Proximidade afetiva e percepção do espaço
José Aparecido
23 Jun 2014 09:57
Há dados indicando que fatores psicossociais afetam a percepção do espaço, de maneira que fatores como esforço, intenções e medo influenciam nossa percepção das configurações espaciais. Escalar uma montanha torna-se mais fácil quando feito na presença de amigos, pois, o participante estima a montanha como menos inclinada e profunda neste caso. Mas, qual a relação entre proximidade afetiva e percepção de espaço entre duas pessoas? Será que o espaço percebido entre duas pessoas é reduzido quando ambas não se sentem próximas? Há duas razões para supor que a proximidade afetiva influencia estas estimativas: (1) as pessoas mantêm um espaço pessoal ao redor de si e sentem-se desconfortáveis quando alguém está fisicamente muito próximo e (2) este sentimento de desconforto é mais intenso quando as pessoas não se sentem afetivamente próximas de outras. Portanto, se espaço físico percebido depende de considerações sociais, é provável que proximidade afetiva possa influenciar o julgamento de espaço entre dois indivíduos.
Para testar esta hipótese, pesquisadores solicitaram aos participantes que imaginassem estarem passando através de um espaço entre dois colegas, cujos corpos eram representados por manequins de madeira. Estas imagens foram projetadas numa parede diante dos participantes, os quais tinham que dizer “sim” ou “não”, conforme percebiam se poderiam passar entre as duas figuras sem desviar seus ombros. Para cada julgamento, tendo que se imaginarem fazendo esta ação, a distância era ajustada entre as duas figuras para indicar a largura crítica, isto é, o menor espaço que os permitiam passar. Finalmente, os participantes estimaram o grau de afetividade em relação a cada colega (0= nenhuma a 7=intensa afetividade).
As análises revelaram correlação positiva entre pontuações de proximidade afetiva e porcentagens médias dos julgamentos do espaço de passagem. Desta forma, quanto mais próximos, afetivamente, os participantes sentiam seus colegas, tanto mais transitáveis foram, perceptivamente, os espaços entre estes. Por sua vez, quanto mais distantes, afetivamente, os participantes, maior foi o espaço requisitado para o trânsito ocorrer. Logo, os dados mostram que proximidade afetiva e percepção de espaço, entre duas pessoas, são elementos relacionáveis, fato este em acordo com a teoria da “economia da ação”, segundo a qual configurações espaciais são percebidas em relação ao potencial de ação no ambiente, bem como, aos custos a este associado.
