Percepção visual em pacientes esquizofrênicos

Percepção visual em pacientes esquizofrênicos

            Uma hipótese relevante, e influente, sobre visão sugere a existência de dois sistemas visuais distintos dentro do cérebro, um criando nossa percepção do mundo, outro guiando nossas ações dentro dele. O induzido Efeito Roelofs tem sido descrito como fornecedor de forte evidência para esta dissociação percepção/ação: quando um pequeno alvo visual (ponto de luz), rodeado por uma grande moldura (retângulo), e posicionado de maneira que o centro da moldura é deslocado do centro de visão do observador, a localização percebida do alvo é deslocada na direção oposta do deslocamento da moldura. Todavia, a despeito da má localização perceptual, o observador pode precisamente guiar movimentos para onde o alvo está localizado. Portanto, percepção é predisposta à ilusão enquanto ações parecem imunes.

            Por sua vez, pesquisas usando pacientes esquizofrênicos têm identificado vários processos fundamentais da percepção visual e ação visualmente dirigida. Contudo, não está ainda suficientemente esclarecido se mecanismos cerebrais, similares ou distintos, mediam as anormalidades nestes dois processos. Para explorar esta hipótese, estudo, recentemente publicado na Neuroscience (2010), examinou o processamento visual e visuomotor na esquizofrenia, utilizando o Efeito Roelofs. Para isso, pacientes esquizofrênicos e grupos de observadores normais desempenharam três tarefas de localização perceptual.

            Na tarefa visuomotora, os observadores foram solicitados a tocar o centro da localização do alvo com o seu dedo indicador, imediatamente após o deslocamento do alvo e da apresentação da moldura. Na tarefa visuomotora atrasada eles deveriam fazer o mesmo procedimento 2 segundos depois e, finalmente, na tarefa visual, eles deveriam registrar verbalmente a localização do alvo imediatamente após seu deslocamento e da apresentação da moldura. Os resultados indicaram que os efeitos Roelofs foram significativamente maiores em pacientes esquizofrênicos do que nos observadores normais. Estas diferenças ocorreram nas condições: visual, visuomotora e visuomotora atrasada.

            Além disso, neste contexto espacial, a comunalidade destes maiores efeitos em pacientes suporta a noção de que um mecanismo, de deterioração similar, subjaz à percepção visual e à ação visualmente dirigida na desordem mental. Funcionalmente, os resultados convergentes, obtidos destas três tarefas, sugerem que inibição anormal tem importante papel na percepção visual e na ação visualmente dirigida na esquizofrenia. Entendendo as similaridades e diferenças nos mecanismos subjacentes à percepção visual, e ação visualmente dirigida anormais, e incorporando intervenções e treinamentos cognitivo/comportamentais, estes resultados poderão contribuir no melhoramento da qualidade de vida dos pacientes.

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