tipo de julgamento. Os comprimentos foram 80, 100 e 120 cm e os diâmetros, 1 ou 2 cm. Dois tipos de julgamentos foram usados: julgamento absoluto e julgamento comparativo. Para o absoluto, participantes usaram somente indícios da altura padrão, relembrada numa sessão prática. Para o comparativo, observação de um estímulo padrão, que consistia num cilindro-padrão de 15 cm de diâmetro e 44 cm de altura, enquanto estimavam a altura dos estímulos de comparação, os quais tinham 15 cm de diâmetro e altura variando de 10, 13, 16, 19 ou 22 cm. Importante lembrar que participantes com visão normal foram vendados e instruídos a usar uma bengala.

            Os resultados mostraram que o erro relativo, isto é, erros em relação ao comprimento da bengala, foram afetados significativamente pelo comprimento da bengala e tipo de julgamento, mas o diâmetro da bengala e os grupos de participantes não afetaram estes erros. Os resultados mostraram também que o erro constante da altura estimada também aumentava quando o comprimento da bengala aumentava, implicando que bengalas mais curtas e leves podem capacitar seus usuários a fazerem julgamentos hápticos mais eficazes da altura de objetos. Em outras palavras, o desempenho foi melhor para a bengala de 80 cm do que para a de 120 cm, mas, a diferença entre 80 e 100 cm não foi significativa

            Estes dados têm implicações práticas para o delineamento de ambientes, tais como, altura do degrau, cadeiras, a magnitude de aberturas, colocação de “tartarugas” nas vias, entre outros, para indivíduos com limitada ou nenhuma visão.

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