Psicologia da Saúde Mental (11): Desordens Alimentares

Psicologia da Saúde Mental (11): Desordens Alimentares

Todos sabemos que alimentos são essenciais para nossa existência, mas, para muitas pessoas com adequado acesso a alimentos, alimentar-se não é uma atividade simples e direta. Pessoas com desordens alimentares mostram padrões perturbados de comer, que prejudicam sua saúde ou a habilidade para esta funcionar bem. O clássico e importante manual DSM-5 descreve três desordens alimentares, a saber: anorexia nervosa, bulimia nervosa e desordem de compulsão alimentar.

            Anorexia nervosa é caracterizada por uma perseguição implacável para alcançar a magreza, bem como, por comportamentos visando alcançar tal propósito. Pacientes com anorexia nervosa estão severamente abaixo do peso. A bulimia nervosa é caracterizada por episódios recorrentes de compulsão alimentar combinada com esforços para minimizar o ganho de peso que pode advir disso. Pessoas com bulimia nervosa usualmente estão dentro do peso normal ou sobrepeso. Compulsões, de modo geral, constituem-se em elemento-chave clínico na desordem de compulsão alimentar. Todavia, nenhum esforço é feito para compensar os efeitos de consumir tanto alimento. Como resultado, pessoas com desordem compulsivo-alimentar são comumente obesas ou têm sobrepeso. As desordens alimentares são mais comuns em mulheres do que em homens, numa razão de 3/1. Elas podem se desenvolver em qualquer idade, embora emerjam, tipicamente, na adolescência ou no início da vida adulta. Anorexia nervosa usualmente inicia-se na juventude, entre 16 a 20 anos, ao passo que, a bulimia ocorre entre 21 a 24 anos. Já a desordem compulsiva alimentar, entre 30 a 50 anos.

            Ao longo da vida, a anorexia nervosa tem uma prevalência de aproximadamente 0,9% nas mulheres e 0,3% nos homens. Por sua vez, bulimia nervosa é mais comum, com prevalência de 1,5% nas mulheres e 0,5% nos homens. A desordem de compulsão alimentar é o transtorno alimentar mais comum, com uma prevalência de 3,5% nas mulheres e 2,5% nos homens. Todavia, muitas pessoas sofrem de formas menos severas de transtornos de padrões alimentares. Quais são os fatores de risco nas desordens alimentares? Fatores genéticos desempenham papel importante nas desordens alimentares, embora genes específicos não tenham sido ainda identificados confiavelmente. Os genes podem tornar algumas pessoas mais susceptíveis à compulsão alimentar ou a influências socioculturais, podendo, ainda, estarem subjacentes aos estilos de personalidade que aumentam o risco para as desordens alimentares.

            Também se conhece, da literatura científica recente, que os neurotransmissores, especialmente a serotonina, estão diretamente envolvidos nos transtornos de humor e alimentação. Estudos também têm revelado que vários fatores socioculturais estão associados no desenvolvimento dos transtornos alimentares. Por exemplo, nossa sociedade insere grande valor no “ser magro”. Os valores ocidentais associados à magreza parecem ultimamente estarem se espalhando no mundo todo. Isso certamente pode ser explicado pelo fato de desordens alimentares estarem sendo encontradas indistintamente em todo lugar. Ademais, não se pode negar que, fatores de risco individuais, tais como, internalizar o ideal da magreza, insatisfação corporal, dieta, afeto negativo e perfeccionismo têm estado implicados no desenvolvimento das desordens alimentares.

            Em relação a como as desordens alimentares podem ser tratadas, os autores do livro Abnormal Psychology (Pearson, 2021) entendem que a anorexia nervosa é muito difícil de ser manejada. Haja vista que o tratamento é longo e muitos pacientes resistem a ficar bem. O tratamento de escolha para bulimia nervosa é a terapia cognitivo-comportamental, a qual também é útil para o transtorno de compulsão alimentar. Formas de terapia interpessoal, bem como, terapia familiar, parecem, também, serem benéficas no contexto. Não podemos, todavia, nos esquecer das terapias medicamentosas acompanhadas, invariavelmente, por um profissional médico especializado. Um novo desenvolvimento no tratamento das desordens alimentares é usar uma abordagem transdiagnóstica. Terapia cognitiva-comportamental enriquecida é um exemplo disso.

 

Compartilhar: