Qual é o nível ótimo de felicidade?

Qual é o nível ótimo de felicidade?

Embora muitas pessoas se considerem plenamente satisfeitas com as suas vidas, muitas ainda aspiram ser muito mais felizes. Há centenas de livros de autoajuda, palestrantes e técnicos motivacionais cujos objetivos primários são melhorar o bem-estar subjetivo. Em função destas tentativas para elevar o bem-estar, torna-se necessário questionar se ser muito mais feliz é sempre melhor. É vantajoso para a sociedade encorajar as pessoas que já são felizes a aspirarem ser ainda muito mais felizes?

Esta temática da procura do nível ótimo de felicidade não é meramente acadêmica como muito acreditam. Nos últimos anos, psicólogos e economistas têm continua e progressivamente elaborado projetos em larga-escala visando monitorar os níveis de bem-estar subjetivo ao longo do tempo. O propósito principal destes indicadores nacionais de bem-estar é possibilitar aos líderes públicos a usarem as informações sobre o bem-estar subjetivo das populações para guiar as políticas públicas. Todavia, estas propostas implicitamente trazem à tona a questão de quão felizes as nações devem ser. As políticas colocadas em prática devem confiavelmente aumentar as emoções positivas e a satisfação com a vida, mas se estas resultam em consequências negativas para os indivíduos que as vivenciam, então as mesmas efetivamente não alcançam o seu propósito original. Similarmente, os temas considerando o nível ótimo de felicidade afetam as tomadas de decisões individuais. As pessoas frequentemente tomam importantes decisões sem suas vidas (tais como: casamento, divórcio, mudança de emprego, de residência, etc.) baseadas, em parte, no nível predito de satisfação coma vida que resultam destas decisões. Entretanto, inúmeros estudos têm revelado que estas predições podem ser erradas. Será que, algumas vezes, as expectativas das pessoas em relação à felicidade não estão colocadas num patamar tão elevado que podem trazer resultados negativos para as mesmas?

Felicidade é associada a muitos resultados positivos ao longo da vida. Mas, será que ser cada vez mais feliz é sempre melhor? Emoções estiveram, certamente, envolvidas na solução de problemas específicos que os seres humanos enfrentaram ao longo de suas vidas. Por exemplo, o medo ajuda as pessoas a evitarem o perigo e as prepara para enfrentar situações estressantes, a ansiedade pode motivar as pessoas a trabalharem arduamente e a desempenharem melhor e a culpa e humilhação podem motivar as pessoas a evitarem a transgressão moral. Portanto, embora os afetos negativos sejam desagradáveis e sejam frequentemente evitados, indivíduos que vivenciam uma ausência de emoções negativas frequentemente sofrem consequências negativas.

Em adição às emoções específicas, é possível encontrar exemplos onde estados desagradáveis motivam ações benéficas. Considere, por exemplo, o domínio do trabalho. A insatisfação no emprego pode ser entendida como um sinal de que o ambiente de trabalho não se ajusta às características de personalidade e habilidades de um indivíduo. Assim, a insatisfação com o emprego pode motivar à uma mudança de emprego e aqueles que mudam de empregos usualmente vivenciam um aumento na satisfação no trabalho em função de seu novo emprego. Estes dados sugerem que indivíduos que estão insatisfeitos, mas fazem esforços para mudar as suas circunstâncias de vida podem melhor sua satisfação. Inversamente, indivíduos que consistentemente vivenciam afetos positivos e nunca vivenciam insatisfação podem ser menos prováveis a fazerem mudanças para melhorem suas circunstâncias de vida. Portanto, um nível muito alto de satisfação pode conduzir indivíduos a fracassarem em manter seu pleno potencial. Além disso, há dados revelando que sentimentos negativos podem ajudar as pessoas a lidar com problemas específicos que requerem abordagens cognitivas diferentes para alcançar uma solução ótima. Assim, há suporte para a ideia de que níveis muito elevados de felicidade podem ter efeitos negativos se eles produzem sentimentos positivos em situações onde os mesmos fornecem indícios inapropriados para pensar e agir.

Mas, em quais arenas da vida um nível ótimo de felicidade tem consequências positivas? A literatura científica revela que um nível moderado de felicidade é melhor para resultados de vida que requerem motivação para a auto realização ou melhoramento e habilidades analíticas. Estes incluem resultados em realização acadêmica, desempenho no emprego e renda. Nestes domínios uma leve insatisfação com a situação atual pode ser servir como motivação para realizar mais, aumentar a renda e obter mais educação. Do mesmo modo, dados indicam que a participação política e o engajamento cívico serão muito mais altos quando o nível de felicidade é moderado. Como a participação política é parcialmente motivada pela insatisfação com as situações políticas correntes, aqueles que estão completamente satisfeitos podem sentir pouca motivação para provocar mudança. Similarmente, o trabalho voluntário é motivado pelo desejo de melhorar o status quo. Assim, o nível ótimo de felicidade neste domínio não será o nível mais alto de felicidade, mas um nível moderado de felicidade.

Em contraste, dados também revelam que o nível ótimo de felicidade para manter relações íntimas estáveis é o nível mais alto de felicidade. Indivíduos que não estão, no momento, completamente satisfeitos com suas vidas são mais prováveis de ativamente mudá-las. Assim, pode ser que níveis mais altos de felicidade conduzem às relações sociais melhores, harmoniosas e estáveis.

A verdade é que relevante literatura científica indica que embora afetos positivos e otimismo sejam geralmente associados com resultados positivos, níveis extremos de felicidade podem ter efeitos adversos. Desta forma, a ciência revela que a relação entre felicidade e os resultados em variados domínios da vida pode não ser linear; isto é, ser muito feliz nem sempre é o melhor. “Felicidade não é ter o que você quer, mas querer o que você tem” (Schachtel, 1954, p. 37).

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