“Pesquisa é feita por ser humano...”

“Pesquisa é feita por ser humano...”

              Tão logo foi divulgada a “pesquisa”, melhor seria dizer “levantamento”, que apontou nove, em cada 10 ribeirão-pretanos, contrários à ampliação do número de vereadores de 20 para 27, na Câmara Municipal, o jovem e promissor vereador Maurílio Romano fraseou “Pesquisa é feita por ser humano e ser humano é corrupto por natureza”. Considerada infeliz, sua frase gerou solicitação de retratação. Não obstante, em jornais locais, um notável articulista, do ponto de vista formal, analisou as premissas inseridas na mesma. Entendo eu, que o nobre vereador, educado que é, e oriundo de um seio familiar respeitável de nossa cidade, não teve a intenção de ofender qualquer cidadão por mais esdrúxula que tenha sido sua colocação. De promissor futuro político, as ações deste vereador, até o momento, especialmente quando favoráveis à constituição da região metropolitana de Ribeirão Preto, só merece elogios, assim como, em outras ações menores, que sempre buscam o bem-estar coletivo do cidadão ribeirão-pretano, também revela sua nobreza de caráter.

            Em outra perspectiva, a beleza de sua frase reside na possibilidade de a mesma poder ser analisada no contexto da Teoria Geral da Mensuração. Explico: nesta Teoria, “Se alguma coisa existe, existe em certa quantidade e pode ser mensurada”. A suposição implícita das medidas derivadas de questionários, escalas, inventários, testes ou levantamentos, expressos em porcentagens, como as que foram comentadas pelo vereador, reside em tais questões medirem diferenças individuais, refletidas nos julgamentos dos cidadãos. O propósito da mensuração é estimar esta porcentagem da característica inerente aos indivíduos. Todavia, qualquer que seja a precisão de um questionário, ou levantamento, usados para avaliar qualquer característica humana, duas mensurações efetuadas sobre esta, raramente dão resultados idênticos. Por isso, pesquisadores repetem suas mensurações e avaliações várias vezes, considerando, como valor real, a média, ou a soma, de várias mensurações.

            Em verdade, a imprecisão da mensuração é simplesmente inevitável. Talvez seja isso que Maurílio Romano, ingenuamente, tenha expressado em sua “infame”, e tão vilipendiada, frase. Em outras palavras, trocando alhos por bugalhos, há possibilidade de o vereador estar “correto”. Explico: pesquisadores, frequentemente, expressam esse ponto fundamental, ou seja, a imprecisão da mensuração, com a equação X=T + E, onde X é o escore observado, isto é, obtido; T é o escore verdadeiro; e E é o escore correspondente ao erro de mensuração, que pode ser positivo ou negativo. Nós não observamos o que está do lado direito da equação (apenas Deus conhece o que são aqueles valores). Nós assumimos, apenas, que há dois valores do lado direito. Em essência, esta equação indica que qualquer escore particular observado, nunca será igual ao escore verdadeiro devido às flutuações aleatórias.

            Um modo de lidar com este problema é dividir o componente do erro em dois outros subcomponentes: o erro aleatório e o erro sistemático. Portanto, o vereador tem razão em afirmar que, em todo levantamento, mensuração e avaliação, sempre haverá o erro humano, que pode ser sistemático ou aleatório. Porém, um bom levantamento, no qual variáveis são adequadamente controladas e capturadas, o erro sistemático é reduzido ao mínimo, e, o único erro aceitável, é o erro aleatório. Por sua vez, este erro aleatório é minimizado a partir da suposição de que os cálculos efetuados a partir da amostra estudada, tais como, média, desvio-padrão, porcentagens etc, são considerados como estimativas dos parâmetros da população. Em resumo, estes valores são sempre aproximativos, e não os verdadeiros parâmetros. Teoricamente, este erro diminui quando aumentamos a amostra e quando efetuamos medidas repetidas.

            Em geral, 20% da variância, numa escala ou questionário, são devidos às diferenças entre examinadores, sujeitos, imprecisão da escala e outros fatores. Mas, 80% da variância refletem a variação verdadeira, ou seja, a quantidade real da dimensão sendo mensurada.

            Logo, afirmar que “Pesquisa é feita por ser humano” está correto. O erro de Maurílio foi usar corrupto no lugar de enviesado. Na forma correta, teríamos: Pesquisa é feita por ser humano, e ser humano é enviesado por natureza. É a Ciência na Política. E, nesta, sou mais um que fortalece a porcentagem dos que são contra o aumento de vereadores.

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