Por que riqueza material não torna as pessoas mais felizes?

Por que riqueza material não torna as pessoas mais felizes?

      Para responder a esta questão, devemos, antes, indagar sobre o porquê de bens materiais, os quais as pessoas tão altamente apreciam, não fornecerem, como se espera, a tão almejada felicidade pessoal. A primeira razão se sustenta no bem documentado fenômeno conhecido como “escalonamento das expectativas”. Se as pessoas se esforçam em alcançar certo nível de afluência, imaginando que isto as tornará felizes, imediatamente entendem que, ao alcançá-lo, elas se tornarão rapidamente habituadas, e deste ponto começarão a almejar o nível seguinte de renda, propriedade ou boa saúde. Como exemplo, citemos um levantamento conduzido, em 1987, pelo Chicago Tribune, o qual revelou que, pessoas que ganhavam abaixo de $30.000 dólares por ano, disseram que $50.000 preencheriam seus sonhos, enquanto que aqueles com renda maior que $100.000 disseram necessitar de $250.000 para estarem satisfeitas. De fato, inúmeros estudos têm corroborado que os objetivos se elevam progressivamente de patamar, tão logo um nível inferior ao mesmo seja alcançado. Portanto, não é o tamanho objetivo da recompensa material que fornece o valor subjetivo da felicidade, mas, sim, sua diferença em relação ao nível de adaptação de uma dada pessoa.

           A segunda razão, estreitamente relacionada à primeira, esclarece que, recursos desigualmente distribuídos fazem com que as pessoas avaliem suas posses não em termos do que elas necessitam para viver, confortavelmente, mas em comparação àqueles que têm mais. Assim, o relativamente afluente se sente pobre em comparação com o muito rico e, como resultado, considera-se infeliz. Este fenômeno denominado de “privação relativa” parece ser relativamente universal e bem enraizado. No Brasil, bem como em muitos países desenvolvidos, a disparidade de rendas entre os mais afluentes e os demais está se tornando cada vez maior, e não soa bem para a felicidade futura da população

            Por sua vez, a terceira razão afirma que, embora ser rico e famoso possa ser recompensador, ninguém, em qualquer circunstância, tem afirmado que as recompensas materiais sozinhas são suficientes para nos fazer felizes. Condições as mais diversas, como, por exemplo, satisfação com a vida familiar, compartilhamento de amigos, tempo para reflexão e perseguição de diversos propósitos, têm estado relacionadas à felicidade. Não há, certamente, razão intrínseca para que estes dois conjuntos de recompensas – a material e a socioemocional - devam ser mutuamente exclusivos. Na prática, todavia, é muito difícil reconciliar suas demandas conflitantes. Como Herbert Simon, psicólogo laureado com o Prêmio Nobel, sinalizou “tempo é uma valiosa e escassa fonte, e sua alocação, ou mais precisamente, de atenção no transcorrer das horas, apresenta difíceis escolhas, que eventualmente determinam o conteúdo e a qualidade de nossas vidas”. Por conseqüência, isto mostra por que muitos profissionais e executivos encontram grandes dificuldades em equilibrar as demandas de trabalho e as familiares, bem como, porque raramente sentem necessidade de alterar um destes aspectos vitais.

            Vantagens materiais, não imediatamente traduzidas em benefícios sociais e emocionais, atrofiam nossa sensibilidade para outras recompensas, na medida em que investimos nossa energia mental em objetivos materiais. Amizade, arte, literatura, beleza natural, religião e filosofia se tornam menos e menos interessantes. Stephen Linder, renomado economista sueco, observou que, quando a renda e, portanto, o valor de nosso tempo aumenta, torna-se cada vez menos racional usá-lo em outra coisa além de fazer dinheiro ou gastá-lo conspicuosamente. Os custos de tempo, gastos em brincar com uma criança, ler uma poesia ou atender a uma reunião familiar, tornam-se tão elevados que ninguém se dedica ou pára para fazer tais coisas por estas, apesar de prazerosas, não serem economicamente produtivas. Entretanto, é preciso ponderar que uma pessoa que atende, apenas, às recompensas materiais, torna-se cega para qualquer outra coisa, perdendo, com isso, a habilidade para extrair felicidade de outras fontes.

            Logo, como ocorre, em geral, com qualquer outro vício, também no contexto de obtenção da felicidade as recompensas materiais, à primeira vista, enriquecem, ilusoriamente, a qualidade de vida. Devido a isso, é preciso esclarecer que “mais feliz” deve ser entendido como “melhor feliz”, ou, então, “feliz da melhor forma”. Mas, como a vida raramente é linear; em muitos casos, o que é bom em pequenas quantidades torna-se comum e, então, perigoso em grandes doses. Dada a hegemonia das recompensas materiais, no limitado repertório de nossa cultura, não é surpreendente que uma grande maioria de pessoas sinta que a única esperança para uma vida feliz é agarrar todos os bens terrenos que puderem com suas próprias mãos.

        Recompensas materiais de riqueza, saúde, conforto e fama, portanto, não depreciam a felicidade. O que ocorre é que, após um limiar mínimo – que não é estável, mas que varia com a distribuição dos recursos num dada sociedade – aquelas parecem irrelevantes. Naturalmente, muitas pessoas ainda afirmarão, de pés juntos, que se elas tivessem mais dinheiro, boa aparência e fossem afortunadas, facilmente alcançariam aquele estado elusivo. Mas felicidade é estar bem com o que se tem, e não em incessantemente perseguir, apenas, o que se almeja.

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