
Por que estudar inteligência?
Como se as preocupações sobre a igualdade e a imutabilidade da inteligência não fossem suficientes, a controvérsia que a cerca tem sido armazenada em inúmeros livros e artigos hostis à testagem da inteligência. Algumas dessas críticas se tornam mais fáceis devido à natureza da pesquisa do QI. Desde que as questões levantadas são frequentemente sobre a vida das pessoas, elas não podem ser respondidas sob condições experimentais estritamente controladas, usadas em outros ramos da ciência, tais como, na Química e na Física. E, desde que, tais questão são complexas, os achados de qualquer estudo individual são sempre abertos à disputa. Exemplos? As contribuições relativas da classe social e da inteligência para a saúde serem genuinamente difíceis de serem decompostas.
Talvez por causa disso, uma questão comum, que me tem sido feita com frequência quando escrevo ou falo sobre inteligência, é “Por que necessitamos conhecer algo sobre esse assunto?”, bem como, “Qual é o ponto de pesquisa relevante no estudo das diferenças de inteligência das pessoas?”. Há muitas respostas para isso. Algumas delas, ainda abertas à discussão. A resposta mais simples delas, entretanto, é pelo fato de inteligência ser algo real e, se nós não a pesquisássemos, estaríamos omitindo um fato importante sobre Psicologia. A despeito dessa complexidade, posso elencar quatro boas razões, entre muitas, que justificam, no meu entender, a pesquisa em inteligência.
A primeira razão é a conexão entre inteligência e saúde. Há imensa literatura mostrando uma impressiva relação entre escore de QI e risco de mortalidade, que poderia convencer a alta relevância de se estudar a inteligência num contexto médico. Neste caso, necessitamos conhecer como podemos usar os resultados da epidemiologia cognitiva para melhorar a saúde das pessoas. Isto pode ser feito focando as intervenções nas pessoas, de acordo com seu nível de inteligência, ou, simplesmente, aprendendo as coisas que as pessoas com alta inteligência fazem, encorajando as outras a copiá-las.
A segunda razão é o efeito do envelhecimento. O cenário da sociedade ocidental está variando em direção a uma alta proporção de pessoas idosas. Um dos mais intrigantes achados sobre inteligência é o declínio que ocorre em seus aspectos fluídos, isto é, na habilidade para lidar com coisas novas e abstratas, a saber, o raciocínio analítico. Por adição, também observamos que isso se torna, particularmente, problemático nos idosos quando conduz a uma tomada de decisão mais pobre e à perda da independência. Inteligência é muito estável ao longo da vida. Mas não é imutável: descobrir os fatores que podem ajudar-nos a preservar nossas habilidades de pensamento na maturidade é um tema de urgência. Conhecer as maneiras específicas de deterioração cerebral no envelhecimento, nos ajudará a delinear medicamentos e tratamentos para diminuir o impacto do envelhecimento. Conhecendo a genética da inteligência, e quais genes podem nos predispor a um declínio mais profundo no envelhecimento, nos permitirá alocar, mais precisamente, nossos tratamentos e intervenções. Esse tipo de pesquisa também nos ajudará a entender as doenças do envelhecimento cognitivo, tais como, Alzheimer, que desempenham papel relevante nas habilidades mentais.
A terceira razão é a importância social da inteligência. Como já mencionei inúmeras vezes nos meus escritos sobre inteligência, ser brilhante se tornará mais crucial quando adentramos, com mais frequência, no tecnologizado e computadorizado século XXI. Achar as maneiras para fomentar verdadeiramente as habilidades intelectuais das pessoas, talvez usando a variedade de tecnologias disponíveis, ajudará a sociedade e seus indivíduos a prosperarem. Nós apenas podemos conhecer como isso, de fato, ocorrerá através de mais pesquisa sobre inteligência humana. De forma análoga, universidades, empresas, corporações e outros empregadores estão sempre querendo usar os testes de habilidades em seus processos de recrutamentos e admissões. Nós necessitamos da pesquisa de inteligência para conhecer como criar testes que não sejam enviesados contra grupos particulares na sociedade, bem como, que possam, corretamente, selecionar as pessoas mais hábeis, independente da classe social ou outras vantagens. Pesquisas sobre inteligência podem nos ajudar a identificar as pessoas mais talentosas, bem como, quais destas fomentarão as inovações artística e científica que impulsionam nossa sociedade. Ademais, do outro lado do contínuo, um conhecimento mais profundo sobre a natureza da inteligência, e como mensurá-la, pode, ainda, ser benéfico para diagnosticar e ajudar pessoas com incapacidades intelectuais.
A quarta razão é menos prática, ainda que não menos significativa. Trata da curiosidade científica. Inteligência é uma das partes mais relevantes que nos torna humanos. Conhecer exatamente o que ela é, como ela se processa no cérebro e no DNA e quais efeitos ela tem sobre a vida das pessoas é parte do entendimento da história de nossas espécies. Variação na inteligência é um assunto que todos nós deveríamos nos preocupar. Entretanto, por que algumas pessoas, a despeito de seus contextos sociais serem similares, são mais brilhantes que outras? O que causou a genialidade de Einstein, Madame Curie, Picasso, Mozart, Pelé etc? Como nós podemos nutrir mais gênios no futuro? A única coisa que sabemos, no momento, é que, inúmeros cientistas, nos quatro quadrantes do planeta, estão aplicando sua própria inteligência para descobrir os mistérios da cognição e do cérebro.