
Qual é a importância da dor experimental?
Comparação
sistemática entre dor induzida em laboratório (térmica,
mecânica, química, elétrica) e dor clínica (real), a dor experimental
atrai tanto por razões teóricas, quanto práticas. Diferindo na fonte do
desconforto, bem como, por reações afetivas e cognitivas do individuo, não
implica envolvimento psicológico nem sofrimento real para este. Durando
segundos, minutos ou, no máximo, algumas horas, bem como, uma intensidade muito
menor que a dor clínica, é, invariavelmente, muito menor do que esta, que, em
alguns casos, pode durar anos. Na dor clínica, o estímulo exato, geralmente, não
é conhecido, e, quando o é, apresenta-se de difícil manipulação, de maneira que
o experimentador, ou clínico, não tem controle direto sobre o mesmo.
Embora passível de ser manipulada para
produzir padrões de sofrimento, angústia, ansiedade, duração e nível de
intensidade, os mais similares aos que ocorrem com dor clínica, não são éticas
e nem legais. Sua indução possui vantagens ao permitir maior controle de
estímulos e condições experimentais, combinados a um cuidadoso registro das
respostas dos sujeitos/pacientes, o que não corre com dor clínica. Porém, embora
valiosas, estas diferenças fracassam por não destacarem a resposta mais
importante. Do ponto de vista psicofísico, isto se refere à natureza dos
julgamentos que aparecem nos dois contextos ou ambientes.
No ambiente clínico, além do
questionamento necessário à documentação médica, um paciente típico raramente
faz julgamento explícito sobre a intensidade de sua sensação dolorosa. Em
contraste, os estudos de laboratório de dor, quase que por definição, requerem
que o sujeito concentre-se sobre sua percepção de dor e julgue a intensidade da
mesma. Explicitamente, e, de certa forma, exclusivamente, o julgamento de
aspectos intensivos claramente distingue a dor clínica da dor induzida em
laboratório. No contexto de laboratório, é possível requerer do sujeito que ele
faça julgamentos de várias intensidades de dor, apresentadas, aleatoriamente,
em situações controladas de estimulação, enquanto, no ambiente clínico, o
sujeito julga uma dada dor, por ele percebida naquele momento.
Mesmo naquelas observações clínicas,
em que aspectos intensivos da dor são de interesse, algumas vezes, certas
medidas são obtidas indiretamente, como, por exemplo, o número de vezes que o
paciente solicita medicação, etc, no lugar de ocorrerem avaliações explícitas. Por
outro lado, resultados experimentais podem contribuir para a avaliação objetiva
e predição das reações de dor, enriquecendo-as, especialmente, no entendimento
da dor crônica.
Importa saber o fato de inúmeros
estudos estarem revelando que os mesmos fatores que modelam as respostas aos
estímulos eliciadores de dor experimental, também contribuem para a experiência
de dor clínica, como, por exemplo, maior sensibilidade à dor experimental ser
associada à maior dor clínica.