Percepção do próprio corpo e do mundo

Percepção do próprio corpo e do mundo

     Uma questão clássica na filosofia e psicologia é se a sensação do próprio corpo influencia a percepção visual do mundo.  Embora as teorias perceptuais modernas expliquem a percepção espacial de tamanho e distância pela combinação de informação gerada pelos diferentes indícios visuais, tais como, acomodação, convergência, tamanho relativo e familiar, gradiente de textura e movimento paralaxe, entre outros, alguns teóricos sugerem que nosso próprio corpo serve como uma referência fundamental para estas percepções.

     Em estudo recentemente publicado (PLoS ONE, 2011: 6(5), 1-10), esta sugestão foi experimentalmente investigada partindo-se da hipótese de que a sensação de posse do próprio corpo tem um efeito sobre a percepção de tamanho e distância de um objeto, em adição ao uso do próprio corpo como um indício de tamanho relativo.  Para isso, primeiramente, os autores criaram virtualmente a ilusão de que é possível vivenciar a posse de corpos artificiais de diferentes tamanhos e, em seguida, examinaram o efeito do tamanho do próprio corpo sobre a percepção visual dentro e além do espaço pessoal. 

     Foi concebido que possuindo um corpo extremamente grande (400 cm) induziria objetos a serem julgados como menores e próximos, e vice-versa possuindo um corpo extremamente pequeno (80 ou 30 cm). Ademais, estes efeitos estariam presentes tanto em pequenas quanto em grandes distâncias.  Em dez experimentos diferentes, estes efeitos foram quantificados usando respostas verbal, manual, caminhar visualmente-dirigido, bem como, medidas fisiológicas e obtidas por meio de questionários.

     Os resultados revelaram que a sensação de possuir artificialmente um corpo de tamanho diferente resulta numa mudança na percepção de tamanhos e distâncias do mundo externo e suporta a idéia de que o corpo fornece uma métrica para a percepção do espaço.  Quando os participantes vivenciaram, virtualmente, um corpo muito pequeno, eles perceberam os objetos como maiores e mais distantes e, ao contrário, quando vivenciaram a ilusão de um corpo muito grande, perceberam os objetos como pequenos e próximos. O efeito do tamanho do corpo estendeu-se para além do espaço pessoal, isto é, até aproximadamente 12 m.

     Estes resultados supõem que: (1) psicologicamente, o mundo pode parecer menor para um observador maior porque o esforço para interagir com o ambiente diminui, e vice-versa; (2) como a representação do espaço alocêntrico é considerada como sendo funcionalmente conectada à representação egocêntrica, escalonar a última (intrapessoal e espaço pessoal-próximo) pode produzir mudanças nas representações do espaço extrapessoal-distante.  Independente da interpretação, os dados sugerem uma relação causal entre a representação do espaço corporal e o espaço externo. O tamanho do nosso próprio corpo parece afetar como percebemos o mundo.

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