Psicologia da Saúde Mental (12): Transtornos de Personalidade
José Aparecido
04 Ago 2022 14:12
Os traços característicos de uma pessoa, seus estilos de enfrentamento, bem como, as maneiras de interagir no ambiente social emergem durante a infância, a juventude e a vida adulta, normalmente cristalizando-se em padrões bem estabelecidos no final da adolescência e no início da vida adulta. Esses padrões constituem a personalidade de um indivíduo, isto é, o conjunto único e genuíno de traços e comportamentos que caracterizam o indivíduo. Atualmente, há uma ampla concordância entre os pesquisadores de personalidade acerca de serem cinco as dimensões cardeais (traços principais) de personalidade que podem ser usados para caracterizar uma personalidade normal. Esses cinco traços constituem o centro do modelo dos cinco fatores de personalidade, conhecidos como neuroticismo (instabilidade emocional), extroversão/introversão, aberto para experiência, agradabilidade/antagonismo e conscienciosidade.
Pessoas com desordens de personalidade têm traços inflexíveis e mal-adaptativos que são pervasivos e instáveis. Suas maneiras de perceber, pensar e comportar-se comprometem sua habilidade para funcionar efetivamente e relacionar-se com outras pessoas e com o ambiente. Elas experienciam dificuldades interpessoais, problemas com a identidade ou com o senso do ego, sendo instáveis para funcionar de maneira adaptativa. Pessoas com desordens de personalidade moderadas podem funcionar adequadamente, mas podem ser descritas por outros como difíceis, excêntricas ou difíceis de estarem junto. No outro extremo do espectro de severidade, muitas pessoas com desordens de personalidade antissocial acabam sendo aprisionadas.
No DSM-5, são descritos, com profundidade, três agrupamentos gerais de desordens de personalidade denominados Agrupamentos A, B e C. Todavia, muitos pesquisadores têm, continuamente, questionado a validade desses agrupamentos. Para detalhes, ver o livro Abnormal Psychology (Pearson, 2021). Aproximadamente, de 10 a 12% das pessoas, em geral, alcançam os critérios para, pelo menos, um traço de personalidade.
No agrupamento A, encontram-se transtornos denominados paranoide, esquizoide e esquizotípico. As pessoas neles enquadradas parecendo estranhas ou excêntricas. O transtorno de personalidade paranoide, por sua vez, traz pessoas que nos parecem suspeitas e desconfiadas, sendo igualmente comum em homens e mulheres, tendo prevalência de cerca de 1 a 2% no grupo. Pessoas com transtorno de personalidade esquizoide têm pouco interesse em desenvolver relações sociais. Não são emocionalmente expressivas, sendo vistas pelas outras como frias e distantes. A prevalência situa-se ao redor de 1%, sendo mais prevalentes em homens do que em mulheres. O transtorno de personalidade esquizotípico têm prevalência ao redor de 1%, sendo mais comuns em homens do que em mulheres. As pessoas com esse transtorno mostram formas de pensamento estranhas nas suas falas e comportamentos. Têm pensamentos “mágicos” e expressam crenças estranhas.
No Agrupamento B encontram-se os seguintes transtornos de personalidade: histriônicos, narcisistas, antissociais e desordens de personalidade borderlaine. Personalidades histriônicas são caracterizadas por busca excessiva de atenção e altos níveis de extroversão, bem como, algumas vezes, por comportamentos sedutivos e teatrais. A prevalência é um pouco maior que 1%, incidindo mais nas mulheres do que nos homens. A desordem de personalidade narcisista envolve um senso exagerado de alta importância, uma necessidade de admiração e falta de empatia para o sentimento das outras pessoas. A desordem é mais comum nos homens que nas mulheres, com prevalência de menos de 1%. Personalidade antissocial é caracterizada por comportamentos enganosos, agressivos e irresponsáveis, além de falta de respeito para com os direitos dos outros. É mais prevalente nos homens, cerca de 3%, do que nas mulheres, cerca de 1%. É muito comum em pessoas encarceradas. Desordens de personalidade borderlaine são caracterizadas por instabilidade emocional, medo de abandono, impulsividade, comportamento de automutilação e senso instável do ego. Tais desordens têm uma prevalência ao redor de 1 a 2%, suposta ser maior nas mulheres, ainda que a opinião geral a entenda igualmente distribuídas.
No Agrupamento C incluem-se desordens classificadas como evitantes, dependentes e obsessivo-compulsivas. As pessoas com estas desordens demonstram medo ou tensão, tal como ocorre nas desordens baseadas na ansiedade. Muitas delas são caracterizadas por introversão, ansiedade social e hipersensibilidade à crítica ou desaprovação. Elas também têm medo de ficarem sozinhas, acreditando que necessitam de outros para cuidar delas, com muitas tendo dificuldades em tomar decisões. No caso das com personalidade obsessivo-compulsivas, há manifestação de preocupação excessiva com ordenamento das coisas e na manutenção do controle. São frequentemente perfeccionistas, o que interfere em sua habilidade para completar projetos. Desordens de personalidade são, portanto, difíceis de serem tratadas, pelo fato de, por definição, elas refletirem estilos duradouros e pervasivos de pensamentos e de padrões de comportamentos.
