Ph.D em Livros: Marylene Barachini

Ph.D em Livros: Marylene Barachini

          Ao longo de minha carreira acadêmica, tive a felicidade de conhecer e conviver com dois eminentes e sábios livreiros: Sr. Capalbo e a Sra. Marylene Barachini. Jovem, frequentador assíduo da Livraria Acadêmica, todas as manhãs de quarta-feira e sábado, recebia de “Seu” Capalbo permissão para adentrar sua livraria e folhear edições da Vozes e Zahar. Quando em dúvida, socorria-me seu enciclopédico proprietário que, amante dos livros, descortinava-me um mundo nas estantes gloriosas de seu mais que estabelecimento, verdadeira biblioteca.

            Lembro-me, nitidamente, de um diálogo que mantive com Seu Capalbo. Perguntando a ele se, em algum lugar daquela imensidão de livros, eu encontraria um exemplar de Garrett, “Estatística na Psicologia e na Educação”, foi a seguinte indagação que dele, surpreso, recebi como: “Menino, esse livro é muito antigo! Por que ainda os procura?”. Ao ouvi-lo mencionar o artigo no plural, “os” procura, sorri: diante de mim estava um homem raro, sério conhecedor de livros, a quem nem se precisava falar que a obra era em dois volumes. Respondi-lhe que eu os buscava porque seus conteúdos não eram efêmeros, mas, sim, compostos por fórmulas e equações primeiras para a análise do conhecimento científico. Passados os anos, saudades tenho eu do livreiro e de sua biblioteca.

            Corridos os anos, veio o destino apresentar-me o dia e a hora de conhecer outra grandiosa livreira, Marylene Barachini, pequenina na estatura, gigante na identificação de livros. Sua livraria, destacando-se como lugar aconchegante para se viajar através do tempo. Ali, passado, presente e futuro fundem-se num mesmo ingrediente-ativo: o conhecimento. Tal como foi com Capalbo, também com ela, a livraria é uma biblioteca, na qual presentificam-se a personalidade e a sapiência desta livreira que, atuante culturalmente na cidade, granjeou para sua livraria a cordialidade de receber autores célebres, sem se descuidar dos estreantes e locais. Não há eventos voltados ao livro, em Ribeirão e região, e nas capitais, que a eles ela não compareça.

            Sendo conhecimento cristalizado sinônimo de erudição, esta sua qualidade, aliada à sua fineza de trato, tornam-na tão necessária ao seu ambiente quanto seus próprios livros. A mim me parece que, a cada livro que dali sai, ou que ali é organizado nas gôndolas, há a sugestão de Marylene. Tendo em sua livraria reunido amigos e conhecidos para lançamento de meus livros, por ela, e seus funcionários, sempre fui recebido como um autor sempre presente, e fundamental, naquele lar.

            Na minha juventude, os livreiros precisavam dos livros para viver. Hoje, na aurora de minha vida, são os livros que precisam de livreiros, como o foi Capalbo, e como o é Marylene, para sobreviver.

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