
As pessoas podem ser felizes?
Com o propósito de capturar o que as
pessoas significam por felicidade, os pesquisadores interessados no estudo
científico da mesma propuseram o termo bem-estar subjetivo. O bem-estar subjetivo
refere-se às avaliações que as pessoas fazem de suas próprias vidas e engloba
tanto os julgamentos cognitivos da satisfação com a vida quanto as apreciações
afetivas de sentimentos e emoções. Esta concepção enfatiza a natureza subjetiva
da felicidade e supõe que os seres humanos sejam os melhores juízes de sua
própria felicidade. Assim considerando, os pesquisadores têm descoberto a
significância de componentes separados do bem-estar subjetivo que se harmonizam
de forma bastante coerente. Estes componentes incluem a satisfação com a vida
(julgamentos globais da própria vida), satisfação com importantes domínios da
vida (satisfação com o próprio trabalho, saúde, casamento, amigos, etc.), afeto
positivo (prevalência de emoções e sentimentos positivos) e baixos níveis de
afeto negativo (prevalência de emoções e sentimentos desagradáveis).
Mas, as pessoas podem ser felizes?
Numa tentativa para responder a esta questão, torna-se importante fazer a
distinção entre felicidade ideal e felicidade real. Felicidade ideal pode
ser definida como felicidade que é completa e duradoura, e que alcança o todo
da vida. Tal felicidade, perfeita, pura e perpétua, possui padrões extremamente
elevados e podem, realmente, estar muito além do alcance de qualquer um. Todavia,
ainda é possível para as pessoas vivenciarem emoções predominantes positivas e
estarem satisfeitas com suas vidas. A Felicidade real, como ela tem sido
denominada, é focalizada a partir de duas questões pertinentes: As pessoas
podem registrar sua felicidade? É a felicidade um fenômeno adaptativo e
evolutivamente plausível?
Evidências obtidas a partir de vários
estudos em diferentes culturas sugerem que a resposta à primeira questão é
afirmativa. De fato, pesquisas indicam que uma grande maioria das pessoas
situa-se numa faixa positiva na escala de felicidade, incluindo pessoas com
aparentes desvantagens, tais como as paraplégicas ou as aquelas nas faixas de
rendas inferiores. Recente levantamento corrobora este padrão de resultados,
revelando que 84% dos Norte-americanos se vêem como muito felizes ou
extremamente felizes. Do mesmo modo, 86% das 43 nações incluídas no estudo
tiveram níveis de felicidade médios acima do valor mediano da escala de
felicidade. Além disso, a maioria das pessoas registra ser feliz a maior parte
do tempo. Logo, os humanos parecem ter uma predisposição para se situarem nos
níveis médios de felicidade, o que nos leva a responder a segunda questão, ou
seja: Quais são as funções adaptativas da felicidade?
Tem sido reconhecido que as emoções
negativas (por exemplo, medo, raiva e ansiedade) fazem um indivíduo focalizar problemas
ou ameaças imediatas, portanto contribuindo para o ajustamento evolutivo.
Porém, apenas recentemente tem se começado a entender as vantagens positivas
engendradas pelos sentimentos positivos. Por exemplo, os sentimentos positivos
permitem os indivíduos a ampliar seu repertório de pensamento-ação e
construírem, ao longo do tempo, recursos intelectuais, psicológicos, sociais e
físicos. Em outras palavras, afeto
positivo e bem-estar geral produzem um estado a partir do qual os indivíduos
podem confidentemente explorar o ambiente e abordar novos objetivos, assim
permitindo-os construírem importantes recursos pessoais.
Assim, felicidade não é somente um
epifenômeno caracterizado por múltiplas facetas ou dimensões, mas é também um
fenômeno adaptativo do ponto de vista evolutivo que traz e agrega vários
benefícios em diferentes arenas da vida.