Perigos reais dos celulares

Perigos reais dos celulares

     Percepção de perigo é o processo de detectar, avaliar e responder a eventos perigosos ocorrendo nas rodovias e que são mais prováveis de induzirem colisões. Os tempos de respostas para perceber vários tipos de perigos são maiores para motoristas mais predispostos a colisões e os que demoram mais para responder se envolvem mais em acidentes fatais, principalmente, no primeiro ano de habilitação. A robustez destas evidências levou o Governo do Reino Unido a introduzir, desde 2002, o Teste de Percepção de Perigos para obtenção da carteira nacional de habilitação.

     Este teste apresenta uma série configurações envolvendo três dimensões cardinais que caracterizam um cenário perigoso: antecipação, surpresa e complexidade. A antecipação refere-se à habilidade para “ler” a rodovia antecipando eventos perigosos vindouros. Este cenário pode ser exemplificado por um carro esperando ao lado, na rodovia, o qual repentinamente entra na frente do carro do motorista. A surpresa ocorre quando o motorista fracassa em conectar dois eventos independentes ocorrendo juntos no cenário de direção. Por exemplo, uma Kombi estacionada pode impedir a visão de pedestres que podem atravessar uma via situada atrás dela. A complexidade envolve a habilidade com que um motorista é capaz de monitorar múltiplas fontes de ameaças potenciais num ambiente dinâmico e complexo, como o ambiente de dirigir.

      Nestas condições experimentais, motoristas com diferentes níveis de experiência (noviços com oito meses de experiência em dirigir, motoristas com 16 anos de experiência, e instrutores de autoescola com 30 anos de experiência e 13 anos como instrutores) puderam ser comparados em cenários configurando diferentes tipos de estruturas de perigos. Dados de um destes estudos revelaram que motoristas noviços tomam mais tempo para localizaram perigos e, além disso, mais prováveis de omitirem perigos que estavam obscurecidos pelo ambiente (por ex., um pedestre emergindo por trás de um caminhão estacionado). Motoristas com moderada experiência foram tão rápidos quanto instrutores de autoescola em verem os perigos e gastaram maior quantidade de tempo vendo-os. Apenas a habilidade dos instrutores de autoescola para detectarem perigos foi traduzida em diferenças na velocidade de dirigir para certos tipos de perigos. Juntos os resultados demonstram que motoristas com diferentes níveis de experiências respondem diferentemente aos cenários simulando diferentes perigos.

       A elevada validade deste teste na discriminação de motoristas com baixo e alto desempenho na detecção de perigos, ou entre motoristas seguros e inseguros, por si só sustenta a introdução do mesmo, no Brasil, como uma intervenção para reduzir o elevadíssimo número de acidentes de trânsito nas nossas estradas.

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