
Poluição e prevalência de doenças alérgicas
O International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISSAC), iniciado na década de 90, foi um amplo estudo epidemiológico da asma e de outras doenças alérgicas, cujo objetivo principal foi descrever a prevalência e a gravidade de asma e outras doenças alérgicas em crianças que habitam diferentes regiões do planeta. No ISAAC Fase 1, os dados, referentes à asma, mostraram existir grande variabilidade na prevalência de asma ativa, que variava de 4,1 a 32,1 % para crianças de 5 a 7 anos e de 2,1 a 32,2% para adolescentes. Para ambas as faixas etárias, o Brasil ficou entre as nações com maiores prevalências, especificamente, para asma ativa (23,3% para crianças e 22,7% para adolescentes). No ISAAC Fase 3, realizado sete anos após a Fase 1, mostrou que, no Brasil, a prevalência média de asma foi de 24,5 para crianças e de 19 % para adolescentes. Importante: sem relação com o nível socioeconômico.
Em relação à rinite alérgica grave, a prevalência média, no Brasil, foi de 25,7% para escolares e de 29,6% para adolescentes. Considerando a grande variabilidade nas taxas de prevalência das doenças alérgicas, bem como, seu impacto nas políticas de saúde pública, pesquisadores têm buscado analisar os principais e possíveis fatores de risco envolvidos nessa variação. Um exemplo? Supõe-se que as causas da asma na América Latina são, provavelmente, associadas com urbanização, migração e adoção de um estilo de vida ocidentalizado, bem como, com mudanças ambientais que acompanham esses processos, incluindo mudanças na dieta, atividade física, higiene e exposição aos alérgenos inalantes, irritantes e poluentes internos e externos.
Em particular, a poluição atmosférica tem sido apontada como fator de risco para o desenvolvimento de asma e fatores relacionados, sobretudo quanto ao material particulado decorrente da combustão de petróleo. Estudo realizado no Brasil procurou verificar a prevalência de asma e sintomas relacionados em adolescentes de duas localidades do Estado do Rio de Janeiro, com diferentes graus de poluição atmosférica: Seropédica, pouco poluída, e Duque de Caxias, muito poluída. O que os dados mostraram? Uma associação significativa entre a exposição a níveis mais elevados de poluentes e maior prevalência de asma ativa. Outro estudo, comparando a influência de agentes fotoquímicos na prevalência de asma e doenças alérgicas entre as cidades de São Paulo, santo André, Curitiba e Porto Alegre, nas quais havia monitoramento de vários poluentes gasosos. Os dados obtidos sugeriram uma relação entre a maior exposição aos poluentes e a alta prevalência ou risco de sintomas de asma, rinite e eczema atópico. Interessante, também, foi o estudo no qual se investigou a prevalência dos sintomas de asma entre crianças vivendo em duas diferentes ilhas amazônicas. As ilhas foram: Outeiro, ilha ligada ao continente e mais desenvolvida, e Combú, mais isolada e menos desenvolvida. Os dados claramente revelaram que a prevalência dos sintomas de asma ativa foi mais elevada em crianças vivendo na ilha de Outeiro (30, 5%) do que aquela para as crianças vivendo em Combú (16,5%). Também, é relevante destacar que vário s estudos têm revelado uma associação entre tabagismo e o risco de asma, rinoconjuntivite e eczema em crianças e adolescentes. A relação é muito maior com o tabagismo materno, sendo o efeito principal decorrente da exposição ao tabaco ao longo do primeiro ano devida e a uma relação clara entre a dose de exposição (nº de cigarros fumados) e o grau de risco. Analogamente, há estudos investigando se os diferentes tipos de fogo de cozinha estariam implicados no desenvolvimento, e exacerbação, das doenças respiratórias. Dados indicaram que fogueira foi associada a aumento dos sintomas de asma diagnosticada por médico, mas sem associação significativa entre gás de cozinha e aumento de sintomas e diagnóstico de asma.
A verdade é que a prevalência de asma e rinite ainda é muito elevada em escolares brasileiros, bem como, que os poluentes atmosféricos são fatores de risco que aumentam a morbidade das doenças respiratórias em crianças e adolescentes.