
Qual é o valor dos testes de inteligência?
O termo habilidade, semelhante ao termo inteligência, é freqüentemente utilizado de dois modos: (1º) para se referir a um domínio de tarefas, passíveis de serem bem desempenhadas, especialmente, do ponto de vista evolutivo, como, por exemplo, uma criança sendo muito mais hábil de raciocinar abstratamente, na idade de 15 do que na idade de 5 anos e (2º) para se referir às diferenças entre indivíduos em tais capacidades, como, por exemplo, uma criança de 15 anos de idade sendo mais rápida ao raciocínio abstrato do que uma outra, de idade similar. A distinção é entre “o quê” é feitobeme “quem” tem o talento de fazê-lo bem.
A pesquisa sobre “o quê” focaliza tendências típicas no desenvolvimento intraindividual ao longo do tempo, e procura analisar a competência em função de algum critério externo. A pesquisa sobre “quem” focaliza a variação da população ao redor de uma linha de base, em uma dada idade e, usualmente, baseia-se em normas etárias das habilidades, que envolve comparar um indivíduo a outros, em algum grupo de referência. Em resumo, uma abordagem estuda o elemento humano comum, enquanto que, a outra, variações deste elemento.
Entretanto, a despeito desta diferença, ambos, naturalmente, focalizam o mesmo fenômeno subjacente, isto é, algum particular continuo de competência. Testes de inteligência e similares permanecem inseridos dentro deste segundo enfoque, cuja preocupação é estudar as diferenças individuais. Assim, a questão-chave nas pesquisas sobre QI tem sido “o quê” os testes de QI dizem-nos sobre a variação humana e “o quão” útil é esta informação?”. Em verdade, tais testes podem ser úteis para muitos propósitos, sem que, para isso, conheçamos “o quê” eles medem. Exemplo disto pode ser verificado em empresas, escolas e universidades, entre outros, nos quais todos utilizam testes de habilidades para identificar quais aplicantes terão maior probabilidade de alcançar sucesso, se selecionados forem.
A utilidade diagnóstica, ou preditiva, de um teste de inteligência torna-se muito importante quando desejamos identificar crianças que não têm bom desempenho na escola sem atendimento especial. Para outros propósitos, como, por exemplo, clínicos, científicos e políticos, nós também temos de entender qual fenômeno os testes de inteligência medem. Pesquisadores, que busquem entender a natureza da inteligência, devem conhecer, ao menos, qual fenômeno, de fato, os testes medem, bem como, como eles o fazem. Isto é o que chamamos o valor preditivo de um teste.
Conhecer o que um teste de inteligência mede é muito importante para os clínicos que têm interesse em diagnosticar indivíduos e intervir em suas vidas. Isto é o que ocorre, por exemplo, com o psicólogo escolar, quando ele avalia, individualmente, estudantes que têm dificuldades em sala de aula, com o propósito de designar intervenções para amenizar tais dificuldades. A riqueza de informação sobre as fraquezas e potencialidades, obtidas desses estudantes, por meio da aplicação de testes de inteligência, em adição ao nível global do funcionamento intelectual, refletido num escore total de QI, é muito importante para o diagnóstico e tratamento de qualquer deficiência cognitiva. Não obstante, alguns críticos afirmam que inteligência nada mais é do que os testes de inteligência medem, duvidando, portanto, que inteligência possa ser mensurada e se a mesma existe.
Por sua vez, outros críticos sugerem que nós não podemos conhecer inteligência se nós não pudermos medi-la. Logo, se não podemos defini-la, também não podemos medi-la. Mas, é nosso dever lembrar que fenômenos empíricos não são definidos, apenas, por sua existência, mas, também, descrito, uma vez conhecido. Inteligência é, de fato, muito similar à temperatura, pois, nem temperatura, nem inteligência podem ser vistas, tocadas ou seguradas entre as mãos. Todavia, nós percebemos diferenças, em ambos, ao longo de nosso cotidiano, freqüentemente as experenciando como imediatas e óbvias. Assim, ainda que não a entendamos completamente, inteligência e temperatura nos afetam, independente se podemos mensurá-las ou defini-las. Nós utilizamos inúmeros descritores para elas e, até mesmo, modelamos nossa vida em função delas. Ambos os contínuos existem na natureza, prontos para serem mensurados e explicados cientificamente. Até onde conheço, não há um outro teste ou instrumento, psicológico ou comportamental, com tamanha validade, aplicabilidade, utilidade, praticidade e fidedignidade, em inúmeras arenas da vida, do que um teste de inteligência, cientificamente desenvolvido e, apropriadamente, administrado. Testes, sobre “o quê” e “como” a inteligência é mensurada, demonstram, apesar de intensa controvérsia pública, que as diferenças individuais, além de suas implicações teóricas, também apresentam grandes implicações econômicas, educacionais e sociais. De fato, diversos tipos de pesquisa têm confirmado a intuição comum de que diferenças em inteligência têm considerável importância prática em nossas vidas, seja esta individual ou coletiva.
Diversos estudos também têm identificado inteligência como um facilitador importante para aprender e raciocinar, o qual se torna muito valioso quando as tarefas de raciocinar e aprender tornam-se mais complexas. Isto significa, inversamente, que tarefas complexas impõem grandes barreiras cognitivas para indivíduos que aprendem e raciocinam precariamente. Logo, nós não podemos esperar que todos os indivíduos dominem de forma igualitária o que quer que seja, mesmo quando lhes são dados o mesmo tempo e suporte para solucioná-las. Tarefas que parecem muito simples para muitas pessoas, podem ser extremamente difíceis para outras.
Usados com habilidade e responsabilidade, os testes de inteligência produzem informações valorosas e precisas, que não estão, por qualquer outro meio, disponíveis aos administradores, clínicos e cientistas. Eles podem, sim, ser mal utilizados e, por conseguinte, mal entendidos e caluniados. Certamente, eles são “réguas” imperfeitas; mas, de longe superiores a quaisquer outras medidas aplicáveis em Ciências Sociais. Assim, se o seu uso e resultados, inúmeras vezes, causam controvérsia, é, certamente, porque eles têm desempenhado, muito bem, o seu papel, isto é, iluminado as diferenças individuais, tão importantes para nós.